O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reiterou que não aceitará qualquer cessão de território à Rússia e defendeu a participação ucraniana em qualquer negociação de paz, às vésperas de uma reunião marcada entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O encontro bilateral, confirmado por Washington e pelo Kremlin, está agendado para 15 de agosto, no estado norte-americano do Alasca, e deverá tratar do futuro do conflito iniciado com a invasão russa em fevereiro de 2022.
Em mensagem divulgada no sábado por meio do Telegram, Zelensky enfatizou que “os ucranianos não entregarão sua terra ao ocupante” e lembrou que a Constituição do país proíbe a renúncia a qualquer parte do território nacional. O chefe de Estado acrescentou que Kiev está aberta a “soluções reais” para um cessar-fogo duradouro, mas alertou que qualquer proposta elaborada sem a participação direta da Ucrânia será vista como contrária à paz.
Horas antes do anúncio oficial da reunião com Putin, Trump indicou que a resolução do conflito poderia envolver “alguma troca de territórios, para benefício de ambas as partes”. Falando na Casa Branca, o líder norte-americano observou que a região disputada tem sido palco de combates por três anos e meio, causando a morte de numerosos russos e ucranianos. Ele não apresentou detalhes sobre como seria implementada a eventual troca de áreas.
A possibilidade de concessões territoriais é rejeitada de forma consistente pelo governo ucraniano. Zelensky sustenta que qualquer acordo desse tipo premiaria Moscou pela ofensiva iniciada em 2022, contraria a legislação interna e enfraquece a segurança europeia. Embora evite críticas diretas a Trump, o presidente ucraniano deixou evidente que não aceitará soluções que violem a integridade territorial do país.
A perspectiva de um entendimento entre Washington e Moscou sem a participação de Kiev provoca preocupação não apenas na Ucrânia, mas também entre diversos aliados europeus. Desde o início da guerra, líderes da União Europeia têm defendido que as negociações de paz incluam representantes ucranianos em todas as fases, sob o argumento de que um acordo imposto externamente seria insustentável.
Nos Estados Unidos, a postura do governo em relação à Rússia tem passado por oscilações. Em meses recentes, Trump adotou tom mais duro contra Moscou e chegou a estabelecer um prazo para que Putin aceitasse um cessar-fogo sob pena de sanções adicionais. O prazo expirou sem consequências visíveis, e relatos de imprensa indicam que a Casa Branca continua disposta a discutir a cessão de territórios como parte de um pacote para interromper o conflito.
Segundo a rede norte-americana CBS News, que citou um alto funcionário do governo, ainda existe a possibilidade de implantação de algum formato que inclua Zelensky nas conversas, pois a logística da reunião permanece em definição. Contudo, fontes militares e civis ouvidas pela BBC na Ucrânia demonstram resignação com a chance de que as tratativas iniciais ocorram sem Kiev à mesa.

Imagem: bbc.com
No campo de batalha, soldados ucranianos relatam cansaço após mais de dois anos de confrontos constantes, ataques de drones e bombardeios com mísseis. Civis em cidades próximas à linha de frente também expressam desejo por um cessar-fogo, mas afirmam não aceitar acordos “a qualquer custo”. A percepção dominante é de que abrir mão de territórios conquistados à força russa não traria segurança duradoura.
Até o momento, o governo ucraniano continua a reivindicar a restauração plena das fronteiras reconhecidas internacionalmente, que incluem a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e as regiões de Donetsk, Luhansk, Zaporíjia e Kherson, parcialmente ocupadas desde 2022. Autoridades em Kiev argumentam que qualquer concessão estimularia novas ofensivas russas no futuro.
Por parte russa, o Kremlin confirmou a agenda em solo norte-americano, mas não divulgou pormenores sobre a pauta. Apesar do sinal de abertura ao diálogo, Moscou mantém presença militar nas áreas ocupadas e prossegue lançando drones e mísseis contra cidades ucranianas.
Com a reunião marcada para a próxima quinta-feira, permanece incerto se a Ucrânia participará diretamente ou se o encontro resultará em propostas concretas para interromper os combates. Enquanto isso, Zelensky reforça a mensagem de que qualquer plano duradouro de paz só será possível com a inclusão de Kiev e o respeito integral à soberania e à integridade territorial ucranianas.