Xi Jinping exibe poder militar em Pequim ao lado de Putin e Kim Jong Un
O presidente chinês, Xi Jinping, recebeu os líderes da Rússia e da Coreia do Norte numa parada militar realizada na Praça Tiananmen, em Pequim, destinada a assinalar os 80 anos da vitória chinesa sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. O desfile reuniu cerca de 50 000 espectadores e mais de 20 chefes de Estado estrangeiros.
Alinhamento simbólico de Pequim, Moscovo e Pyongyang
Momentos antes do início da cerimónia, Xi cumprimentou Kim Jong Un com um aperto de mão prolongado e, de seguida, saudou Vladimir Putin, posicionando-os depois à sua esquerda e direita no palanque principal. Foi a primeira vez que os três líderes apareceram juntos em público. A imagem surgiu horas antes de o ex-presidente norte-americano Donald Trump publicar uma mensagem a acusá-los de conspirar contra os Estados Unidos.
A disposição remeteu para 1959, quando Mao Zedong recebeu o avô de Kim e o então líder soviético Nikita Khrushchev no mesmo local. Hoje, porém, o equilíbrio de poder alterou-se: a China é a maior economia do trio, a Coreia do Norte depende do apoio de Pequim e Moscovo procura legitimidade internacional em pleno conflito na Ucrânia.
Mostruário de armamento avançado
O desfile começou com uma salva de 80 tiros de canhão, seguindo-se a passagem de colunas de tropas em passo marcado. Entre os equipamentos exibidos destacaram-se um míssil nuclear capaz de ser lançado por terra, mar ou ar, mísseis hipersónicos anti-navio, lasers de defesa antimíssil e drones submarinos e aéreos para missões de reconhecimento. Xi percorreu toda a extensão da avenida Chang’an num veículo aberto, revendo cada unidade antes da marcha.
Durante o evento, um coro uniformizado entoou o hino “Sem o Partido Comunista não há Nova China”, erguendo o punho no final de cada verso. A cerimónia terminou com o lançamento de pombas e balões sobre o centro da capital.
Mensagem de Xi Jinping e reação internacional
Na sua intervenção, Xi afirmou que a humanidade enfrenta “a escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto, ganhos partilhados ou soma zero”. Destacou ainda que a China é “uma grande nação que não se deixa intimidar por qualquer ameaça” e apelou à unidade em torno do objetivo de “rejuvenescimento nacional”.
A maior parte das capitais ocidentais não enviou representantes à parada. Em Taiwan, onde Pequim assume a intenção de reunificação, a demonstração de novas capacidades navais foi recebida com apreensão. Na Europa, o reforço da cooperação sino-russa surge num momento em que vários governos procuram formas de travar a guerra na Ucrânia.

Imagem: Internet
Contexto interno e nacionalismo
O governo chinês enfrenta atualmente uma economia em desaceleração, crise imobiliária, envelhecimento populacional e elevado desemprego jovem. Analistas estrangeiros consideram que iniciativas como o desfile podem servir para reforçar o sentimento patriótico e desviar atenções dos desafios internos, embora Pequim não tenha comentado essa leitura.
À margem do percurso principal, grupos de habitantes de Pequim reuniram-se para observar o sobrevoo da aviação militar; alguns expressaram confiança na capacidade do país para retomar Taiwan até 2035. Essa retórica, entretanto, não foi abordada oficialmente durante a cerimónia.
Reforço de alianças no Leste Asiático
Para além de Kim e Putin, estiveram presentes líderes de mais de duas dezenas de países, sinalizando a aposta chinesa num bloco alternativo à ordem internacional liderada pelos Estados Unidos. Nos dias anteriores, Xi manteve contactos com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, após Washington ter imposto tarifas de 50 % sobre importações indianas.
A parada reforça a imagem de Pequim como potência militar em ascensão e sublinha a aproximação pública entre China, Rússia e Coreia do Norte, num contexto de tensões geopolíticas crescentes. Xi Jinping mantém, assim, o foco na projeção de força externa enquanto enfrenta, no plano interno, o desafio de sustentar a confiança da população na prosperidade futura do país.