Wilma Martins: mostra revisita série Cotidiano em SP
Wilma Martins: mostra revisita série Cotidiano em SP
Wilma Martins: mostra revisita série Cotidiano em SP abre ao público na Galeria Galatea, em São Paulo, apresentando 19 trabalhos que revelam como a artista transformou tarefas domésticas em cenas de fantasia.
Wilma Martins: mostra revisita série Cotidiano em SP
Intitulada “Territórios Interiores”, a exposição percorre a produção realizada entre 1975 e 1984, período em que Wilma Martins (1934-2022) criou a série Cotidiano. Nela, pias, gavetas e tanques de lavar ganham novas camadas de significado, ocupados por onças, crocodilos e florestas que brotam sobre pratos e panelas.
A artista, nascida em Belo Horizonte e aluna de Alberto da Veiga Guignard, nunca se filiou a vanguardas específicas. Seu traço de grafite cria linhas mínimas para utensílios triviais, enquanto cores densas dão vida a paisagens que parecem escapar do plano. Essa combinação reforça o olhar feminista que emergia no Brasil na década de 1970, influenciado pela tradução de “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir.
Fernanda Morse, responsável pelo texto crítico da mostra, destaca que Wilma “capturou o zeitgeist do debate de gênero de forma sutil”. A leitura ecoa entrevista concedida pela pintora à Folha de S.Paulo em 1976, quando afirmou que “a pia pode ser um oceano” e “o telefone, um animal hostil”.
Embora tenha participado de quatro Bienais de São Paulo e da Bienal de Veneza em 1978, Wilma ficou quase trinta anos sem expor, afastamento atribuído à sua resistência ao mercado. O retorno ocorreu somente em 2013, com a retrospectiva “Cotidiano e Sonho”, no Paço Imperial, abrindo caminho para presenças na 32ª Bienal de São Paulo (2016) e em “Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985”.
Além da carreira pública, Wilma construiu móveis, redesenhou a própria casa em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e mantinha biblioteca independente da do marido, o crítico Frederico Morais. Essa autonomia se reflete nas composições arquitetônicas minuciosas vistas em Cotidiano, onde perspectiva e relevo transformam o banal em potencial de assombro.
Imagem: Galeria Galatea
“Territórios Interiores” permanece em cartaz até 25 de outubro, com entrada gratuita. A visita oferece panorama compactado, mas contundente, de uma obra que atravessa décadas sem se submeter a tendências e que segue dialogando com debates contemporâneos sobre espaço doméstico, gênero e imaginação.
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Crédito da imagem: Ding Musa/Galeria Galatea
