Vítimas de Epstein reúnem-se no Capitólio e preparam lista de cúmplices

Vítimas de Epstein reúnem-se no Capitólio e preparam lista de cúmplices

Um grupo de nove mulheres que acusa Jeffrey Epstein de abuso sexual falou esta quarta-feira nas escadarias do Capitólio dos Estados Unidos, em Washington, pedindo a divulgação integral dos documentos da investigação e anunciando a criação de uma lista confidencial com nomes de alegados cúmplices do antigo financeiro.

Sobreviventes exigem divulgação de arquivos

Lisa Phillips, uma das intervenientes, declarou que as vítimas irão “compilar confidencialmente os nomes que todos sabemos que integravam o círculo de Epstein”. A iniciativa, disse, será conduzida “por sobreviventes e para sobreviventes”, com o objetivo de pressionar as autoridades a agir. Phillips apelou ainda ao Departamento de Justiça para libertar todos os registos em seu poder, sublinhando que muitas vítimas continuam receosas de represálias caso revelem publicamente as identidades dos envolvidos.

O encontro foi promovido por dois membros do Congresso, o republicano Thomas Massie e o democrata Ro Khanna, que recolhem assinaturas para forçar uma votação destinada a obrigar o Departamento de Justiça a publicar todos os ficheiros do caso. São necessários 218 apoios; para tal, seis republicanos adicionais terão de subscrever a proposta.

Testemunhos de abuso e críticas à politização

Durante a conferência de imprensa, Marina Lacerda relatou ter trabalhado para Epstein dos 14 aos 17 anos, altura em que o milionário a considerou “demasiado velha”. Lacerda afirmou que era uma das “dezenas de raparigas” que entravam na mansão de Epstein em Nova Iorque na expectativa de ganhar 300 dólares por uma massagem, proposta que rapidamente se transformou numa situação de exploração.

Liz Stein, também queixosa e hoje mentora de sobreviventes, explicou que pretende “humanizar” quem sofreu os abusos, lamentando que o tema seja encarado como questão partidária. Na mesma linha, Annie Farmer, actualmente com 46 anos, contou que foi levada para o Novo México aos 16, juntamente com a irmã. Apesar de uma denúncia então apresentada, nada foi investigado, salientou.

Chauntae Davies respondeu a questões sobre a relação entre Donald Trump e Epstein, afirmando que o arguido se gabava da amizade com o antigo presidente e mantinha uma fotografia dos dois sobre a secretária. Questionado na Casa Branca sobre a conferência, Trump classificou o pedido de mais documentos como “uma farsa democrata que nunca acaba” e considerou que as informações já divulgadas são suficientes.

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Imagem: Internet

33 mil páginas divulgadas, mas quase todas já públicas

Na véspera do evento, o Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes revelou 33 000 páginas de material relativo ao caso, incluindo vários vídeos. De acordo com o democrata Robert Garcia, 97 % desses documentos já se encontravam no domínio público, não contendo qualquer “lista de clientes” ou elementos que reforcem a transparência.

A publicação sucede à divulgação, no mês passado, da transcrição — com 300 páginas e várias redações — da entrevista do Departamento de Justiça a Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein condenada por tráfico sexual. Maxwell indicou que, embora Trump e Epstein fossem vistos juntos em ambientes sociais, não os considerava amigos próximos.

Limitações e resistências internas

Enquanto Massie acusa a liderança republicana de proteger “pessoas ricas e poderosas” ligadas aos crimes, a Casa Branca e dirigentes do partido sustentam que a libertação integral poderá expor cidadãos inocentes. Os advogados das vítimas acrescentam que estas receiam processos judiciais ou possíveis ataques, recordando que “ninguém as protegeu da primeira vez”.

Sem consenso político e com documentos ainda sob sigilo, as sobreviventes avançam com a elaboração da sua própria lista, que deverá permanecer reservada até que se verifiquem condições de segurança para a sua divulgação. Para já, o grupo insiste na mesma reivindicação: acesso total aos arquivos oficiais, de forma a apurar responsabilidades e evitar novos episódios de impunidade.

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