Trump e Putin se preparam para encontro no Alasca sob pressão por cessar-fogo e controvérsia sobre mapa da Ucrânia

Trump e Putin se preparam para encontro no Alasca sob pressão por cessar-fogo e controvérsia sobre mapa da Ucrânia

Washington e Moscou voltam aos holofotes nesta sexta-feira (data não especificada) quando o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente da Rússia Vladimir Putin se reunirão no Alasca para discutir a guerra na Ucrânia, um possível cessar-fogo e propostas de redefinição de fronteiras.

A expectativa pública inicialmente girava em torno de um armistício imediato, defendido pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e apoiado por aliados europeus. Entretanto, declarações recentes de Trump envolvendo “trocas territoriais” provocaram apreensão em Kiev e em capitais europeias, reacendendo temores de que o encontro possa legitimar alterações forçadas no território ucraniano.

O conflito desde 2014

O atual impasse remonta a março de 2014, quando a Rússia ocupou e anexou a Crimeia após uma intervenção considerada relativamente sem derramamento de sangue. Na sequência, Moscou passou a apoiar militarmente um movimento separatista nas regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, onde o confronto permaneceu ativo por oito anos. Entre 2014 e o início de 2022, aproximadamente 14 000 soldados e civis ucranianos perderam a vida nesse front.

Em 24 de fevereiro de 2022, Putin lançou uma invasão em larga escala. Tropas russas avançaram rapidamente até os arredores de Kiev e tomaram extensas porções do sul do país, incluindo áreas significativas dos oblasts de Zaporizhzhia e Kherson. No pico da ofensiva, a Rússia chegou a controlar cerca de 27 % do território ucraniano.

Território ocupado e dinâmica atual

Dois anos e meio depois, a linha de frente sofreu oscilações relevantes. Em agosto de 2025, analistas estimam que Moscou mantém cerca de 20 % da Ucrânia. No leste, as forças russas avançam de modo lento e com elevado custo em vidas e equipamentos, enquanto Kiev realiza contra-ataques pontuais. Cartas topográficas indicam movimentações recentes nas proximidades de Dobropillya, mas ainda não está claro se se trata de uma ofensiva de grande alcance ou de uma manobra para mostrar força antes da cúpula no Alasca.

Por outro lado, o presidente Zelensky insiste em um cessar-fogo incondicional, afirmando que a Rússia usaria qualquer concessão adicional no Donbas como plataforma para ampliar ataques em direção a outras regiões. Governos europeus compartilham dessa avaliação e reforçam que um cessar-fogo seria o primeiro passo para negociações de segurança de longo prazo.

A polêmica das “trocas territoriais”

Às vésperas da reunião, Trump começou a expor a ideia de “trocar terras por paz”, sem apresentar detalhes sobre quais áreas estariam em jogo. Fontes diplomáticas sugerem que o Kremlin deseja consolidar o controle total de Luhansk e Donetsk, exigindo que Kiev ceda as parcelas que ainda detém, incluindo centros estratégicos como Kramatorsk e Slovyansk. Esses locais, defendidos por anos a um alto custo humano, representam linhas de contenção cruciais para as Forças Armadas ucranianas.

Para Moscou, a obtenção integral desses oblasts seria apresentada como vitória política e militar, especialmente após perdas significativas desde 2022. Para Kiev, a rendição de tais territórios seria politicamente tóxica e militarmente perigosa. Nesse contexto, o apelo de Zelensky por um armistício sem pré-condições se contrapõe frontalmente à exigência russa de cessão territorial.

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Imagem: bbc.com

Zaporizhzhia, Kherson e o “corredor” para a Crimeia

Nos oblasts de Zaporizhzhia e Kherson, tomados em 2022, há relatos de que Moscou estaria disposta a congelar as linhas atuais, sem avançar além do que controla. Contudo, comentários de Trump sobre “propriedades à beira-mar” levantaram especulações quanto à possibilidade de Kiev ter de entregar áreas litorâneas no mar de Azov ou no mar Negro.

Analistas observam que essa faixa costeira forma um corredor terrestre vital para ligar o território russo à Crimeia, anexada em 2014. Putin considera essa conexão estratégica inegociável e, em 2022, realizou referendos nos quatro oblasts ocupados — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — que foram amplamente condenados pela comunidade internacional como fraudulentos. A reversão desse corredor, portanto, parece improvável em curto prazo.

Perspectivas para o encontro

Em meio a posições distantes, o cenário provável para a reunião no Alasca oscila entre a tentativa de estabelecer um cessar-fogo limitado e pressões por rearranjos territoriais. Autoridades europeias e ucranianas classificam qualquer conversa sobre fronteiras como prematura enquanto os combates prosseguirem e sem garantias concretas de segurança para Kiev.

Embora Trump destaque a busca por “paz imediata”, a ambiguidade em torno das trocas territoriais gera receio de que o encontro possa legitimar avanços russos já consolidados. Por sua vez, Putin chega à cúpula interessado em formalizar ganhos, mas sob o peso de baixas elevadas e de sanções econômicas contínuas.

Com os principais atores mantendo posições rígidas sobre Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, diplomatas observam que um acordo abrangente parece distante. A curto prazo, negociadores tentarão ao menos interromper combates intensos, instituir corredores humanitários e estabelecer um mecanismo de monitoramento. Qualquer debate definitivo sobre fronteiras, no entanto, tende a ficar condicionado a garantias de segurança e ao término efetivo das hostilidades no terreno.

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