Trump envia Guarda Nacional a Washington e assume polícia local para combater crime e moradores de rua
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou na segunda-feira um “estado de emergência de segurança pública” em Washington, ordenou o envio de 800 militares da Guarda Nacional para a capital e anunciou que assumirá o comando do Departamento de Polícia Metropolitana. As medidas foram justificadas pelo governo como resposta ao que classificou de escalada de violência e de problemas relacionados à população em situação de rua.
Operação federal na capital
Segundo o Departamento de Defesa, entre 100 e 200 integrantes da Guarda Nacional estarão nas ruas em qualquer momento, reforçando centenas de agentes federais mobilizados no fim de semana. O secretário da Defesa, Pete Hegseth, informou que os militares devem estar completamente posicionados até o final da semana. A ação marca a segunda vez que Trump ativa a Guarda Nacional desde junho, quando 2 000 homens foram deslocados para Los Angeles durante distúrbios ligados a operações contra imigrantes irregulares.
Além do efetivo militar, Trump aplicará a seção de emergência do District of Columbia Home Rule Act, legislação criada em 1973 que permite ao presidente assumir a polícia local se considerar que há “condições especiais de natureza emergencial”. O dispositivo prevê que o controle direto pode durar até 48 horas sem notificação ao Congresso; após esse prazo, o Legislativo deve ser comunicado, e a intervenção não pode ultrapassar 30 dias.
Dados de criminalidade contestados
A prefeita de Washington, Muriel Bowser, do Partido Democrata, contestou a necessidade do decreto. Em entrevista, ela reconheceu um “salto significativo” nos índices de 2023, mas ressaltou que as estatísticas caíram desde então. Informações do Departamento de Polícia Metropolitana indicam que os homicídios reduziram 32 % entre 2023 e 2024, atingindo o menor patamar desde 2019, e sofreram nova queda de 12 % nos primeiros meses deste ano. O total de crimes violentos está no nível mais baixo em três décadas.
Bowser afirmou que nenhuma das condições previstas em lei para a intervenção se aplica atualmente e demonstrou preocupação com a participação de militares na aplicação de normas municipais. Mais tarde, em coletiva, classificou a decisão presidencial como “inquietante e sem precedentes”, argumentando que a percepção de insegurança do governo se baseia em experiências isoladas durante a pandemia de Covid-19.
Foco também em moradores de rua
No mesmo anúncio, Trump afirmou que pretende “eliminar favelas” e declarou que pessoas em situação de rua serão retiradas da cidade, sem especificar para onde seriam levadas. Organizações que atuam com este público reagiram. A entidade So Others Might Eat (SOME) destaca que, em 2025, o número de indivíduos sem moradia na capital é quase 20 % menor que há cinco anos. Para o presidente da ONG, Ralph Boyd, deslocar essas pessoas apenas transferiria o problema para localidades menos preparadas.
Reações políticas e populares
Do lado de fora da Casa Branca, manifestantes entoaram palavras de ordem como “hands off DC” e “protect home rule”, acusando o governo de buscar controle político e não segurança. Grupos de oposição apontam que a cidade conta com governo local eleito desde a década de 1970 e veem o movimento federal como tentativa de enfraquecer a autonomia distrital.

Imagem: bbc.com
A iniciativa ocorre em meio a publicações recentes de Trump nas redes sociais criticando a administração democrata da capital. Ele também citou agressões a servidores federais, entre eles um ex-funcionário do Departamento de Eficiência Governamental atacado na semana anterior, além de casos envolvendo parlamentares e estagiários, para sustentar a tese de ameaça à segurança nacional.
Histórico de uso da Guarda Nacional
O último emprego dos militares na capital havia acontecido em janeiro de 2021, na esteira do ataque ao Capitólio. Diferentemente daquela ocasião, a operação atual é preventiva, segundo o governo. Embora a Constituição norte-americana permita a mobilização das forças estaduais em território federal, esse tipo de decisão costuma ser raro e sensível politicamente, sobretudo em áreas que possuem governo local próprio.
Até o momento, não foi divulgado quanto tempo o policiamento federal permanecerá à frente das operações cotidianas nem qual será o custo estimado da mobilização. Caso o controle da polícia ultrapasse dois dias, o presidente terá de enviar comunicação formal ao Congresso, que poderá se manifestar sobre a manutenção ou não da intervenção.
Com a Guarda Nacional nas ruas e a polícia submetida a comando federal, a administração Trump espera apresentar resultados rápidos em índices de criminalidade e na remoção de acampamentos de moradores de rua. A prefeitura, contudo, sustenta que as ações adotadas após o pico pós-pandemia já produzem reduções significativas nas estatísticas, e promete monitorar de perto o impacto da presença militar no cotidiano da capital.
Analistas apontam que a medida deve intensificar o debate sobre a autonomia de Washington, que não pertence a nenhum estado e possui representação limitada no Congresso. Enquanto o governo federal argumenta que a intervenção é necessária para garantir segurança, autoridades locais e organizações civis veem a iniciativa como uma disputa por poder em pleno ano eleitoral.