Trump demite chefe do Bureau de Estatísticas Laborais após dados de emprego fracos e queda nos mercados

Trump demite chefe do Bureau de Estatísticas Laborais após dados de emprego fracos e queda nos mercados

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a demissão imediata da comissária Erika McEntarfer, responsável pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), órgão que publica alguns dos indicadores econômicos mais acompanhados no país. A medida foi comunicada em mensagem nas redes sociais, um dia depois de o BLS divulgar criação de apenas 73 000 vagas em julho e revisar para baixo, em 250 000 postos, os números de maio e junho.

Trump afirmou, sem apresentar provas, que a comissária manipulou dados por motivação política e disse ser necessário “ter pessoas em quem possamos confiar” nos cargos de produção estatística. O mandatário classificou os números de emprego como “falsos” e responsabilizou McEntarfer por suposta distorção.

A dispensa provocou surpresa em Wall Street e ampliou preocupações sobre possível interferência da Casa Branca na coleta e divulgação de estatísticas oficiais. Economistas advertiram que a credibilidade das séries do BLS é fundamental para empresas e investidores, além de difícil substituição por bases privadas.

O secretário do Trabalho informou, também em rede social, que o vice-comissário William Wiatrowski assumirá interinamente até a escolha de um novo titular. O Departamento do Trabalho não respondeu a pedidos de comentário adicionais.

Revisão dos dados e impacto nas projeções

O BLS revisa mensalmente seus levantamentos à medida que recebe informações adicionais das empresas. Embora ajustes de dezenas de milhares de vagas sejam comuns, a correção de julho foi considerada atípica pelo volume, porém compatível com outras evidências de desaceleração. Analistas apontam que pequenas firmas, mais vulneráveis às tarifas, costumam responder mais tarde aos questionários, o que pode ter ampliado o corte nas estimativas.

McEntarfer, funcionária pública há mais de duas décadas e confirmada quase por unanimidade pelo Senado em 2023, classificou sua passagem pelo órgão como “a honra da vida” e elogiou o trabalho dos servidores. Sem rebater diretamente as acusações, afirmou que as estatísticas produzidas pelo BLS são “vitais e importantes”.

Queda nas bolsas e escalada tarifária

A decisão de Trump coincidiu com a intensificação de sua política comercial. O governo confirmou que elevará tarifas sobre diversos produtos importados, com alíquotas variando entre 10% e 50%. Quando as primeiras medidas semelhantes foram anunciadas em abril, os índices norte-americanos chegaram a cair mais de 10% em uma semana, recuperando-se depois que parte das taxas foi adiada. Agora, a nova rodada deve levar a tarifa média dos EUA para cerca de 17%, ante menos de 2,5% no início do ano.

Os mercados reagiram negativamente. Nos Estados Unidos, o S&P 500 recuou 1,6%, o Dow Jones perdeu 1,2% e o Nasdaq, 2,2%. Na Europa, o CAC 40 em Paris caiu 2,9%, enquanto o DAX em Frankfurt cedeu 2,6% e o FTSE em Londres, 0,7%. Na Ásia, o índice de referência da Coreia do Sul caiu 3,8%, o Hang Seng em Hong Kong 1% e o Nikkei em Tóquio 0,6%.

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Imagem: bbc.com

Economistas consultados descreveram o afastamento da comissária como um sinal preocupante. Eles ressaltaram que estatísticas imparciais orientam decisões de política monetária, contratos de trabalho e investimentos. Também lembraram cortes recentes no orçamento para coleta de dados, incluindo pesquisas sobre inflação, o que, segundo especialistas, já fragilizava o sistema estatístico federal.

Cobrança ao Federal Reserve e mudança no comitê

Em meio à volatilidade, Trump voltou a criticar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, alegando que o banco central demora a reduzir os juros. Poucas horas após a divulgação do relatório de empregos, a economista Adriana Kugler, integrante votante do Comitê Federal de Mercado Aberto cujo mandato terminaria em janeiro, anunciou renúncia. A saída abre espaço para o governo indicar um novo membro, potencialmente alinhado às demandas por cortes mais rápidos na taxa básica.

A soma de dados de emprego abaixo do esperado, revisão negativa histórica, escalada tarifária e questionamentos à independência de órgãos técnicos aumentou a percepção de risco entre investidores. Para analistas de mercado, a desconfiança em relação à precisão das estatísticas pode elevar a volatilidade e dificultar o planejamento de empresas que dependem dos indicadores do BLS para decisões de produção, contratação e investimento.

Apesar das críticas, Trump reiterou que suas políticas comerciais pretendem impulsionar a manufatura doméstica e reequilibrar o comércio global. Segundo o presidente, impactos negativos iniciais nos mercados serão temporários. Economistas, entretanto, avaliam que custos adicionais para empresas e consumidores podem limitar o crescimento econômico, especialmente se acompanhados de incerteza sobre a confiança nos dados oficiais.

A Casa Branca ainda não definiu um nome permanente para comandar o Bureau of Labor Statistics. Enquanto isso, observadores do mercado seguirão atentos tanto à escolha do novo comissário quanto à próxima rodada de indicadores, considerados termômetro da saúde da economia norte-americana.

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