Trump ameaça elevar tarifas contra Índia por compras de petróleo da Rússia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende aumentar “substancialmente” as tarifas aplicadas contra a Índia em resposta ao volume de petróleo que Nova Délhi vem adquirindo da Rússia. A declaração foi publicada na segunda-feira na rede social Truth Social, plataforma na qual o líder americano acusou o governo indiano de ignorar o impacto humano da guerra na Ucrânia.
A Índia tornou-se um dos maiores compradores de petróleo russo desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia, em 2022. Com a redução das importações por parte de diversos países europeus, o mercado indiano passou a representar uma fatia relevante dos embarques de Moscou. Trump não detalhou qual percentual pretende impor, mas a ameaça ocorre poucos dias depois de Washington ter anunciado uma tarifa de 25% sobre determinados produtos indianos.
Em comunicado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Randhir Jaiswal, classificou o aviso norte-americano como “injustificado e irrazoável”. O diplomata recordou que, no início do conflito, os próprios Estados Unidos incentivaram Nova Délhi a comprar gás russo para ajudar a estabilizar o mercado global de energia, afetado pelas sanções ocidentais.
Jaiswal também argumentou que as compras indianas cresceram porque fornecedores tradicionais redirecionaram seus carregamentos para a Europa, em busca de compensar a falta de fornecimento russo na região. Segundo ele, “qualquer grande economia tomará as medidas necessárias para proteger seus interesses nacionais e sua segurança econômica”. A pasta salientou ainda que, apesar das restrições impostas a Moscou, os Estados Unidos negociaram mercadorias com a Rússia no valor estimado de US$ 3,5 bilhões no ano passado.
Na semana anterior, Trump havia classificado a Índia como “amiga”, embora criticasse o nível de tarifas aplicadas pelo país a produtos norte-americanos. Agora, o tom mudou: no novo texto, o presidente disse que os importadores indianos não apenas compram “quantidades maciças” de petróleo russo, mas revendem parte dos volumes no mercado internacional “com grandes lucros”.
Reportagem da agência Bloomberg, citando fontes a par das discussões, informou que o primeiro-ministro Narendra Modi não emitiu qualquer ordem para que as refinarias cessem as aquisições de petróleo vindo da Rússia. No sistema indiano, tanto empresas estatais quanto companhias privadas decidem onde comprar o insumo com base em preço, segurança de fornecimento e regras de exportação, sem necessidade de aval direto do gabinete de Modi.
Para Ajay Srivastava, ex-funcionário do serviço de comércio indiano e diretor do think tank Global Trade Research Initiative (GTRI), as afirmações de Trump sobre a revenda do petróleo são “equivocadas”. Ele afirmou à BBC que o fluxo comercial é público e tem sido compreendido pelos Estados Unidos desde o início. Na avaliação do especialista, ao ampliar suas compras em 2022, a Índia ajudou a evitar um choque de preços no mercado global, após as sanções ocidentais restringirem a oferta russa.

Imagem: bbc.com
Embora tenha demonstrado simpatia por Moscou ao retornar à Casa Branca em janeiro, Trump endureceu a retórica nas últimas semanas. Ele passou a questionar a disposição do presidente Vladimir Putin em negociar a paz e, na mesma mensagem de segunda-feira, referiu-se às Forças Armadas russas como “máquina de guerra russa”. O chefe da Casa Branca já ameaçou taxar severamente o petróleo e outros produtos russos caso não seja alcançado um cessar-fogo na Ucrânia até 8 de agosto.
Além da pressão sobre a Índia, Washington prepara o envio do enviado especial Steve Witkoff a Moscou ainda nesta semana. A expectativa é de que o diplomata se reúna com Putin para discutir as condições de uma eventual trégua e eventuais repercussões comerciais. O Kremlin, por sua vez, sustenta que está disposto a negociar, mas insiste que Kiev reconheça territórios ocupados pelas forças russas.
Atualmente, os Estados Unidos são o principal parceiro comercial da Índia. Qualquer aumento adicional nas tarifas pode afetar cadeias produtivas importantes para os dois lados, que incluem setores como tecnologia da informação, farmacêuticos e bens de consumo. Até o momento, porém, Washington não detalhou quais produtos poderiam ser alvo do novo escalonamento tarifário nem qual metodologia seria aplicada para calcular as sobretaxas.
No cenário interno indiano, o petróleo russo oferece vantagens de preço em relação a outros fornecedores, algo considerado crucial para conter a inflação de combustíveis e sustentar o crescimento econômico do país. Analistas lembram que, enquanto não houver sanções secundárias mais rígidas ou restrições logísticas, as refinarias locais tendem a manter a estratégia de compras diversificadas.
Especialistas em comércio internacional observam que a nova ofensiva tarifária de Trump amplia a incerteza para as empresas que dependem do mercado bilateral. Ao mesmo tempo, intensifica o debate sobre o equilíbrio entre a postura diplomática dos EUA em relação à guerra na Ucrânia e seus próprios interesses econômicos, dado o volume ainda significativo de trocas comerciais que Washington mantém com a Rússia.