Tesouro do Brasil coloca R$17,7 mil milhões em NTN-B e supera procura em 50%

Tesouro do Brasil coloca R$17,7 mil milhões em NTN-B e supera procura em 50%

O Tesouro Nacional brasileiro vendeu, esta quarta-feira, 1,5 milhão de Obrigações do Tesouro indexadas à inflação (NTN-B), arrecadando R$17,7 mil milhões num leilão extraordinário que atraiu procura 50% superior à oferta.

Procura acima do esperado

Os títulos leiloados vencem em 2040, 2050 e 2055 e foram colocados a taxas próximas de IPCA + 7,4% ao ano. Apesar de estas séries serem consideradas off-the-run — menos negociadas no mercado secundário —, a totalidade da emissão foi absorvida pelos investidores, confirmando o interesse por prazos longos mesmo em papéis de menor liquidez.

Economistas ouvidos pelo mercado classificaram o resultado como positivo, sublinhando que o montante oferecido era elevado para este tipo de instrumento, mas a procura revelou-se ainda mais expressiva. O sucesso da operação reforça a perceção de que existe procura reprimida por títulos indexados ao índice de preços, sobretudo nos vértices mais longos da curva.

Motivação técnica e impacto na liquidez

A decisão de realizar um leilão fora do calendário habitual foi justificada pela necessidade de aliviar pressões de liquidez. Participantes citam que vários dealers estavam vendidos nesses títulos, ou seja, haviam comprometido a entrega dos papéis sem os deter em carteira. A oferta extraordinária permitiu recompor posições e reduzir o risco de escassez, minimizando distorções na formação das taxas de juro.

O tamanho do lote e a escolha de vencimentos longos surpreenderam, mas fontes do mercado consideram que a operação foi solicitada por um grupo de participantes, precisamente para resolver esse desequilíbrio técnico. Ao disponibilizar novas unidades de séries pouco negociadas, o Tesouro contribuiu para estabilizar preços e assegurar maior profundidade ao mercado secundário.

Composição da dívida e tendência de emissão

Nos últimos 12 meses, as NTN-B representaram cerca de 20% das colocações de dívida pública brasileira, totalizando perto de R$287 mil milhões. Ainda assim, a preferência do Tesouro tem recaído sobre Letras Financeiras do Tesouro (LFT), indexadas à taxa Selic, que corresponderam a 45% do total emitido no período. Letras do Tesouro Nacional (LTN), de juro prefixado, ficaram com 27%, enquanto as NTN-F, também prefixadas mas com cupão semestral, representaram 8%.

A aposta recente em maior volume de títulos indexados à inflação acompanha a procura de investidores institucionais por proteção contra o aumento de preços, num contexto em que as expectativas inflacionistas permanecem elevadas. Ao mesmo tempo, emissões mais longas ajudam a alongar o perfil da dívida, reduzindo a necessidade de refinanciamento em horizontes curtos.

Reação do mercado e perspetivas futuras

Gestores de fundos e analistas consideram que o êxito da emissão fortalece a posição do Tesouro para futuras operações, oferecendo sinal de confiança aos investidores e comprovando a capacidade do Governo em absorver volumes relevantes sem pressionar em demasia as taxas.

Embora o leilão tenha sido motivado por razões técnicas, a forte procura sugere que existe espaço para novas emissões de NTN-B em vencimentos longos, sobretudo caso o mercado continue a exigir instrumentos de cobertura inflacionista. A concretizar-se, estas emissões poderão contribuir para diversificar a base de investidores e diluir riscos de concentração em títulos atrelados à taxa básica de juro.

Especialistas salientam, contudo, que a sustentabilidade desse apetite dependerá da evolução da política fiscal e da trajetória inflacionista. Manter expectativas ancoradas e sinalizar compromisso com metas orçamentais será determinante para preservar a confiança que ditou o resultado deste leilão extraordinário.

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