Tesla encerra Dojo e concentra investimento no novo supercluster Cortex
A Tesla decidiu terminar o desenvolvimento do supercomputador Dojo, projeto anunciado em 2019 para treinar redes neuronais do sistema Full Self-Driving (FSD). A empresa canaliza agora os recursos para o cluster Cortex, instalado na Gigafábrica de Austin, que já inclui cerca de 50 000 GPUs Nvidia H100.
Dojo: de promessa revolucionária a caminho sem saída
A primeira referência pública a Dojo surgiu em abril de 2019, durante o “Autonomy Day”, quando Elon Musk descreveu a máquina como essencial para atingir condução totalmente autónoma. O plano previa um supercomputador equipado com chips D1 concebidos pela própria Tesla, capazes de processar enormes volumes de vídeo enviados pelos automóveis da marca.
Entre 2019 e 2023, a empresa divulgou vários marcos: apresentação do chip D1, publicação de um white paper técnico, instalação do primeiro armário de testes e arranque da produção limitada em julho de 2023. Musk estimou investir mais de mil milhões de dólares no projeto até final de 2024 e avançou que o sistema poderia tornar-se um serviço comercial, à semelhança do modelo AWS.
Apesar das metas ambiciosas, Dojo enfrentou atrasos e forte dependência de hardware externo. A procura global por GPUs dificultou o aprovisionamento previsto e vários relatórios internos reconheceram que a plataforma ainda não superava o desempenho dos servidores Nvidia.
Ascensão do Cortex e mudança de estratégia
Perante a pressão para acelerar o treino do FSD, a Tesla iniciou em 2024 a construção do Cortex, um novo supercluster baseado integralmente em GPUs Nvidia H100/H200. O módulo, instalado na extensão sul da Gigafábrica do Texas, entrou em operação no final desse ano com aproximadamente 50 000 unidades, permitindo a formação do modelo FSD v13.
Durante a apresentação de resultados de 2024, o diretor financeiro Vaibhav Taneja revelou que os investimentos acumulados em infra-estrutura de IA ascenderam a cinco mil milhões de dólares e que o capex previsto para 2025 se manteria estável. A empresa projecta escalar a capacidade de treino para o equivalente a 90 000 GPUs H100 até ao fim de 2025.
Encerramento formal do Dojo
No início de agosto de 2025, notícias apontaram a saída de perto de 20 engenheiros da equipa Dojo para criar a start-up DensityAI. Dias depois, a Tesla confirmou a desativação do projeto e a dissolução da equipa liderada por Peter Bannon. Elon Musk justificou a decisão numa série de publicações na rede X: “Não faz sentido dividir recursos em duas arquiteturas de chip diferentes”.

Imagem: Internet
Segundo Musk, a próxima geração de processadores internos — designada AI6 — será “excelente para inferência e suficientemente boa para treino”, tornando redundante o desenvolvimento paralelo de Dojo 2 e Dojo 3. O executivo acrescentou que “todos os esforços” passam a estar concentrados nesses novos circuitos, a fabricar pela Samsung num acordo avaliado em 16,5 mil milhões de dólares.
Implicações para o Full Self-Driving e projetos futuros
A mudança implica a atualização do hardware de bordo nos veículos da marca. Musk admitiu em julho de 2024 que os carros equipados com a plataforma HW4/AI4 poderão não dispor da potência necessária para o próximo modelo de IA, cerca de cinco vezes mais exigente em parâmetros. A empresa planeia introduzir a unidade AI5 em produção elevada dentro de 18 meses e migrar, posteriormente, para AI6.
Com o foco no Cortex e nos chips AI6, a Tesla pretende acelerar o treino de redes neuronais para FSD e para o robô humanoide Optimus. O objetivo declarado mantém-se: oferecer condução autónoma que supere a segurança humana em mais de dez vezes.
Calendário chave
2019 – Tesla anuncia Dojo no “Autonomy Day”.
2021 – Apresentação do chip D1 e previsão de sete clusters Exapod.
2023 – Início da produção limitada; anúncio de investimento superior a mil milhões de dólares.
2024 – Lançamento do Cortex com 50 000 GPUs; FSD v13 treinado no novo cluster.
2025 – Desativação do Dojo; contrato de 16,5 mil milhões de dólares com a Samsung para fabricar chips AI6.
Ao concentrar-se numa única arquitetura e num supercluster já operacional, a Tesla procura mitigar atrasos e custos, reforçando a infraestrutura necessária para escalar a condução autónoma e outros projetos de inteligência artificial.