Telefone fixo volta à rotina familiar para proteger crianças
Telefone fixo volta à rotina familiar para proteger crianças
Telefone fixo volta à rotina familiar para proteger crianças em um movimento que se espalha pelos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, impulsionado pelo temor de que o uso precoce do celular prejudique o bem-estar emocional de crianças e adolescentes.
Preocupação com a infância hiperconectada reacende tecnologia clássica
Nos últimos quatro anos, relatos de pais nas redes sociais transformaram o antigo aparelho com fio em símbolo de resistência à hiperconexão. A mobilização ganhou força após o lançamento, em 2024, do livro “A geração ansiosa”, do psicólogo Jonathan Haidt, que relaciona tempo de tela excessivo a quadros de ansiedade, depressão e automutilação em jovens.
Inspirada pela obra, a norte-americana Caron Morse criou o grupo Landline Kids em South Portland, Maine. Em apenas dois meses, cerca de 20 famílias da vizinhança adotaram o telefone fixo para que as crianças se comuniquem sem a mediação de smartphones. Hoje, a organização orienta novas comunidades interessadas no modelo.
O fenômeno não ficou restrito a iniciativas locais. Em Seattle, a startup Tin Can Kids desenvolveu aparelhos coloridos que custam em média US$ 75 e já captou quase US$ 3 milhões em investimentos. Embora o design remeta à brincadeira de latas ligadas por barbante, a tecnologia interna usa chips de telefonia móvel ou conexão Wi-Fi para garantir qualidade de chamada.
Benefícios apontados por especialistas
Para Jonathan Haidt, o retorno ao fixo estimula “uma infância de verdade”. A psiquiatra Nina Ferreira, da clínica LuxVia, reforça que adiar o primeiro contato com smartphones até a adolescência favorece a maturação do córtex pré-frontal, região ligada ao controle de impulsos. “Com personalidade mais sólida, o risco de dependência digital cai consideravelmente”, afirma.
Além de reduzir distrações, o telefone fixo exige que as crianças memorizem números e pratiquem habilidades sociais, como cumprimentar os pais do amigo antes de prosseguir com a ligação. Segundo artigo de Emma Brockes no The Guardian, essas pequenas interações fortalecem empatia, concentração e capacidade de escuta.

Imagem: Tin Can Kids
Desafios também existem. Organizações como a New Canaan Unplugged, de Connecticut, sugerem que os pais criem situações para ensinar a discagem e regras de etiqueta. Nas primeiras tentativas, é comum que a criança fale alto demais ou pergunte “onde você está?”, desconhecendo o conceito de linha fixa. Com prática, a adaptação ocorre rapidamente e os adultos deixam de atuar como “telefonistas” dos filhos.
O consenso entre especialistas é que a abordagem coletiva facilita o sucesso. Em ambientes onde colegas compartilham o mesmo modelo de comunicação, o sentimento de exclusão diminui e a experiência se torna positiva para todos.
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Crédito da imagem: instagram @landlinekids