STF julga Bolsonaro por tentativa de golpe com risco de mais de 40 anos de prisão

STF julga Bolsonaro por tentativa de golpe com risco de mais de 40 anos de prisão

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia esta terça-feira o julgamento do ex-Presidente Jair Bolsonaro e de outros sete antigos membros do seu governo por alegada tentativa de golpe de Estado para travar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. O processo está agendado para cinco sessões, distribuídas entre 2 e 12 de setembro.

Quem são os arguidos e como decorre o julgamento

Para além de Bolsonaro, sentam-se no banco dos réus três generais do Exército — Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto —, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência Alexandre Ramagem, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. A Procuradoria-Geral da República (PGR) classifica o grupo como «núcleo crucial» de uma trama destinada a anular o resultado eleitoral.

As sessões do STF dividem-se em três momentos: sustentações orais da acusação e da defesa, leitura dos votos para condenação ou absolvição e, caso haja condenação, definição das penas. Todas as defesas rejeitam as imputações.

Cinco crimes em análise

O Ministério Público lista cinco infrações penais.

Organização criminosa: segundo a denúncia, Bolsonaro liderou um grupo estruturado com divisão de tarefas e acesso a armas de fogo. A Lei n.º 12.850/2013 prevê reclusão de três a oito anos, agravada quando há comando e armamento.

Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito: tipificada no artigo 359-L do Código Penal, a conduta é punida com quatro a oito anos de prisão por tentativa de impedir o funcionamento dos poderes constitucionais.

Tentativa de golpe de Estado: articulada, segundo a acusação, para impedir a investidura de Lula. A pena varia entre quatro e 12 anos de reclusão.

Dano qualificado ao património da União: relacionado aos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, ainda que Bolsonaro se encontrasse no exterior na data. O crime prevê detenção de seis meses a três anos e multa.

Deterioração de património tombado: igualmente associado à destruição de bens históricos durante as invasões de janeiro. A Lei n.º 9.605/1998 estabelece reclusão de um a três anos e multa.

Penas podem ultrapassar quatro décadas

Somadas as molduras máximas, o ex-chefe de Estado arrisca mais de 40 anos de prisão, sobretudo por ser apontado como líder da alegada organização criminosa. A legislação brasileira, contudo, limita o cumprimento efetivo a 40 anos e permite progressão de regime consoante o comportamento do condenado, antecedentes e actividades dentro do estabelecimento prisional.

Ligação aos actos de 8 de janeiro

A PGR sustenta que os ataques às instalações do Palácio do Planalto, Congresso e STF foram fomentados pelo mesmo grupo, com prejuízos superiores a 20 milhões de reais. Para o procurador-geral Paulo Gonet Branco, a suposta omissão de autoridades na segurança pública vincula os réus aos danos causados, apesar de estes não estarem fisicamente presentes.

Próximos passos

Se a maioria dos ministros do STF votar pela condenação, o tribunal fixará as penas em sessão própria. Eventuais recursos poderão ser apresentados, mas não suspendem automaticamente a execução das decisões. Caso as sentenças ultrapassem oito anos, o início do cumprimento dar-se-á em regime fechado.

O desfecho do processo terá impacto directo na elegibilidade dos arguidos e poderá marcar novo capítulo na responsabilização de agentes públicos por ataques às instituições democráticas no Brasil.

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