Startups de fusão nuclear captam mais de 100 milhões e aceleram corrida à energia limpa

Startups de fusão nuclear captam mais de 100 milhões e aceleram corrida à energia limpa

A procura de fontes energéticas quase ilimitadas impulsionou uma vaga de investimento recorde em empresas de fusão nuclear. Vários projectos privados já ultrapassaram a barreira dos 100 milhões de dólares, sinalizando um novo momento para uma tecnologia que, durante décadas, parecia eternamente distante.

Avanços técnicos sustentam o interesse dos investidores

Três factores técnicos reforçam o entusiasmo actual: processadores mais potentes, algoritmos de inteligência artificial mais sofisticados e ímanes supercondutores de alta temperatura. A combinação permite simulações mais detalhadas, controlo de plasma em tempo real e reacções mais estáveis, aproximando a fusão da viabilidade comercial.

Maiores rondas de financiamento

Entre as empresas que mais atraíram capital destaca-se a Commonwealth Fusion Systems (CFS), responsável por cerca de um terço do investimento privado total no sector. O último aumento, fechado em Agosto, acrescentou 863 milhões de dólares e elevou o financiamento acumulado para quase 3 mil milhões. A CFS está a construir o Sparc, um tokamak que deverá entrar em funcionamento entre o final de 2026 e o início de 2027, antes de avançar para a central comercial Arc, planeada para a Virgínia com 400 MW de potência.

A TAE Technologies, nascida em 1998 na Universidade da Califórnia, adoptou uma configuração de plasma invertida e já reuniu 1,79 mil milhões. A ronda mais recente, de 150 milhões, contou com Google, Chevron e New Enterprise Associates.

Com o calendário mais ambicioso do grupo, a Helion pretende injectar electricidade na rede em 2028 e tem a Microsoft como primeiro cliente. A empresa de Everett, Washington, captou 425 milhões em Janeiro de 2025, totalizando 1,03 mil milhões.

Também nos Estados Unidos, a Pacific Fusion surpreendeu ao garantir 900 milhões logo na Série A. O plano passa por confinamento inercial usando 156 geradores Marx sincronizados para produzir 2 TW durante 100 ns.

A Shine Technologies segue uma estratégia gradual: vende serviços de testes de neutrões e isótopos médicos enquanto desenvolve competências para um futuro reactor. A empresa soma 778 milhões.

Do lado canadiano, a General Fusion levantou 462,5 milhões desde 2002 para o seu conceito de fusão por alvo magnetizado, mas enfrentou dificuldades em 2025, cortando 25 % do quadro e recorrendo a financiamento de emergência de 22 milhões.

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Imagem: Getty

O Reino Unido conta com a Tokamak Energy, que compacta o tradicional tokamak para reduzir custos. Após um protótipo que alcançou 100 milhões °C em 2022, a empresa arrecadou 125 milhões em Novembro de 2024 e prepara o Demo 4.

Outra norte-americana, Zap Energy, foca-se no confinamento por corrente eléctrica e já levantou 327 milhões. Entre os investidores constam Breakthrough Energy Ventures e Chevron Technology Ventures.

Na Europa continental, a Proxima Fusion apostou em stellarators e garantiu 185 milhões, enquanto a alemã Marvel Fusion juntou 161 milhões para um sistema de confinamento inercial baseado em lasers e estruturas de silício.

A britânica First Light deixou o objectivo de produzir energia em Março de 2025 para se converter em fornecedora de tecnologia, após captar 140 milhões. Já a norte-americana Xcimer quer um laser de 10 MJ — cinco vezes o do National Ignition Facility — e assegurou 109 milhões desde 2022.

Modelos de reactor variam, mas o objectivo é comum

As abordagens técnicas incluem tokamaks compactos, configurações de plasma invertido, confinamento inercial por laser ou pulsos electromagnéticos, stellarators e sistemas de correntes auto-confinadas. Todas procuram superar dois marcos: breakeven científico (já atingido em laboratório) e breakeven comercial, quando a central produzirá mais energia do que consome.

Com compromissos de compra de grandes clientes — como Google e Microsoft — e prazos que apontam para a segunda metade da década, o sector da fusão privada ganhou dinamismo sem precedentes. Ainda assim, os valores de investimento, embora significativos, representam apenas uma fração do capital necessário para construir centrais comerciais em escala. A capacidade de cada empresa cumprir os marcos técnicos determinará se o actual entusiasmo se traduzirá numa nova era energética ou numa nova ronda de desafios financeiros.

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