Startup espanhola testa cápsula para reentradas orbitais mais baratas
A Orbital Paradigm, jovem empresa sedeada em Madrid, prepara-se para lançar a sua primeira cápsula de reentrada espacial dentro de três meses, com o objetivo de reduzir custos e democratizar o retorno de cargas da órbita terrestre.
Projecto aposta em cápsulas leves e reutilizáveis
Fundada em 2023 pelos engenheiros aeroespaciais Francesco Cacciatore e Víctor Gómez García, a Orbital Paradigm angariou 1,5 milhões de euros em financiamento inicial junto dos fundos Id4, Demium, Pinama, Evercurious e Akka. Com uma equipa de apenas nove pessoas e um investimento inferior a um milhão de euros na fase de desenvolvimento, a empresa concluiu a construção da KID, uma cápsula de teste com cerca de 25 kg e 40 cm de diâmetro, sem sistema de propulsão.
O veículo foi concebido para demonstrar que é possível efectuar reentradas orbitais com orçamentos reduzidos, oferecendo à indústria uma solução para enviar materiais ao espaço, expô-los a microgravidade durante curtos períodos e recuperá-los várias vezes por ano. Segundo Cacciatore, entidades académicas e empresas de biotecnologia necessitam de efectuar entre três e seis voos anuais para validar produtos desenvolvidos em ambiente de ausência de peso.
Lançamento inaugural já tem três clientes confirmados
A missão de estreia transportará cargas da francesa Alatyr (robótica espacial), da Universidade Leibniz de Hanôver (Alemanha) e de um terceiro cliente que prefere manter o anonimato. O voo será efectuado por um operador de lançamento não divulgado. Após a separação do foguetão, a KID deverá transmitir dados em órbita e enfrentar as altas temperaturas da reentrada hipersónica. Não está previsto recuperar a cápsula; o objectivo é confirmar a integridade estrutural até ao impacto numa zona remota e comprovar a viabilidade técnica do conceito.
O segundo ensaio está marcado para 2026. Nessa ocasião, a empresa utilizará uma versão reduzida da futura cápsula reutilizável Kestrel, já equipada com propulsão e pára-quedas. A aterragem está planeada para os Açores, aproveitando a infra-estrutura que a Agência Espacial Portuguesa está a desenvolver no arquipélago. O voo consistirá num curto arco suborbital de cerca de 30 minutos em microgravidade, permitindo a recuperação do veículo e das cargas a bordo.

Imagem: Internet
Concorrência global acelera soluções de retorno orbital
O interesse crescente pelo regresso de materiais fabricados em microgravidade está a atrair diferentes actores. Em 2024, a norte-americana Varda Space Industries conseguiu a primeira reentrada comercial bem-sucedida; na Europa, a The Exploration Company realizou um teste controlado no mesmo ano. Nos Estados Unidos, programas de defesa têm apoiado projectos de reentrada com financiamentos não dilutivos, vantagem que, de acordo com Cacciatore, não existe na Europa. Essa realidade levou a Orbital Paradigm a focar-se desde o início em contratos comerciais capazes de gerar receita.
Próximos passos e metas de longo prazo
Depois de validar a tecnologia com a KID, a empresa planeia lançar versões maiores da Kestrel, concebidas para missões orbitais completas e recuperáveis. A ambição é oferecer voos regulares que possibilitem a investigação em biotecnologia, desenvolvimento de novos fármacos e fabrico de materiais avançados em ambiente de microgravidade. Cacciatore reconhece, contudo, que o ensaio inaugural será decisivo: “Até voarmos, não provámos nada. As palavras contam pouco; o voo é o teste final.”
Se o calendário se mantiver, a missão prevista para o final do verão poderá confirmar a proposta da Orbital Paradigm: uma alternativa europeia, leve e acessível para reentradas comerciais, respondendo à procura de mercados que exigem frequentes idas e regressos ao espaço.