SpaceX instala fábricas de combustível para sustentar até 120 voos anuais da Starship
A SpaceX iniciou a construção de infra-estruturas próprias de produção de propelente com o objetivo de reduzir a dependência de fornecedores externos e viabilizar um ritmo de lançamentos da Starship que pode chegar a 120 missões por ano a partir da Florida e a 25 a partir do Texas.
Autossuficiência energética no complexo Starbase
O primeiro passo decorre no sul do Texas, onde a empresa de Elon Musk já ergue uma unidade de separação de ar a norte das plataformas da Starbase. O complexo, situado junto à localidade de Boca Chica e que acolhe cerca de 500 residentes entre trabalhadores e familiares, passará a produzir oxigénio e azoto líquidos no próprio local. O processo envolve a captação, condensação e fracionamento do ar atmosférico, conduzindo os dois gases criogénicos por uma tubagem de 300 metros até aos reservatórios instalados junto às torres de lançamento.
Além de oxigénio e azoto, a Starship requer metano para alimentar os propulsores Super Heavy. Para eliminar o trânsito diário de mais de 200 camiões-cisterna vindos de refinarias afastadas, a empresa pretende construir uma usina de síntese de metano adjacente aos locais de lançamento. O projeto cobre uma área de 8,5 hectares, dos quais 7,3 correspondem a terreno pantanoso a apenas 400 metros do Golfo do México.
Um aviso público emitido pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos abriu um período de consulta à comunidade sobre o impacto ambiental da expansão. Além das fábricas, o plano inclui novos tanques de armazenamento, plataformas de preparação de foguetões, vias internas e um muro de segurança em torno da zona de lançamento.
Estratégia replicada na Costa Espacial da Florida
Na base de Cape Canaveral, a SpaceX recebeu autorização preliminar da Administração Federal de Aviação (FAA) para operar até 120 voos anuais da Starship. Para suportar esse ritmo, a empresa estuda uma solução de produção de metano distinta da aplicada no Texas. O documento de impacto ambiental em discussão prevê um sistema de pré-tratamento que filtrará o gás natural entregue por camião, removendo impurezas antes de gerar metano de alta pureza. Depois de arrefecido, o combustível será bombeado diretamente para os depósitos da Starship.
A proposta não contempla, para já, uma unidade de separação de ar na Florida. O excedente de gás natural seria utilizado em processos internos de geração de energia ou libertado de forma controlada. Já os gases residuais de azoto, oxigénio e árgon regressariam à atmosfera, segundo o rascunho da FAA.
Logística e impacto operacional
Sem fábricas próprias, cada lançamento da Starship exige um fluxo constante de camiões-cisterna para abastecimento de metano, oxigénio líquido e azoto líquido — uma operação dispendiosa, complexa e sujeita a constrangimentos de transporte. Ao internalizar a produção de fluídos criogénicos, a SpaceX pretende:

Imagem: Findaview
• Reduzir custos operacionais e dependência de terceiros;
• Acelerar a cadência de abastecimento entre voos;
• Mitigar riscos de atrasos logísticos;
• Diminuir o trânsito pesado nas estradas próximas às bases.
A autossuficiência energética é considerada fundamental para cumprir a meta de reutilização rápida da Starship, peça-chave nos planos da empresa para transportar carga e, futuramente, passageiros para a órbita terrestre, Lua e Marte.
Próximas etapas
Os projetos permanecem sujeitos a avaliações ambientais federais e a eventuais ajustamentos de engenharia. Caso os pareceres sejam favoráveis, a SpaceX ficará equipada para produzir localmente os principais componentes do propelente, reforçando a capacidade de concretizar um calendário de lançamentos sem precedentes na indústria aeroespacial.
A aprovação definitiva poderá transformar tanto a Starbase como a Costa Espacial da Florida em polos de produção criogénica integrados, reduzindo significativamente o impacto logístico de cada missão e aproximando a empresa do objetivo de tornar o voo espacial de alta frequência uma realidade comercial.