Sismo de 6,0 provoca mais de 800 mortos no leste do Afeganistão
Um terramoto de magnitude 6,0 atingiu o leste do Afeganistão pouco antes da meia-noite de domingo, causando pelo menos 800 vítimas mortais, segundo estimativas preliminares das Nações Unidas. O epicentro localizou-se numa zona montanhosa a cerca de 16 km da província de Kunar, mas o abalo foi sentido em larga escala, desde a capital Cabul até Islamabad, no Paquistão.
Provincias de Kunar e Nangarhar entre as mais afetadas
Os maiores danos concentram-se nas províncias de Kunar e Nangarhar. Várias aldeias ficaram parcialmente ou totalmente arrasadas, com construções de adobe a ceder quase de imediato à força das ondas sísmicas. Na localidade de Andarlachak, as equipas de socorro contabilizaram 79 mortos, muitos deles crianças, encontradas por profissionais de saúde que prestavam assistência na via pública.
As dificuldades de acesso agravaram o impacto. Estradas bloqueadas por queda de rochas obrigaram os moradores a percorrer vários quilómetros a pé para alcançar pontos mais seguros ou solicitar ajuda. A falta de infra-estruturas adequadas nesta região montanhosa prolongou o tempo de resposta das equipas de emergência.
Resgates condicionados pelo terreno e falhas nas comunicações
Com vários troços rodoviários intransitáveis, as autoridades de facto mobilizaram helicópteros para transportar feridos até à principal via de Kunar, onde ambulâncias realizaram o encaminhamento para unidades de saúde. No entanto, aldeias localizadas a cinco ou seis horas de caminhada continuam isoladas, e há relatos de pessoas que morreram soterradas enquanto aguardavam resgate.
A instabilidade do solo provocou sucessivos abalos secundários; testemunhas referem terem sentido pelo menos 17 réplicas ao longo da madrugada. A rede móvel colapsou logo a seguir ao sismo, comprometendo o contacto entre habitantes e familiares. A eletricidade também falhou em vários distritos, deixando a população dependente da iluminação dos telemóveis durante as primeiras horas de escuridão.
Relatos de sobreviventes evidenciam quadro de devastação
Em Asadabad, um residente relatou ter evacuado a casa com 23 familiares assim que as paredes começaram a tremer. Passaram a noite no exterior, receosos de novos desabamentos. Ao amanhecer, avançou para as zonas mais atingidas, percorrendo parte do percurso a pé. Chegado a Andarlachak, ajudou na escavação de covas para vítimas locais, descrevendo um cenário de silêncio absoluto: «Os rostos cobertos de pó, ninguém conseguia falar».
Noutro ponto, em Sokai, um pai de família contou que parte da sua habitação ruiu enquanto todos dormiam. O pânico instalou-se com os gritos de crianças, mulheres e animais. Ventos fortes e chuva ligeira agravaram a sensação de calamidade. Segundo o mesmo testemunho, o comércio permaneceu encerrado durante todo o dia seguinte e o ambiente de luto estendeu-se a toda a comunidade.

Imagem: Internet
Necessidades imediatas e resposta humanitária
Centenas de famílias pernoitam ao relento, sem tendas nem cobertores suficientes. As equipas médicas tratam ferimentos em condições improvisadas, muitas vezes em plena rua. A prioridade passa por restabelecer vias de comunicação, garantir abrigo e assegurar o transporte de feridos graves para hospitais de maior capacidade.
A ONU acompanha a situação, mas a geografia montanhosa e a escassez de meios complicam a distribuição de ajuda humanitária. Organizações locais apelam ao envio urgente de tendas, medicamentos e alimentos não perecíveis, alertando para a possibilidade de subidas no número de vítimas à medida que mais aldeias forem alcançadas.
Contexto sísmico da região
O Afeganistão situa-se numa zona de convergência entre as placas tectónicas da Índia e da Eurásia, propensa a atividade sísmica frequente. Construções tradicionais em adobe, comuns nas áreas rurais, oferecem pouca resistência a tremores de terra, aumentando a vulnerabilidade das populações. O incidente de domingo reforça a necessidade de programas de construção resiliente e melhor preparação para catástrofes naturais.
Enquanto prosseguem os resgates, as autoridades locais, equipas de socorro e agências internacionais mantêm o foco na localização de possíveis sobreviventes e na assistência aos milhares de desalojados que enfrentam agora noites ao ar livre, temperaturas baixas e a incerteza de novos abalos.