Pesquisa identifica cinco sinais que podem anteceder o diagnóstico de esclerose múltipla em até 15 anos

Uma investigação conduzida por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, indica que determinados problemas de saúde mental e manifestações neurológicas inespecíficas podem surgir até 15 anos antes da forma clássica de esclerose múltipla (EM). O estudo, publicado no periódico JAMA Network Open, analisou 25 anos de registros de atendimento e concluiu que fadiga, dores de cabeça, tontura, ansiedade e depressão aparecem com frequência elevada em pacientes que mais tarde recebem o diagnóstico da doença.

A esclerose múltipla é uma condição neurológica crônica que afeta aproximadamente 3 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativa da Sociedade Nacional de EM. Caracteriza-se por processos inflamatórios que comprometem o sistema nervoso central e costumam provocar fraqueza muscular, distúrbios de visão, dormência, instabilidade de marcha e alterações cognitivas. Apesar da diversidade de sinais clínicos, reconhecer a doença precocemente continua sendo um desafio, pois grande parte dos sintomas iniciais também é comum em outras condições.

Metodologia e população estudada

Para mapear a possível fase prodrômica — período em que a patologia já se desenvolve sem manifestar sinais típicos — os autores avaliaram prontuários de 12.220 indivíduos atendidos ao longo de um quarto de século nos sistemas de saúde da Colúmbia Britânica. Desse total, 2.038 pessoas receberam posteriormente o diagnóstico de esclerose múltipla. O levantamento comparou a frequência de consultas médicas por queixa inespecífica, visitas a especialistas e registros de sintomas nos dois grupos analisados.

As informações reunidas formam a meta-análise mais extensa realizada até o momento sobre o tema. Pesquisas anteriores haviam examinado intervalos de cinco a dez anos antes do diagnóstico; agora, o recorte chega a 15 anos, ampliando a compreensão sobre quando o processo patológico pode se iniciar.

Padrões identificados antes do diagnóstico

Os resultados mostram uma escalada gradual de atendimentos e sintomas ao longo dos anos que antecedem a confirmação clínica da doença:

15 anos antes: cresce o número de consultas médicas gerais, com registro frequente de fadiga, tontura, dores de cabeça, ansiedade e depressão.

12 anos antes: intensifica-se a procura por psiquiatras, sugerindo agravamento de transtornos de saúde mental.

Até 9 anos antes: aumentam as consultas a neurologistas e oftalmologistas, indicando que alterações neurológicas ou visuais começam a chamar atenção.

De 3 a 5 anos antes: observa-se salto nas idas a serviços de emergência e na realização de exames de radiologia, possivelmente motivados por sintomas agudos ou mais incapacitantes.

1 ano antes: há pico de atendimento em pronto-socorro, além de visitas frequentes a neurologistas e solicitações de exames de imagem, momentos em que os sinais clássicos de esclerose múltipla normalmente passam a ser reconhecidos.

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Imagem: noticiasaominuto.com.br

Cinco indicadores precoces principais

Entre todos os achados, os pesquisadores destacam cinco manifestações que se mostraram particularmente associadas ao período prodrômico da doença:

  • Fadiga persistente;
  • Dores de cabeça recorrentes;
  • Tontura ou vertigem;
  • Ansiedade;
  • Depressão.

Esses sintomas não são exclusivos de esclerose múltipla, mas a ocorrência combinada — especialmente quando acompanhada de aumento nas consultas médicas ao longo de vários anos — pode representar um sinal de alerta sobre processos neurológicos em curso.

Repercussão e possíveis implicações

Segundo os autores, compreender que a esclerose múltipla pode ter início muito antes dos sinais neurológicos clássicos amplia a janela para intervenção e rastreamento. A identificação da fase prodrômica cria oportunidade para adotar estratégias de monitoramento em pacientes com quadro persistente de fadiga, cefaleia e alterações de humor, por exemplo, o que pode acelerar o diagnóstico definitivo e o início do tratamento.

Na prática clínica, ainda não existe protocolo estabelecido para triagem de esclerose múltipla baseado nesses sintomas inespecíficos. Contudo, os dados reforçam a necessidade de atenção redobrada a histórico de saúde mental e a queixas neurológicas leves quando persistem ou se intensificam ao longo do tempo. A equipe da UBC destaca que mais estudos são necessários para definir biomarcadores ou exames que confirmem a relação entre esses sinais iniciais e o desenvolvimento posterior da doença.

Embora não haja cura para esclerose múltipla, intervenções precoces com medicamentos imunomoduladores podem retardar a progressão e reduzir surtos inflamatórios. Dessa forma, reconhecer indícios antes da fase clínica clássica tem potencial para melhorar prognóstico, qualidade de vida e planejamento terapêutico dos pacientes.

O trabalho contou com participação de especialistas do Centro Djavad Mowafaghian para Saúde Cerebral e comparou o padrão de atendimento de pessoas com e sem esclerose múltipla ao longo de décadas. As conclusões sugerem que transtornos de saúde mental aparecem como alguns dos marcadores mais precoces, três a quatro anos antes de qualquer aumento significativo em queixas neurológicas específicas.

Os autores ressaltam que, embora haja sobreposição de sintomas com diversas doenças, o mapeamento desses padrões pode auxiliar médicos de atenção primária, psiquiatras e neurologistas a considerar a hipótese de esclerose múltipla com maior antecedência, permitindo exames complementares e acompanhamento sistemático dos casos suspeitos.

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