Sete medos universais afetam a saúde mental e podem limitar escolhas
A psicologia identifica sete medos comuns a pessoas de todas as idades e culturas. Quando persistentes ou intensos, esses receios podem provocar ansiedade, depressão e interferir nas decisões do dia-a-dia, alerta a doutora em Psicologia Blenda Oliveira, da PUC-SP.
O impacto emocional de cada medo
Medo do fracasso — O receio de errar ou não corresponder a expectativas está associado a padrões de perfeccionismo e autoexigência. Segundo a psicologia cognitiva, a preocupação constante em evitar falhas pode gerar procrastinação, baixa autoestima e quadros depressivos.
Medo da rejeição — Estudos de neurociência mostram que ser rejeitado ativa áreas cerebrais semelhantes às da dor física. A necessidade de pertença torna este medo especialmente sensível; quando exacerbado, leva à evitação de relações ou a dependência emocional.
Medo de decepcionar os outros — Viver para satisfazer pais, parceiros ou chefes cria uma sensação de inadequação permanente. O esforço contínuo para corresponder a expectativas externas impede a expressão autêntica de desejos e limites.
Medo da solidão — Sentir-se só difere de estar fisicamente só. A sensação de ausência de ligação significativa pode aumentar o risco de depressão e ansiedade social, sobretudo quando o medo se torna crónico.
Medo de mudanças — Quebrar rotinas é interpretado pelo cérebro reptiliano como ameaça. Mesmo alterações que prometem benefício geram desconforto, podendo manter a pessoa em situações insatisfatórias durante anos.
Medo da desaprovação — A crítica pública, amplificada pelas redes sociais, intensifica a vigilância sobre o próprio comportamento. Este medo tende a surgir com baixa autoestima e pode conduzir a isolamento ou autocensura.
Medo da morte ou de perder quem se ama — Considerado o receio mais universal, influencia escolhas, valores e estilo de vida. Em casos extremos, manifesta-se como pânico, hipocondria ou fobias específicas.
Quando o medo deixa de ser protetor
Blenda Oliveira explica que o medo, em níveis moderados, é um mecanismo de sobrevivência essencial. Torna-se problemático quando passa a limitar escolhas, provocar sofrimento desproporcional ou desencadear sinais físicos como insónia, taquicardia e dificuldade de concentração.

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Entre os fatores que agravam esses receios estão experiências de rejeição precoce, ambientes de alta cobrança e exposição constante a parâmetros de sucesso irreais, especialmente nas redes sociais. A especialista destaca que a pandemia reforçou vários destes medos, ao sublinhar a incerteza e a finitude.
Estrategias de gestão emocional
O primeiro passo, segundo a psicóloga, é reconhecer que sentir medo é humano. Observar a frequência, a intensidade e o impacto desses sentimentos ajuda a distinguir entre um alerta saudável e um padrão disfuncional.
A psicoterapia oferece técnicas para ressignificar crenças e desenvolver recursos emocionais. Intervenções cognitivo-comportamentais, por exemplo, trabalham a identificação de pensamentos automáticos negativos e a exposição gradual a situações temidas.
Práticas complementares incluem exercícios de respiração, atividade física regular e manutenção de redes de apoio. Em casos de ansiedade severa ou depressão, pode ser necessária avaliação psiquiátrica para eventual prescrição de medicação.
Por que compreender estes medos é relevante
Conhecer a origem e a função de cada medo facilita respostas adaptativas. Entender que a rejeição ativa mecanismos biológicos de dor, por exemplo, ajuda a colocar a emoção em perspetiva e a procurar estratégias de pertença saudáveis. Já reconhecer o medo da mudança como reflexo do instinto de autopreservação permite preparar transições de forma gradual, reduzindo o stress.
Blenda Oliveira sublinha que o objetivo não é eliminar o medo, mas impedir que ele determine escolhas. Trabalhar a autocompaixão e estabelecer limites realistas são passos fundamentais para uma relação mais equilibrada com estes estados emocionais.