Sementes de morango brasileiras seguem para experimento de uma semana na Estação Espacial Internacional

Sementes de morango brasileiras seguem para experimento de uma semana na Estação Espacial Internacional

A missão Crew-11, operada pela NASA em parceria com a SpaceX, decolou às 12h43 (horário de Brasília) desta sexta-feira, 1º de março, levando quatro astronautas e uma série de experimentos científicos à Estação Espacial Internacional (ISS). Entre os materiais embarcados na cápsula Dragon estão sementes de morango, orquídeas e grama que serão analisadas por pesquisadores brasileiros.

A carga botânica faz parte do programa World Seeds, coleção que reúne amostras de 11 países distribuídos pelos cinco continentes. A organização da remessa foi conduzida pela Jaguar Space, empresa responsável por integrar e enviar os tubos de pesquisa. Convidada pela companhia, a Rede Space Farming Brazil encaminhou o material sem custos adicionais.

Formada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), a Rede funciona como um laboratório de inovação focado em agricultura em ambientes extremos. O envio desta sexta-feira marca a primeira participação do grupo em um experimento realizado a bordo de uma estação espacial.

De acordo com a Embrapa, a seleção das espécies obedeceu ao interesse nacional e às restrições de volume impostas pelo módulo de carga. Cada lote precisou caber em um tubo de apenas oito centímetros de altura e 1,2 centímetro de diâmetro, espaço insuficiente para outros materiais inicialmente planejados, como sementes de grão-de-bico e mudas de batata-doce.

Sem tempo hábil para preparar novas amostras, os pesquisadores recorreram ao banco de germoplasma da Universidade da Flórida, instituição que mantém acordo de cooperação com a Embrapa. As sementes de morango fornecidas pela universidade apresentam características consideradas estratégicas para a fruticultura brasileira.

O Brasil depende atualmente de mudas importadas para expandir a produção de morango, o que eleva custos e dificulta a oferta interna. A exposição das sementes às condições de microgravidade poderá provocar mutações capazes de aumentar rendimento, tolerância a estresses e qualidade dos frutos em cultivos terrestres.

Além dos morangos, seguem no mesmo compartimento sementes de duas espécies de orquídea — Epidendrum nocturnum e Dendrophylax porrectum — e da gramínea Paspalum notatum, conhecida pela resistência em solos pobres. O conjunto permanecerá cerca de uma semana no laboratório orbital e retornará na nave que trará de volta a tripulação da Crew-10.

Durante o período em órbita, as amostras estarão sujeitas a radiação cósmica, microgravidade e variações térmicas típicas do ambiente espacial. Os fatores combinados podem alterar metabolismo, expressão gênica e estrutura das sementes, oferecendo pistas para o desenvolvimento de cultivos adaptados a condições extremas tanto fora quanto dentro da Terra.

Quando a carga pousar novamente em solo terrestre, os cientistas da Rede Space Farming Brazil farão análises de germinação, crescimento e perfil genético. O objetivo é verificar se ocorreram mudanças benéficas para a agricultura brasileira e avaliar a viabilidade de levar variedades nacionais a futuras missões de longa duração.

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Imagem: SpaceX via olhardigital.com.br

A participação no World Seeds também pretende fortalecer a cooperação internacional em segurança alimentar. Ao integrar a coleção com representantes de vários continentes, o Brasil compartilha conhecimento e recebe dados que podem acelerar pesquisas sobre produção de alimentos em locais com recursos limitados, como bases lunares, colônias em Marte ou regiões áridas do próprio planeta.

A decolagem da Crew-11 estava originalmente marcada para quarta-feira, 28 de fevereiro, mas foi adiada por condições meteorológicas desfavoráveis no Centro Espacial Kennedy, na Flórida. A nova tentativa, bem-sucedida, ocorreu dois dias depois, utilizando um foguete Falcon 9 reutilizável.

O cronograma prevê o acoplamento da cápsula à ISS no sábado, 2 de março. Logo após a ancoragem, os tripulantes iniciarão a transferência da carga científica para os módulos de pesquisa do complexo orbital, onde outras experiências de cultivo já vêm sendo conduzidas desde 2002.

A Estação Espacial Internacional opera como laboratório em microgravidade, permitindo estudos impossíveis em solo firme. Resultados obtidos ali já contribuíram para avanços em genética vegetal, nutrição e sistemas hidropônicos fechados, tecnologias consideradas fundamentais para futuros voos de longa duração.

Com a inclusão das sementes brasileiras, a Embrapa vislumbra acelerar o desenvolvimento de variedades mais produtivas e adaptáveis, reduzindo a dependência de importações e ampliando a competitividade do país no mercado mundial de frutas. Paralelamente, a experiência reforça a presença nacional no cenário aeroespacial e estimula novas parcerias entre ciência agrícola e exploração espacial.

Os dados obtidos com o retorno da carga devem ser compartilhados com universidades, centros de pesquisa e produtores interessados, estabelecendo uma ponte direta entre conhecimento gerado em órbita e aplicação prática no campo brasileiro.

A expectativa da Rede Space Farming Brazil é que a missão abra caminho para envios regulares de sementes e mudas em próximas oportunidades, permitindo uma avaliação contínua dos efeitos espaciais sobre diferentes culturas estratégicas para a segurança alimentar e o agronegócio nacional.

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