A segunda-feira, 11 de agosto, começa com uma agenda carregada de dados econômicos, compromissos de autoridades e divulgação de resultados corporativos, além da expectativa pelo anúncio do plano de contingência que o governo prepara para enfrentar a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Pela manhã, o mercado acompanha três indicadores nacionais: o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a primeira prévia de agosto do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) e a atualização semanal do Relatório Focus, publicado às 8h25 pelo Banco Central. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulga, ainda, o resultado da balança comercial na primeira semana do mês.
Enquanto os números são apresentados, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, faz palestra das 10h30 às 12h na Reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo. À tarde, ele recebe executivos do Goldman Sachs das 14h às 15h, reúne-se com Rodrigo Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, das 15h às 16h, e encontra-se com João Carlos Falpo Mansur, da REAG Investimentos, das 16h30 às 17h30. Entre 18h e 19h, Galípolo recebe representantes da Febraban e dos principais bancos para tratar de assuntos institucionais.
No Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém série de reuniões. Às 9h, despacha com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira; às 9h30, com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; e às 14h40, com o secretário especial para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Marcos Rogério de Souza. Às 15h, participa da cerimônia de entrega do Prêmio MEC da Educação Brasileira. O compromisso mais aguardado do dia ocorre às 17h, quando Lula recebe o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para discutir o plano de contingência destinado a mitigar os efeitos da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos. Alckmin afirmou que as medidas serão divulgadas até terça-feira, 12 de agosto. Em função desse encontro, o lançamento do Programa de Qualificação para Exportação, que ocorreria hoje, foi adiado.
As ações do governo respondem à decisão do ex-presidente Donald Trump de elevar em 40 pontos percentuais as tarifas já existentes, formando uma sobretaxa total de 50%. Levantamento da Folha de S.Paulo indica que mais da metade das exportações de 22 estados pode ser afetada, com Tocantins, Ceará e Paraná entre os mais expostos. A indústria de transformação é apontada como o segmento que pode sofrer retração de até 5,6 pontos percentuais no Produto Interno Bruto, segundo estudo do Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, que estima perda potencial de US$ 40,4 bilhões na economia brasileira em 12 meses.
Para compensar parte dessas perdas, a Embaixada da China reforçou compras de itens como café e carne, enquanto a ApexBrasil intensifica campanhas para ampliar a presença de produtos brasileiros naquele mercado. O assessor especial Celso Amorim destaca que a estratégia se integra ao diálogo dentro dos BRICS para reduzir a dependência das vendas aos Estados Unidos, embora as trocas com a China ainda sejam dominadas por commodities.
No exterior, a segunda-feira tem agenda leve de indicadores, mas os investidores já miram dados relevantes que serão divulgados ao longo da semana: Índice de Preços ao Consumidor (CPI) norte-americano na terça-feira, Índice de Preços ao Produtor (PPI) na quinta e vendas no varejo na sexta. Também seguem as negociações entre Washington e Pequim sobre tarifas que têm implementação prevista para amanhã, com possibilidade de nova prorrogação de 90 dias.

Imagem: REUTERS via infomoney.com.br
Além do front comercial, a política internacional acompanha a cúpula marcada para sexta-feira entre Donald Trump e Vladimir Putin, voltada a discutir o fim da guerra na Ucrânia. No ambiente corporativo dos Estados Unidos, Nvidia e AMD concordaram em repassar 15% da receita gerada com vendas de chips na China ao governo norte-americano para garantir licenças de exportação dos modelos H20 e MI308, respectivamente, medida que despertou críticas sobre riscos à segurança nacional.
No Brasil, empresas de diversos setores apresentam resultados do segundo trimestre de 2025. Estão na lista Dexxos, Direcional Engenharia, Even, Ferbasa, Natura, SBF, Tok&Stok, Hidrovias do Brasil, Itaúsa, Quero-Quero, Sabesp, Technos, Terra Santa e Vibra Energia. Os números serão acompanhados pela avaliação do Banco Central sobre as perspectivas de juros. O diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, reafirmou que a Selic, atualmente em 15% ao ano, deve permanecer nesse patamar por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta de 3%.
Na cena política, o Itamaraty e a Secretaria de Relações Institucionais repudiaram declaração do vice-secretário do Departamento de Estado dos EUA, Christopher Landau, que acusou um ministro do Supremo Tribunal Federal de concentrar poderes. O governo brasileiro classificou a manifestação como ataque à soberania do país, que, segundo a nota oficial, não aceitará pressões externas.
Outro ponto em debate é o avanço da pejotização. Investigação do Ministério do Trabalho apura empresas que exigem de empregados a abertura de CNPJ para reduzir encargos trabalhistas. Estudo da Fundação Getulio Vargas mostra que profissionais com maior escolaridade tendem a ganhar mais como pessoas jurídicas, mas o modelo diminui arrecadação de INSS e FGTS. O Supremo Tribunal Federal suspendeu processos sobre o tema e realizará audiência pública antes de um novo posicionamento.
Com a combinação de dados econômicos, decisões de política pública e balanços corporativos, o mercado acompanha atentamente os próximos passos da equipe econômica e do Banco Central, além do anúncio do plano que pretende amortecer os impactos da tarifa norte-americana sobre setores mais expostos à exportação.