Robôs magnéticos testados no Canadá dissolvem cálculos renais sem cirurgia

Robôs magnéticos testados no Canadá dissolvem cálculos renais sem cirurgia

Uma equipe internacional liderada pela Universidade de Waterloo, no Canadá, avalia um método minimamente invasivo que utiliza microrrobôs para dissolver cálculos de ácido úrico no trato urinário. A iniciativa, que conta com a participação de urologistas espanhóis, busca oferecer alternativa a pacientes que apresentam pedras recorrentes ou não toleram bem medicamentos convencionais nem procedimentos cirúrgicos.

O projeto baseia-se em tiras flexíveis de aproximadamente um centímetro de comprimento, comparadas visualmente a pequenos fios de “espaguete”. Cada tira contém fragmentos de ímã e é revestida com a enzima urease, capaz de reduzir a acidez da urina ao redor do cálculo. Quando o pH aumenta, as pedras começam a se dissolver até atingirem tamanho suficiente para serem eliminadas naturalmente em poucos dias, segundo os coordenadores do estudo.

Modelo impresso em 3D permite simulações em laboratório

Para testar o funcionamento do sistema, os pesquisadores imprimiram em 3D um modelo em escala real das vias urinárias humanas. No experimento, um braço robótico controlado por profissionais de saúde posiciona as tiras magnetizadas próximo aos cálculos. A movimentação é guiada por campos magnéticos externos, o que possibilita alcançar regiões específicas sem a necessidade de incisões.

Os testes realizados em laboratório indicaram que a estratégia acelera a quebra de cálculos de ácido úrico, tipo responsável por parte significativa dos atendimentos de emergência em urologia. Atualmente, segundo a equipe, não existe terapia farmacológica eficaz que atue diretamente na dissolução desse tipo de pedra, e os procedimentos disponíveis envolvem medicação prolongada, litotripsia ou cirurgias repetidas.

Motivação clínica

Estimativas globais indicam que uma em cada oito pessoas desenvolverá cálculo renal ao longo da vida. Além de dolorosos, esses depósitos sólidos costumam reaparecer, exigindo acompanhamento frequente. Os responsáveis pelo estudo apontam que pacientes com infecções crônicas, restrições ao uso de fármacos ou limitações para se submeter à anestesia podem se beneficiar de abordagens menos invasivas como a microrrobótica.

O trabalho também pretende reduzir o tempo de alívio da dor. Ao acelerar a dissolução das pedras, espera-se diminuir o período de cólicas intensas, sangramento urinário e outros sintomas associados. Os investigadores projetam que a liberação acelerada dos fragmentos reduz a permanência do paciente no hospital e melhora a qualidade de vida durante a recuperação.

Próximas etapas do desenvolvimento

Concluída a fase inicial em laboratório, o grupo planeja avançar para testes em modelos animais de maior porte. A expectativa é aperfeiçoar o controle do braço robótico por meio de um ímã motorizado de precisão milimétrica. Outra meta é integrar um painel de ultrassom em tempo real, permitindo aos médicos acompanhar a localização dos cálculos e dos robôs durante o procedimento.

Robôs magnéticos testados no Canadá dissolvem cálculos renais sem cirurgia - Imagem do artigo original

Imagem: Universidade de Waterloo via olhardigital.com.br

Embora ainda não exista cronograma para estudos clínicos em humanos, os pesquisadores afirmam que a simplicidade do sistema — tiras biocompatíveis, ímãs externos e enzimas amplamente disponíveis — pode facilitar a transição para ensaios hospitalares, desde que sejam preenchidos requisitos regulatórios de segurança e eficácia.

Formação e prevenção dos cálculos

Cálculos renais são formações endurecidas que se desenvolvem nos rins ou nas vias urinárias a partir da cristalização de substâncias presentes na urina. O Ministério da Saúde aponta fatores como predisposição genética, volume inadequado de líquidos, dieta rica em sal ou proteína animal, sedentarismo e obesidade entre as principais causas.

Outros fatores de risco incluem clima quente, exposição prolongada ao calor, alterações anatômicas do trato urinário, obstruções, hiperparatireoidismo, imobilização por longos períodos e doenças inflamatórias intestinais, a exemplo da Doença de Crohn. O sintoma mais comum é a dor lombar que irradia para o abdômen e a virilha, muitas vezes acompanhada de náuseas, vômitos, sangue na urina e necessidade frequente de urinar.

Médicos recomendam como medidas preventivas a ingestão abundante de água e sucos naturais, a redução do consumo de sal, o controle da ingestão de proteínas animais e a prática regular de atividade física. Mesmo com essas orientações, parte dos pacientes continua apresentando recorrência de cálculos, cenário que impulsiona a busca por soluções tecnológicas como a desenvolvida em Waterloo.

Se confirmada a eficácia em estudos futuros, a plataforma de microrrobôs magnéticos poderá se integrar ao arsenal terapêutico urológico, oferecendo procedimento ambulatorial com menor tempo de recuperação e redução do número de intervenções cirúrgicas em grupos de risco.

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