Regras mais rígidas reforçam sector das fintechs, defende CEO da Adyen
A intensificação do controlo regulatório no Brasil, desencadeada por recentes ataques cibernéticos e pela Operação Carbono Oculto da Polícia Federal, é vista pela Adyen como um passo necessário para fortalecer todo o ecossistema de meios de pagamento. A posição foi avançada por Thais Fischberg, responsável pela fintech holandesa na América Latina, durante entrevista a diversos meios.
Segurança em destaque após desvio de R$ 710 milhões
O alerta soou no final de agosto, quando a invasão ao sistema da Sinqia resultou no desvio de cerca de R$ 710 milhões de contas do HSBC e da fintech Artta. A poucos meses de distância, outra falha nos sistemas da C&M Software já tinha permitido o roubo de aproximadamente R$ 1 milhão.
Fischberg sublinha que o episódio abalou a confiança do utilizador, mas admite que os incidentes funcionaram como catalisador para acelerar medidas de proteção. «Precisamos demonstrar ao cliente que existe fiabilidade», afirmou. A executiva recordou ainda o ataque sofrido pela própria Adyen na Europa, em abril. Segundo a empresa, a tentativa limitou-se a degradação de performance e não houve transferência de fundos.
Receita Federal obriga fintechs a reportar operações
Em 28 de agosto, a Receita Federal decidiu equiparar as obrigações de reporte das fintechs às dos bancos tradicionais. A partir de agora, todas as transações dos clientes terão de ser comunicadas trimestralmente através do sistema e-Financeira. Além disso, as empresas deverão reforçar processos de governação e compliance.
Para a CEO da Adyen, o endurecimento de regras «vai deixar todos os players mais robustos». A responsável acredita que apenas as organizações dispostas a investir em segurança e transparência permanecerão no mercado.
Plataforma própria como diferencial competitivo
Fischberg destaca que a Adyen opera com plataforma tecnológica proprietária, o que lhe garante «controlo de ponta a ponta» sobre as operações. A infraestrutura interna, defende, facilita testes de resiliência e permite responder de forma mais célere a falhas ou tentativas de intrusão.
Questionada sobre a hipótese de a empresa se transformar num banco digital no Brasil, a executiva afastou essa possibilidade. «Somos uma organização B2B e continuamos focados em credenciação de pagamentos», esclareceu.

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Resultados e prioridades na América Latina
No primeiro semestre de 2025, a Adyen registou receitas de 59,7 milhões de euros na América Latina, mais 17 % do que em igual período de 2024. A região — com destaque para Brasil e México — representa atualmente entre 5 % e 7 % do volume global da empresa.
A expansão local assenta sobretudo no Pix, que já é o terceiro método de pagamento alternativo da Adyen a nível mundial. Em junho, o serviço passou a integrar a modalidade «Pix recorrente», permitindo cobranças automáticas. Segundo Fischberg, a funcionalidade deverá impulsionar novos contratos com empresas que procuram soluções de débito regular sem a necessidade de cartão de crédito.
Mercado criminóso mais sofisticado exige resposta coletiva
A dirigente admite que o crime digital se torna «cada vez mais sofisticado» e defende um esforço conjunto entre regulador, bancos incumbentes e fintechs para elevar o grau de proteção. «Não é o momento de um contra o outro. É hora de agir em conjunto para garantir mais controlo», resumiu.
Mesmo com o aumento das exigências de reporte, a CEO prevê que o cliente final tire proveito de melhores práticas de segurança e de maior transparência sobre custos. «O sector precisa reeducar-se; quem aceitar esse desafio sairá fortalecido», concluiu.