Raízen encerra parceria com a Femsa e assume 1 256 lojas Shell Select
Raízen, controlada pelos grupos Cosan e Shell, decidiu terminar a joint venture que mantinha com a Femsa para o segmento de lojas de conveniência e de proximidade. O acordo, fechado por mútuo consentimento, redistribui os activos entre as duas partes sem qualquer compensação financeira.
Divisão dos activos: Shell de um lado, Oxxo do outro
Nos novos termos, a Raízen passa a controlar 1 256 unidades das marcas Shell Select e Shell Café. Estas lojas continuarão integradas à rede de postos Shell através de um modelo próprio de franquia. Já a Femsa fica responsável por 611 mercados de proximidade Oxxo e pelo centro de distribuição localizado em Cajamar, no interior de São Paulo, assumindo ainda as dívidas e o caixa disponíveis na operação conjunta.
Apesar do fim da sociedade, o antigo veículo conjunto, Grupo Nós, manterá serviços de abastecimento e logística para o portefólio de produtos actualmente oferecido às lojas Shell Select e Shell Café dentro da sua área de cobertura.
Estratégia de desalavancagem da Raízen
A decisão insere-se no plano de simplificação de portefólio e redução de dívida da Raízen. No primeiro trimestre da safra 2025/2026, encerrado em Junho, a empresa registava dívida líquida de 49,2 mil milhões de reais, o que corresponde a uma alavancagem de 4,5 vezes. Desde o início do ano, o programa de desinvestimentos da companhia soma mais de 4,2 mil milhões de reais.
O maior movimento nesse processo ocorreu a 29 de Agosto, com a venda das usinas Rio Brilhante e Passa Tempo, em Mato Grosso do Sul, à Cocal Agroindústria por 1,54 mil milhões de reais. O montante inclui 1,32 mil milhões referentes aos activos industriais e 218 milhões relativos à transferência de cana própria e contratos com fornecedores.
Objectivos da Femsa para a Oxxo no Brasil
Para a Femsa, a Oxxo é considerada prioritária na estratégia de retalho. A empresa enxerga no mercado brasileiro — marcado por grande dimensão e forte fragmentação — uma oportunidade significativa de expansão. Segundo o CEO da Femsa Retail, José Antonio Fernandez Garza, o grupo pretende acelerar a abertura de novas lojas, adaptar o formato às preferências locais e garantir rentabilidade a longo prazo. A primeira unidade brasileira da Oxxo foi inaugurada em Campinas, em Dezembro de 2020; à data, a rede já contava com mais de 18 000 pontos de venda na América Latina.
Imagem: Internet
Contexto da joint venture e reacção do mercado
A parceria entre Raízen e Femsa começou em 2019, quando cada grupo adquiriu 50 % do Grupo Nós. Na época, a divisão de conveniência da Raízen foi avaliada em 1,12 mil milhões de reais. Desde então, as duas empresas procuravam sinergias entre a experiência da Raízen em combustíveis e a expertise da Femsa em retalho. Com a dissolução agora concluída, cada parte retoma o controlo directo dos seus formatos preferenciais.
Após o anúncio preliminar, as acções da Raízen subiram 4,96 % no pregão de 3 de Setembro, embora registem queda de 41,2 % no acumulado do ano. Os títulos da Femsa, por sua vez, recuaram 3,74 % na bolsa de Nova Iorque, conferindo à empresa uma capitalização de mercado de 34,9 mil milhões de dólares.
Ao concentrar-se nos negócios considerados estratégicos, a Raízen procura ganhar agilidade na implementação da chamada «Oferta Integrada Shell» e libertar recursos para abater dívida. A Femsa, por outro lado, aposta em construir uma operação escalável da Oxxo no Brasil, reforçando a presença da marca num dos maiores mercados de retalho do mundo.
