Queda nos casamentos expõe mudanças na vida a dois; psicóloga detalha seis pilares para relações duradouras
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que os brasileiros têm se casado menos e por períodos mais curtos. A trajetória descendente aparece com clareza a partir de 2015 e segue até 2023. Em 2021, foram formalizadas 1.076.280 uniões civis. O total recuou para 970.041 em 2022 e chegou a 940.799 em 2023, queda de 3% em relação ao ano anterior.
O estudo também mostra que a duração média dos casamentos diminuiu. Em 2010, as uniões duravam cerca de 16 anos. Entre 2022 e 2024, a média ficou em 13 anos e oito meses, indicando encurtamento de quase dois anos e meio no intervalo de uma década e meia. Diante desse quadro, ganham relevância os fatores que contribuem para a estabilidade conjugal.
Para a doutora em psicologia pela PUC-SP e psicanalista Blenda Oliveira, o significado do casamento mudou profundamente nas últimas décadas. Segundo ela, há meio século a permanência no matrimônio estava associada a questões de sobrevivência econômica, convenções sociais e dependência financeira das mulheres. Hoje, com maior independência e com a afetividade ocupando posição central, sustentar a relação se tornou um processo mais complexo e sujeito a novas demandas.
Blenda identifica seis aspectos que, quando observados pelo casal, favorecem um vínculo saudável. A especialista enfatiza que não há fórmula única, mas que esses pontos funcionam como referências para que cada parte reconheça seu papel na construção do cotidiano.
1. Compatibilidade psicológica
Compartilhar pensamentos, sentimentos e dificuldades sem medo de retaliação é considerado fundamental. Quando um dos parceiros sente necessidade de se proteger ou silenciar, aumenta a distância emocional, o que compromete a confiança e a proximidade.
2. Capacidade de convivência a dois
A transição da vida solteira para uma rotina compartilhada exige ajustes. Decisões que antes eram individuais passam a envolver a perspectiva do outro. Conhecer preferências, formas de receber afeto e necessidades de segurança ajuda na organização diária e reduz atritos.
3. Grau de consenso
Visões de mundo idênticas não são obrigatórias, mas algum alinhamento em valores, prioridades e planos facilita escolhas complementares. Se cada pessoa optar repetidamente por caminhos opostos, os conflitos tendem a se acumular e desgastar a relação.

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4. Atração e vida sexual
A sexualidade costuma ter grande peso nas fases iniciais, mas permanece relevante ao longo do tempo. A intensidade pode se transformar, porém a manutenção do desejo e de momentos de intimidade reforça a conexão e a satisfação conjugal.
5. Ciclos de vida, pressões e frustrações externas
Trabalho, família, estudos e outros desafios individuais afetam o cotidiano do par. Reconhecer essas pressões, apoiar metas pessoais e acolher frustrações permite que cada um se desenvolva sem que o vínculo seja colocado em segundo plano. A especialista sugere que o casal funcione como um ponto de referência seguro onde ambos possam se recompor.
6. Vantagens de permanecer juntos
Pessoas tendem a ficar onde percebem ganhos concretos ou emocionais. Uma relação que oferece parceria, segurança e tranquilidade gera motivação para enfrentar adversidades em conjunto. Filhos, patrimônio ou projetos comuns podem reforçar esse sentimento, mas o benefício principal é a percepção de apoio mútuo.
A psicóloga observa que esses pilares se consolidam ou se enfraquecem nas atitudes diárias. Ausência de um ou outro item não determina o fracasso, e sim indica áreas que podem ser fortalecidas com interesse recíproco. Ela ressalta que construir um relacionamento exige cuidado constante, disposição para dialogar e paciência para lidar com diferenças.
Os números do IBGE, aliados à análise de especialistas, sugerem que a sustentabilidade dos casamentos depende menos de normas sociais e mais da qualidade da interação entre as partes. Na prática, atenção aos elementos emocionais, sexuais, logísticos e externos torna-se decisiva para que a duração média das uniões volte a crescer nos próximos anos.