Protestos em Angola deixam 30 mortos e expõem desigualdade

Protestos em Angola deixam 30 mortos e expõem desigualdade

Protestos em Angola deixam 30 mortos e expõem desigualdade ganharam as ruas de Luanda em julho, quando taxistas convocaram uma paralisação contra o aumento do preço dos combustíveis. O ato, que se estendeu por três dias, transformou-se em um dos maiores levantes desde o fim da guerra civil, com pneus incendiados, lojas saqueadas e choques violentos com a polícia.

Autoridades confirmam ao menos 30 mortos e milhares de detenções. Muitos dos presos temem represálias e evitam falar publicamente sobre o episódio, que abalou também outras províncias e antecede o cinquentenário da independência angolana, em 11 de novembro.

Protestos em Angola deixam 30 mortos e expõem desigualdade

Jovens sem emprego formal constituíram o núcleo das manifestações. Dados oficiais apontam taxa de desemprego de 54 % entre 15 e 24 anos, num país cuja idade média é inferior a 16 anos. Dos 18 milhões de jovens aptos a trabalhar, apenas três milhões recebem salário fixo e contribuem com impostos.

Para o sociólogo Gilson Lázaro, os manifestantes representam “os despossuídos” que enxergam poucas perspectivas: “Eles só têm a própria vida para arriscar”, afirmou. A crise ganhou força em bairros pobres de Luanda, onde faltam saneamento básico e infraestrutura, antes de tomar avenidas centrais e expor a desigualdade diante dos arranha-céus erguidos por petrodólares.

O presidente João Lourenço, no poder desde 2017, classificou os protestos como “atos de cidadãos irresponsáveis manipulados por organizações antipatrióticas”. Ainda assim, sua gestão enfrenta críticas por não ter diversificado a economia nem reduzido a inflação anual, que permanece em torno de 18 %. Segundo pesquisa Afrobarometer de 2024, 63 % dos angolanos dizem que a situação econômica piorou no último ano.

A dependência do petróleo persiste: o setor responde pela maior parte das exportações e da arrecadação estatal. O economista Francisco Paulo argumenta que, se o país seguisse modelos de gestão de receita semelhantes aos da Noruega ou da Arábia Saudita, “o petróleo seria uma bênção, não um fardo”. Relatório recente do Banco Mundial indica que mais de um terço da população vive com menos de US$ 2,15 por dia.

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Imagem: Internet

Enquanto o governo prepara festas, medalhas presidenciais e até um amistoso de futebol com Lionel Messi para o jubileu de ouro da independência, estudantes como Lea Komba, de 20 anos, alertam para o risco de novos levantes: “Os jovens ignorados voltam às ruas porque a fome não permite silêncio”.

Em meio à expectativa pelas eleições de 2027, analistas preveem que a polarização aumentará caso não ocorram reformas estruturais que ampliem emprego e acesso a serviços básicos.

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Crédito da imagem: AFP via Getty Images

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