Primeira-ministra do Nepal assume após protestos mortais
Primeira-ministra do Nepal Sushila Karki, 73 anos, tomou posse na noite de sexta-feira (data local) como chefe de um governo interino, depois que protestos contra a corrupção eclodiram em todo o país e derrubaram o ex-premiê KP Sharma Oli.
A ex-presidente da Suprema Corte, reconhecida pela trajetória de integridade, foi escolhida após um acordo entre o presidente Ram Chandra Poudel e líderes do movimento popular que exigia renovação política. Mais de 50 pessoas morreram em confrontos com a polícia desde o início dos atos, desencadeados pela tentativa do governo de proibir 26 redes sociais.
Primeira-ministra do Nepal assume após protestos mortais
Karki assume sob clima de tensão. Na terça-feira, manifestantes incendiaram o complexo parlamentar Singha Durbar, em Katmandu, forçando a renúncia de Oli. O Parlamento foi dissolvido na sexta-feira, e eleições gerais foram agendadas para 5 de março do próximo ano, prazo que o novo gabinete precisa garantir.
A líder interina terá de restaurar a ordem, reconstruir prédios públicos destruídos e dialogar com os jovens da chamada “Geração Z”, protagonistas dos protestos. Muitos desses estudantes veem sua ascensão como um marco no combate ao nepotismo evidenciado pela recente campanha “nepo kid”, que expôs o estilo de vida dos filhos da elite política.
O acordo que viabilizou a posse foi costurado com mediação do comandante do Exército, que mantém patrulhas em Katmandu. Segundo analistas, a presença militar reflete o temor de que a democracia nepalesa, estabelecida em 2008, sofra retrocessos.
Sushila Karki construiu carreira jurídica ao lado do marido, o ex-líder do Partido do Congresso, Durga Subedi, e chegou ao topo do Judiciário em 2016. Mesmo elogiada por decisões contra a corrupção, enfrentou um processo de impeachment naquele período, posteriormente arquivado.
Na última terça, Karki visitou o principal ponto das manifestações, onde 19 pessoas haviam morrido no dia anterior, e conversou com feridos em hospitais. O gesto reforçou a confiança dos ativistas, que celebraram a nomeação nas redes logo após a posse.
Imagem: Internet
Para especialistas ouvidos pela BBC News, o sucesso do governo provisório dependerá da rapidez na organização do pleito e da capacidade de pacificar o país sem restringir liberdades digitais novamente.
Com a posse histórica, o Nepal torna-se a mais recente nação asiática comandada por uma mulher, ampliando o debate sobre representatividade e governança em meio a crises políticas.
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Crédito da imagem: EPA/Shutterstock
