Preço do cacau recua e frustra produtores baianos
Preço do cacau recua e frustra produtores baianos
Preço do cacau recua e frustra produtores baianos após o pico histórico registrado no fim de 2024, provocando cortes de investimentos e incerteza entre pequenos agricultores do sul da Bahia.
Recorde internacional virou decepção local
O valor da arroba (15 kg) de cacau disparou no mercado global no último trimestre de 2024, impulsionado pela quebra de safra em Gana e Costa do Marfim. Em Ituberá, Igrapiúna e Jitaúna, a euforia tomou conta dos produtores, que planejaram modernizar lavouras e comprar maquinário. No entanto, a cotação passou a recuar na bolsa de Nova York, base para o preço nacional, revertendo o cenário de otimismo.
Diferença de até R$ 85 por arroba no Brasil
Segundo a Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), apesar de a bolsa indicar recuperação parcial da oferta africana, o repasse ao campo brasileiro foi mais duro: em agosto, o cacau chegou a ser vendido a R$ 85 menos por arroba do que a paridade internacional. A queda é atribuída ao poder de barganha das multinacionais Cargill, Barry Callebaut e Olam/Ofi, que concentram praticamente toda a compra interna.
Tarifa de 50 % dos EUA agrava o quadro
Além da pressão sobre preços, a indústria local prevê perda de R$ 180 milhões até 2025 por causa da tarifa de 50 % imposta pelos Estados Unidos a derivados de cacau brasileiros. Em 2024, o país exportou US$ 72,6 milhões em manteiga de cacau aos americanos, equivalente a 16 % da receita do setor. Sem esse mercado, moageiras avaliam reduzir produção, o que deve comprimir ainda mais a demanda interna pela amêndoa.
Produtores freiam investimentos
Josenilda Silva, de Jitaúna, adiou a compra de fertilizantes, equipamentos e placas solares que pretendia financiar com o lucro recorde. Já José Luís Fagundes, em Igrapiúna, repensou o cultivo de uma nova área mesmo após adquirir um trator. Ambos temem endividar-se em um ambiente de preços voláteis e pouca transparência na formação de valores.
Mercado concentrado dificulta reação
Estudos da Organização Internacional do Cacau apontam que cadeias com poucos compradores e muitos vendedores, como a brasileira, tendem a repassar choques de preço de forma mais severa ao produtor. Sem capital para estocar a colheita e pressionar a indústria, pequenos agricultores acabam vendendo imediatamente, reforçando a assimetria de poder.

Imagem: Internet
Enquanto isso, a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) argumenta que a demanda por chocolate recuou após a disparada de preços globais e que o uso da bolsa futura — março de 2026 chegou a cotar a tonelada US$ 1 000 abaixo do mercado à vista — reflete o custo de estocagem e o risco de queda adicional.
Especialistas ouvidos alertam que, sem ao menos três anos de valores remuneradores, a recuperação da cacauicultura baiana continuará comprometida, perpetuando baixa produtividade e renda nas comunidades rurais.
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Crédito da imagem: Acervo pessoal / BBC News Brasil