O uivo é uma das formas de vocalização mais antigas dos canídeos e, apesar de ser frequentemente associado a presságios ou a situações negativas, representa um recurso importante de comunicação para os cães. Descendentes diretos dos lobos, eles mantiveram esse comportamento como parte de um repertório natural que inclui latidos, rosnados e choros. Entender os motivos que levam um cachorro a uivar ajuda a identificar necessidades básicas, problemas de saúde e até aspectos ligados ao instinto reprodutivo.
Quando o uivo é consequência da separação
Um dos cenários mais comuns ocorre quando o animal fica sozinho em casa. Sem noção precisa de tempo, o cão pode vivenciar ansiedade de separação logo após a saída dos tutores. O desconforto emocional se manifesta por meio de uivos prolongados, latidos ou destruição de objetos. Brinquedos interativos e a oferta de atividades que o mantenham ocupado durante a ausência da família tendem a reduzir a frequência desses chamados.
Sinal de dor ou mal-estar físico
O uivo também funciona como alerta de dor. Caso o som apareça acompanhado de apatia, perda de apetite ou mudanças súbitas de comportamento, a recomendação é consultar um veterinário. Assim como humanos choram diante de incômodos físicos, cães recorrem a vocalizações longas para sinalizar desconforto ou doenças que não são visíveis a olho nu.
Resposta a ruídos intensos
Com audição muito mais sensível que a humana, cães podem reagir a sirenes, alarmes ou campainhas interpretando esses estímulos como ameaça. O uivo surge, nessas situações, como tentativa de sobrepor o som externo ou alertar o grupo familiar de um possível perigo. Embora não seja um problema comportamental, o tutor pode adotar técnicas de dessensibilização sonora para minimizar o estresse gerado por barulhos repentinos.
Instinto reprodutivo nos machos não castrados
Machos que não passaram por castração podem usar o uivo como ritual de acasalamento. O som serve para atrair fêmeas no cio e marcar território diante de possíveis concorrentes. A castração costuma reduzir ou eliminar essa motivação, além de contribuir para o controle populacional de animais domésticos.
Busca por atenção e tédio
Alguns cães percebem que uivar garante retorno imediato dos tutores, seja em forma de carinho, petiscos ou brincadeiras. Ao associar a vocalização a recompensas, reforçam o comportamento sempre que se sentem negligenciados. A orientação é oferecer atenção quando o animal estiver calmo, evitando atendê-lo logo após o uivo. Passeios diários, estímulos mentais e rotinas previsíveis ajudam a prevenir esse círculo de reforço.
Imagem: Mark R Croucher via olhardigital.com.br
Influência da herança genética
Pesquisa publicada na revista Nature avaliou a reação de 68 cães a gravações de uivos de lobos e constatou que raças consideradas antigas, como husky siberiano, chow chow e basenji, demonstram propensão maior a responder ao chamado ancestral. Grupos geneticamente mais recentes, caso do golden retriever, apresentam tendência menor. O estudo também apontou que cães mais velhos uivam mais que jovens, independentemente da raça.
Função original e contexto atual
Na vida selvagem, o uivo servia para reunir a matilha, informar localização, avisar sobre predadores e afastar rivais. Ainda que a maioria dos cães conviva hoje em ambientes urbanos, o instinto permanece ativo. Em lares com mais de um animal, o som pode estimular respostas em cadeia, criando uma rede de comunicação que se estende a vizinhanças inteiras.
Por ser um comportamento esperado na espécie, uivos esporádicos não exigem intervenção. Contudo, frequência elevada ou mudanças repentinas pedem atenção. Identificar a causa é essencial para garantir bem-estar físico e emocional ao animal. Estimular atividades, manter consultas veterinárias em dia e compreender os sinais emitidos fortalecem o vínculo entre tutores e cães, reduzindo episódios de desconforto manifestados por meio do uivo.
