Orchard Robotics recebe 22 milhões de dólares para levar IA à fruticultura de precisão
Orchard Robotics angariou 22 milhões de dólares numa ronda Série A para acelerar a aplicação de visão computacional e inteligência artificial (IA) na gestão de pomares e vinhas nos Estados Unidos. A operação foi liderada pelos fundos Quiet Capital e Shine Capital, contando ainda com a participação de investidores já existentes, como a General Catalyst e a Contrary.
Fundador aposta na tecnologia após abandonar Cornell
A empresa foi criada em 2022 por Charlie Wu, ex-estudante de Ciência Computacional na Universidade Cornell e bolseiro do programa Thiel Fellowship. Motivado pela experiência dos avós, produtores de maçã na China, Wu identificou limitações nas metodologias tradicionais de amostragem manual usadas mesmo nos maiores produtores norte-americanos. Esse processo cobre apenas uma fração da plantação, o que leva a estimativas imprecisas sobre a quantidade e o estado do fruto.
Para colmatar esta lacuna, a Orchard Robotics desenvolveu um sistema composto por câmaras de alta resolução instaladas em tratores ou outros veículos agrícolas. Durante o percurso pelo campo, o equipamento capta imagens detalhadas que são analisadas por algoritmos de IA capazes de avaliar tamanho, cor e saúde de cada fruto.
Do terreno para a nuvem: dados que orientam decisões
As leituras obtidas são enviadas para uma plataforma em nuvem que funciona como registo central de todas as parcelas. Através desse painel, o produtor recebe indicações sobre necessidades específicas de fertilização, poda ou desbaste, bem como previsões de colheita. A empresa afirma que a tecnologia já está em operação em grandes explorações de maçã e uva e que, mais recentemente, foi estendida a culturas de mirtilo, cereja, amêndoa, pistacho, citrinos e morango.
Wu defende que conhecer, em tempo real, o que cresce no campo permite dimensionar corretamente o uso de agroquímicos, a contratação de mão-de-obra e até a estratégia de comercialização. “Se não souber o que está a produzir, não sabe quanto aplicar, quantas pessoas contratar nem o que realmente pode vender”, resume o fundador.
Concorrência e dimensão do mercado
A Orchard Robotics opera num segmento avaliado em cerca de 1,5 mil milhões de dólares, dedicado à recolha e análise de dados para frutas e hortícolas. Entre os concorrentes diretos estão a Bloomfield Robotics — adquirida pela fabricante de maquinaria Kubota em 2023 —, além das emergentes Vivid Robotics e Green Atlas. Todas apostam em soluções de câmara embarcada para monitorizar culturas de alto valor.
Apesar do volume ainda reduzido, Wu acredita que melhorias futuras na IA permitirão automatizar decisões e expandir o leque de serviços. O empresário aponta o percurso da norte-americana Flock Safety, que começou a recolher matrículas de veículos e progrediu para soluções de deteção de tiros e videovigilância, alcançando uma avaliação de 7,5 mil milhões de dólares, como referência do potencial crescimento.

Imagem: Internet
Próximos passos após a Série A
Com o capital recém-levantado, a Orchard Robotics planeia intensificar a investigação em algoritmos de análise preditiva e reforçar a infraestrutura de software que agrupa os dados de campo. O objetivo de médio prazo é transformar a plataforma num “sistema operativo” capaz de gerir todo o ciclo produtivo, integrando fluxo de trabalho de operadores, fornecedores e distribuidores.
Além disso, parte da verba será canalizada para alargar a equipa de engenharia e apoiar pilotos em novas regiões produtoras, nomeadamente no Oeste dos Estados Unidos, onde se concentram pomares de maçã, citrinos e vinhas de grande escala.
Visão de longo prazo
Em declarações recentes, Wu sublinhou a ambição de “ir além da recolha de dados” e assumir, no futuro, todas as decisões operacionais dentro da exploração agrícola. Caso consiga desenvolver sistemas suficientemente robustos, a Orchard Robotics pretende reduzir custos, aumentar rendimentos e mitigar o impacto ambiental do setor, tornando o processo de produção de fruta mais previsível e eficiente.
Para já, a ronda Série A representa um passo crucial na consolidação da empresa e na corrida pela adoção de IA na agricultura especializada, num mercado onde precisão e rentabilidade se tornam cada vez mais determinantes.