ONU condena ataque israelense que matou jornalistas da Al Jazeera na Faixa de Gaza

O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas classificou como “violação grave” do direito internacional humanitário o bombardeio israelense que matou seis profissionais de imprensa na noite de domingo (7) em Gaza. Entre as vítimas estão cinco integrantes da equipe da Al Jazeera – o correspondente Anas al-Sharif, o também repórter Mohammed Qreiqeh e os cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa – além do jornalista freelancer Mohammad al-Khaldi. Um sétimo civil também perdeu a vida na mesma ofensiva, realizada contra uma tenda usada pelos comunicadores na Cidade de Gaza.

O Exército israelense declarou ter mirado especificamente Anas al-Sharif, que, segundo a corporação, “chefiava uma célula terrorista do Hamas”. A força de defesa afirma dispor de documentos coletados em Gaza que listariam o jornalista como membro do grupo armado, incluindo supostas planilhas de pessoal, registros de treinamento e diretórios telefônicos. Até o momento, apenas imagens parciais desses arquivos foram divulgadas, e não há verificação independente dos materiais. Outros integrantes da equipe morta não foram mencionados no comunicado militar.

Organizações de defesa da liberdade de imprensa contestaram a justificativa. A Repórteres sem Fronteiras qualificou o episódio como assassinato; já a Associação de Imprensa Estrangeira expressou “indignação” e acusou Israel de rotular repórteres palestinos como militantes “sem apresentar provas verificáveis”. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirmou que o governo israelense “mantém um histórico documentado” de alegações semelhantes sem evidências consistentes. Segundo levantamento do CPJ, pelo menos 186 profissionais de mídia foram mortos na região desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023, tornando o período o mais letal para a categoria desde o início dos registros da entidade, em 1992.

Pelo governo britânico, o porta-voz do primeiro-ministro Keir Starmer declarou “profunda preocupação” e defendeu uma investigação independente. O Qatar, país sede da Al Jazeera, também condenou o ataque, assim como outras nações e entidades de direitos humanos. Em publicação na rede X, o Escritório de Direitos Humanos da ONU reforçou que Israel “deve respeitar e proteger todos os civis, incluindo jornalistas” e reiterou o pedido para que repórteres tenham “acesso imediato, seguro e sem obstáculos” ao território.

O funeral de Anas al-Sharif, Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa ocorreu na segunda-feira (8) em Gaza. Médicos do hospital al-Shifa confirmaram a morte de Mohammad al-Khaldi, vítima que atuava de forma independente. Relatos locais indicam que o grupo utilizava uma tenda como ponto de repouso e trabalho quando foi atingido por míssil guiado.

A limitação ao trabalho da imprensa em Gaza tem sido alvo de sucessivas denúncias. Israel não autoriza a entrada irrestrita de veículos internacionais na faixa, o que leva redações estrangeiras a depender de correspondentes baseados no enclave. No mês passado, BBC, Reuters, AP e AFP emitiram comunicado conjunto alertando para a situação de “desespero” de jornalistas no território, que enfrentam escassez de alimentos e risco permanente de ataques.

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Imagem: bbc.com

Além da morte dos profissionais de mídia, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas informou que cinco pessoas – entre elas uma criança – morreram de desnutrição nas últimas 24 horas, elevando para 222 o total de óbitos por falta de alimentos desde o início da ofensiva, sendo 101 menores de idade. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários reiterou que a quantidade de ajuda que entra em Gaza permanece “muito abaixo do mínimo necessário” para suprir as necessidades da população. Especialistas apoiados pela ONU apontaram, no mês passado, que “o pior cenário de fome já está em curso”.

O governo israelense nega a existência de casos de inanição em massa e atribui a persistência da crise a supostas falhas logísticas de agências da ONU na retirada e distribuição de suprimentos nas zonas fronteiriças controladas por Israel. A ONU argumenta que há barreiras e atrasos na liberação de comboios humanitários, o que compromete o abastecimento.

A atual ofensiva israelense foi lançada em resposta ao ataque conduzido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos e resultou na tomada de 251 reféns no sul de Israel. Desde então, segundo dados do Ministério da Saúde sob gestão do Hamas, 61.430 pessoas morreram em Gaza em decorrência das operações militares israelenses.

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