A partir de 1º de janeiro, empregadores de Ontário com pelo menos 25 funcionários serão obrigados a informar os participantes de processos seletivos sobre o resultado de suas entrevistas em até 45 dias. A medida, aprovada pelo Legislativo provincial, também determina que as companhias indiquem se a vaga continua aberta e se utilizam sistemas de inteligência artificial para triagem ou seleção de currículos.
O novo conjunto de regras faz parte de um esforço mais amplo do governo local para ampliar a transparência no recrutamento, área frequentemente apontada por candidatos como carente de feedback. Segundo o Ministério do Trabalho da província, a omissão de respostas será tratada como infração sujeita a multa de até 100 mil dólares canadenses — cerca de 395 mil reais. De acordo com especialistas em direito trabalhista, é provável que as primeiras autuações resultem apenas em advertências ou penalidades menores, mas a legislação dá margem a sanções mais altas em caso de reincidência.
A exigência de retorno formal tenta combater o chamado ghosting, prática em que empresas deixam candidatos sem qualquer atualização sobre o andamento das seleções. Levantamento da plataforma de recrutamento Greenhouse, divulgado em julho, mostrou que quase dois terços dos profissionais nos Estados Unidos não receberam resposta depois de uma entrevista. No mesmo estudo, 27% afirmaram nunca ter retorno nem mesmo após a etapa final do processo.
Além do prazo para resposta, a lei ontariana obriga a divulgação de duas informações adicionais em anúncios de vagas: se o posto está, de fato, em período ativo de contratação e se ferramentas baseadas em inteligência artificial participam da avaliação dos candidatos. Legisladores defendem que essas declarações reduzem a prática de manter anúncios abertos apenas para compor banco de currículos e alertam profissionais sobre o uso de algoritmos em suas candidaturas. Parte do setor empresarial, porém, teme aumento de custos e responsabilidades administrativas para equipes de recursos humanos.
Nos Estados Unidos, propostas com objetivos semelhantes avançam em diferentes estados. Em Nova Jersey, um projeto de lei em discussão prevê multa de até 5 mil dólares (aproximadamente 27 mil reais) a empregadores que não estabeleçam prazo claro para informar os entrevistados. O texto ainda determina a retirada de anúncios em até duas semanas após o preenchimento da vaga e a identificação de publicações referentes a vagas inexistentes. Entidades patronais locais contestam a iniciativa, argumentando que a remoção rápida de anúncios é inviável em setores de alta rotatividade, como varejo e serviços, e que ciclos de contratação variam de acordo com o cargo.
Outras jurisdições norte-americanas também analisam o tema. Legisladores de Kentucky e Califórnia apresentaram projetos para proibir anúncios de vagas fantasmas. A proposta de Kentucky foi arquivada, enquanto a da Califórnia continua em debate nas comissões da Assembleia estadual.

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Profissionais de recursos humanos apontam a redução dos quadros de recrutamento como uma das principais razões para o aumento do ghosting. Anessa Fike, consultora do setor, observa que cortes em equipes de talento têm deixado muitos empregadores sem pessoal suficiente para responder a todos os candidatos. Dados da Greenhouse indicam que, em dezembro de 2024, uma em cada cinco vagas divulgadas na plataforma correspondia a posições não disponíveis de imediato. No Canadá, estimativa de agências oficiais mostra que 14% das vagas anunciadas no segundo trimestre de 2025 estavam nessa categoria.
A insatisfação com a falta de retorno é especialmente forte entre profissionais em início de carreira, segundo parlamentares que apoiam as novas regras. O sentimento é ilustrado por relatos de candidatos como Eric Thompson, cofundador de um grupo que pressiona por legislação federal nos Estados Unidos. Demitido de uma startup de cibersegurança há nove meses, ele contabiliza mais de três mil candidaturas enviadas: apenas cinco resultaram em entrevistas e pouco mais de 160 tiveram alguma resposta formal. Casos como o de Thompson vêm sendo usados por defensores das mudanças para evidenciar a necessidade de prazos obrigatórios de comunicação.
Para as empresas que atuam em Ontário, a adaptação às regras terá impacto direto na forma de gerir bancos de talentos, estruturar sistemas de inteligência artificial e organizar cronogramas de seleção. Enquanto parte do setor privado avalia que a clarificação de processos pode aumentar a confiança dos candidatos e reduzir desgastes, outras companhias temem que a nova rotina administrativa provoque custos adicionais, especialmente em períodos de alta demanda por contratação.
Embora críticos prevejam obstáculos, autoridades locais insistem que a obrigação de retorno representa apenas formalizar uma prática considerada cortês. Com a entrada em vigor da lei, Ontário se posiciona entre as primeiras grandes jurisdições da América do Norte a estabelecer prazos legais para resposta a candidatos, movimento que pode influenciar outras iniciativas legislativas voltadas a tornar o mercado de trabalho mais transparente.