O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, manteve a intenção de ampliar a operação militar na Faixa de Gaza, afirmando que assumir o controle de Gaza City é “a melhor forma de encerrar a guerra” e libertar os reféns mantidos pelo Hamas. A declaração foi feita em entrevista coletiva apresentada por Netanyahu como tentativa de “desmentir mentiras” sobre a condução do conflito. Enquanto o líder ressaltava que a ofensiva avançaria “com relativa rapidez”, em Nova York representantes de diversos países criticavam o plano durante reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
Na coletiva, Netanyahu negou que Israel esteja provocando fome entre os palestinos e afirmou que “os únicos deliberadamente famintos” são os reféns israelenses ainda cativos em Gaza. Segundo ele, as Forças de Defesa de Israel (FDI) receberam ordem de desmantelar dois redutos remanescentes do Hamas — um em Gaza City e outro na região central de al-Mawasi. O premiê também apresentou um esquema de três etapas para ampliar a ajuda humanitária, prevendo corredores seguros para distribuição de suprimentos, incremento de lançamentos aéreos por tropas israelenses e parceiros, e expansão dos pontos de entrega geridos pela polêmica Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Estados Unidos e Israel.
As explicações não contiveram a reação internacional. Reino Unido, França, Dinamarca, Grécia e Eslovênia pediram a reversão imediata da ofensiva, alegando que a medida pode violar o direito humanitário e “nada faz” para garantir a libertação dos reféns, podendo inclusive pôr suas vidas em risco. O assistente-secretário-geral da ONU, Miroslav Jenca, advertiu que, se aplicadas, as ações israelenses “provocarão nova calamidade” com mais deslocamentos, mortes e destruição. Para Ramesh Rajasingham, do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, a crise alimentar em Gaza “já não é iminente; trata-se de fome, pura e simples”.
China e Rússia também manifestaram apreensão. Pequim classificou como inaceitável qualquer “punição coletiva” à população, enquanto Moscou alertou contra “intensificação irresponsável das hostilidades”. Os Estados Unidos, porém, defenderam Israel. A embaixadora norte-americana, Dorothy Shea, declarou que Washington trabalha “incansavelmente” para libertar os sequestrados e encerrar a guerra, acusando alguns membros do órgão de explorarem a sessão para imputar genocídio a Israel — acusação que considerou “manifestamente falsa”.
Horas depois, o gabinete de Netanyahu informou que o primeiro-ministro conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a estratégia israelense. Internamente, o plano também sofre contestação: milhares de israelenses voltaram às ruas para pressionar o governo, temendo que uma escalada militar reduza as chances de resgate dos reféns. Estima-se que 20 dos sequestrados ainda estejam vivos. Na visão do chefe de governo, “se nada for feito, eles não serão libertados”.

Imagem: bbc.com
Organizações humanitárias relatam consequências graves da escassez de alimentos. A ONU registrou desde o fim de maio — período em que a GHF passou a operar pontos de distribuição — 1.373 palestinos mortos enquanto buscavam mantimentos. O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas informou, no domingo, mais cinco óbitos por inanição e desnutrição, somando 217 desde o início do conflito. Ao todo, a pasta calcula mais de 61 mil mortos em decorrência da campanha militar israelense lançada em 2023.
Netanyahu contestou a cobertura internacional, acusando veículos de comunicação de “comprar propaganda do Hamas” e chamando de “falsas” algumas imagens de crianças subnutridas divulgadas na imprensa. Embora jornalistas estrangeiros continuem impedidos de circular livremente em Gaza, o premiê disse ter autorizado, dois dias antes, que o Exército permitisse a entrada de correspondentes de fora.
O enfrentamento atual remonta ao ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas no sul de Israel e outras 251 feitas reféns. Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva que se estende até hoje e cuja próxima fase, segundo o governo israelense, inclui a tomada total de Gaza City, mesmo sob crescente pressão de aliados e críticas de grande parte da comunidade internacional.