Netanyahu sinaliza busca por acordo único para libertar todos os reféns em Gaza

Netanyahu sinaliza busca por acordo único para libertar todos os reféns em Gaza

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indicou que os esforços de mediação para um cessar-fogo na Faixa de Gaza concentram-se agora em um pacto abrangente que preveja a libertação simultânea de todos os reféns ainda detidos por grupos armados palestinos. A declaração foi feita em entrevista à emissora israelense i24 na terça-feira (9), quando o premiê afirmou que a possibilidade de um acordo por etapas, com trégua inicial de 60 dias e liberação parcial de cativos, ficou “para trás”.

Até o momento, facções palestinas mantêm 50 pessoas sequestradas durante o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos em Israel. As autoridades israelenses acreditam que aproximadamente 20 desses reféns continuam vivos. Netanyahu enfrenta crescente pressão interna de familiares das vítimas e da opinião pública para garantir o retorno dos cativos antes de qualquer ampliação da ofensiva militar.

Uma delegação do Hamas encontra-se no Cairo para “conversas preliminares” com autoridades egípcias, segundo comunicado do grupo. Egito, Qatar e Estados Unidos, que atuam como mediadores, veem nas próximas semanas uma janela de oportunidade para avançar nas negociações. Contudo, pontos centrais seguem sem consenso: Israel exige que o Hamas entregue o controle de Gaza e deposte suas armas, enquanto a facção condiciona qualquer desarmamento à criação de um Estado palestino independente, além de solicitar a retirada total das tropas israelenses e o fim permanente da guerra.

No mês passado, as tratativas indiretas estagnaram e Israel anunciou um plano para estender a operação militar a todo o território de Gaza, incluindo as áreas para onde se deslocaram a maioria dos dois milhões de habitantes. Fontes da imprensa israelense estimam que a nova investida não comece antes de outubro, período necessário para preparação logística e convocação de reservistas.

Enquanto isso, intensificam-se os bombardeios em Gaza City. Testemunhas relataram ataques aéreos de alta intensidade nas últimas 24 horas, com foco em zonas residenciais. Na madrugada de quarta-feira (10), o Hospital al-Shifa informou a morte de sete membros de uma mesma família, cinco deles crianças, após a explosão de tendas em Tel al-Hawa. Já o Hospital al-Ahli registrou dez óbitos em decorrência de um projétil que atingiu uma casa na área de Zaytoun.

Em paralelo, o chefe das Forças de Defesa de Israel (IDF), general Eyal Zamir, aprovou o “marco principal” do novo plano operacional para Gaza, segundo nota divulgada pelo Exército. A ofensiva vem acompanhada de declarações de Netanyahu sobre a necessidade de manter controle de segurança “sem prazo definido” sobre o enclave palestino.

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Imagem: bbc.com

Na semana passada, veículos de imprensa citaram autoridades árabes sob anonimato que trabalham numa proposta alternativa: libertar todos os reféns de uma só vez em troca da cessação total das hostilidades e da retirada das tropas israelenses. Porém, a complexidade das exigências mútuas dificulta a conclusão rápida de um texto final. Durante coletiva em Cairo, o chanceler egípcio, Badr Abdelatty, reiterou que o objetivo imediato de seu país é retomar o plano faseado de 60 dias, com liberação parcial de reféns e prisioneiros palestinos, além da entrada de ajuda humanitária “sem obstáculos ou condições”.

Netanyahu, por sua vez, reafirmou que os objetivos israelenses permanecem inalterados: só haverá fim da guerra após a devolução de todos os sequestrados e a rendição do Hamas. Em entrevista à i24, o premiê voltou a defender que palestinos possam “sair voluntariamente” de Gaza, argumento que gerou críticas de organizações de direitos humanos e de parte da comunidade internacional, que veem risco de deslocamento forçado – prática vedada pelo direito internacional. Muitos habitantes temem reviver o êxodo de 1948, conhecido como “Nakba”, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos ou fugiram de suas casas.

Agências da ONU alertam para o agravamento da crise humanitária no território. Especialistas ligados à organização indicam que a fome se expande de forma generalizada, reflexo das severas restrições impostas por Israel à entrada de suprimentos. O Programa Mundial de Alimentos aponta que os índices de desnutrição e inanição atingem o nível mais alto desde o início do conflito. Segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, pelo menos 61.722 palestinos morreram na ofensiva israelense, incluindo 235 vítimas de fome – entre elas 106 crianças.

As divergências sobre o futuro de Gaza e sobre a troca de prisioneiros continuam no centro das negociações. Enquanto mediadores tentam conciliar as exigências antagônicas, Israel reforça seu poderio militar na região e o Hamas sinaliza que só aceitará um acordo que contemple retirada completa das forças israelenses. Nos bastidores, diplomatas reconhecem que, sem concessões significativas de ambos os lados, o progresso nas conversas permanece incerto.

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