Nagasaki recorda 80 anos da bomba atômica com minuto de silêncio e apelos por desarmamento

Às 11h02 deste sábado, horário exato da explosão que devastou Nagasaki em 9 de agosto de 1945, moradores, sobreviventes e autoridades mantiveram um minuto de silêncio para marcar os 80 anos do segundo ataque nuclear da Segunda Guerra Mundial. O tributo ocorreu no Parque da Paz da cidade, erguido próximo ao epicentro da detonação que matou cerca de 74 mil pessoas e ocorreu três dias após a bomba lançada sobre Hiroshima, onde o total de mortes chegou a 140 mil.

O toque do sino da antiga igreja de Nagasaki, reconstruído recentemente, inaugurou a cerimônia. O campanário havia sido destruído pelo bombardeio e voltou a soar apenas agora, transformando-se em símbolo de memória e esperança para a população local. Representantes de mais de cem países acompanharam o ato, entre eles delegações da Rússia, ausente desde a invasão da Ucrânia em 2022, e de Israel, que não comparecera no ano anterior por protestos ligados a conflitos no Oriente Médio.

Autoridades alertam para risco nuclear

Em pronunciamento, o prefeito Shiro Suzuki afirmou que, passadas oito décadas, o mundo ainda enfrenta divisões e tensões capazes de levar a um novo confronto nuclear. Ele pediu a interrupção imediata de guerras em andamento e reforçou a necessidade de diálogo internacional para evitar a repetição de tragédias como a de 1945.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, participou do memorial e reiterou o compromisso do governo com um planeta livre de armamentos atômicos. Segundo ele, o Japão trabalhará para aproximar Estados que possuem arsenais nucleares e aqueles que não dispõem desse recurso, especialmente na próxima conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), marcada para 2026 em Nova York. Apesar do discurso em favor do desarmamento, Tóquio ainda não aderiu ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, alegando depender do chamado guarda-chuva nuclear norte-americano para a própria segurança.

Em mensagem lida na solenidade, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, cobrou ações concretas para a redução dos estoques atômicos e destacou o papel central do TNP nesse processo. Todos os países foram convidados ao evento. A China, porém, informou que não enviaria representantes e não explicou o motivo da ausência.

Sobreviventes lutam para manter a memória

Com uma média de idade superior a 86 anos, o grupo de cerca de 99 mil sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki envida esforços para preservar suas histórias. Fumi Takeshita, de 83 anos, costuma visitar escolas para relatar o que viveu aos 3 anos de idade. Ela afirma desejar a eliminação das armas nucleares e o fim das guerras, incentivando os estudantes a refletir sobre formas de evitar conflitos armados quando atingirem a idade adulta.

Teruko Yokoyama, também com 83 anos, teme que as lembranças se percam à medida que testemunhas diretas falecem. Para preservar esse legado, uma organização de Nagasaki digitaliza relatos e os publica em plataformas como o YouTube, contando com a colaboração de jovens interessados em difundir a mensagem de paz. A sobrevivente enxerga nessa participação das novas gerações um sinal de esperança.

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Imagem: olhardigital.com.br

Outra iniciativa voltada à juventude ocorreu durante o Fórum da Paz, que reuniu mais de 300 estudantes. Na ocasião, o nonagenário Seiichiro Mise distribuiu sementes de “flores da paz”, gesto pensado para plantar simbolicamente o compromisso contra o uso de armamentos nucleares.

Marcos históricos e religiosos preservados

A Catedral da Imaculada Conceição de Urakami domina o alto de uma colina próxima ao ponto da explosão. Reconstruída em 1959, a igreja de tijolos vermelhos substituiu o edifício original destruído pela bomba. Dois sinos — um deles restaurado nos Estados Unidos — permanecem lado a lado e tocaram durante a cerimônia deste sábado, reforçando o valor da preservação patrimonial como instrumento de memória coletiva.

Sessenta minutos após o toque do sino, visitantes seguiram para o Museu da Bomba Atômica de Nagasaki, onde painéis, fotos e pertences de vítimas documentam os efeitos da radiação e da onda de choque. O primeiro-ministro visitou a exposição, dialogou com organizações de sobreviventes e também passou por um asilo dedicado a quem carrega sequelas físicas ou psicológicas do ataque.

Debate internacional permanece

Ainda que a juventude de Nagasaki demonstre engajamento em atividades de conscientização, sobreviventes e especialistas alertam para o cenário global considerado mais instável. A manutenção e modernização de arsenais pelas potências nucleares, segundo eles, contrastam com o apelo que emana anualmente das cerimônias no Japão.

O minuto de silêncio deste 9 de agosto encerrou-se, mas os discursos reforçaram que a catástrofe ocorrida há 80 anos não pertence apenas ao passado. Para autoridades locais, lideranças mundiais e, sobretudo, para quem viveu o ataque, o desafio é converter a memória em responsabilidade prática e coletiva, numa conjuntura em que o perigo atômico continua presente.

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