Multiplike recebe licença do Banco Central e prepara ofensiva no crédito empresarial

Multiplike recebe licença do Banco Central e prepara ofensiva no crédito empresarial

A Multiplike obteve autorização do Banco Central do Brasil para atuar como Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI), tornando-se a terceira instituição a receber esta licença nos últimos doze meses. A mudança permite à empresa reduzir custos de captação e intensificar a oferta de crédito a médias e grandes companhias, sobretudo nos sectores agrícola e imobiliário.

Licença SCFI reforça estratégia de funding

Até agora, a Multiplike captava cerca de R$ 3 mil milhões por mês no mercado de capitais, a uma taxa de aproximadamente 120 % do CDI. Com o estatuto de financeira, a empresa passa a emitir CDB, LCI, LCA e a recorrer ao Fundo Garantidor de Crédito, o que deverá baixar o custo para perto de 100 % do CDI. A poupança estimada oscila entre R$ 5 e R$ 6 milhões por mês.

A diversificação de fontes é outro ganho relevante. Além do mercado de capitais, a Multiplike poderá recorrer a Operações Estruturadas (COE) e captar recursos no exterior, aumentando a flexibilidade para adequar prazos e volumes às necessidades de cada operação.

Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários, a empresa gere e estrutura operações de securitização que totalizam R$ 3,7 mil milhões, ocupando a segunda posição nacional em FIDC multicedente e multisacado. O presidente executivo, Volnei Eying, considera que a licença era o «elemento que faltava» para assegurar competitividade fiscal e optimizar o custo de funding.

Investimento tecnológico e plano de expansão

A transição para financeira implicou um investimento inicial de R$ 15 milhões em cibersegurança e sistemas de gestão. A plataforma escolhida é a mesma utilizada pelo C6 Bank, solução que deverá melhorar a experiência de utilização e permitir funcionalidades inexistentes nos actuais FIDC.

A verticalização também elimina entraves operacionais. Até agora, os clientes recebiam boletos emitidos por terceiros – prática que gerava desconfiança quando o nome de outro banco aparecia no DDA. Com estrutura própria, esse desconforto deixa de existir, reforçando a confiança e simplificando processos.

O cronograma prevê entre cinco e seis meses para o início da operação plena, período em que serão concluídas exigências regulatórias, ajustada a governança interna e efectuados testes de integração. Por exigência legal, a designação de todo o conglomerado passará a ser Banco Multiplike.

Foco no crédito corporativo

Com 26 anos de actividade, a Multiplike pretende «desbancarizar» o crédito de médias e grandes empresas, estratégia inspirada no impacto de fintechs como Nubank no segmento de particulares. A empresa manterá a securitizadora, os três FIDC e os acordos actuais, adoptando um modelo híbrido que combina mercado de capitais e operação bancária.

O plano entregue ao Banco Central projecta crescimento mais acelerado na nova instituição financeira do que no braço de capitais durante os próximos cinco anos. Os detalhes das metas permanecem confidenciais, mas a administração confirma que pretende liderar a transformação do crédito corporativo brasileiro num momento marcado por alterações fiscais e maior procura por alternativas aos bancos tradicionais.

Rigor regulatório e critérios de aprovação

A autorização da Multiplike foi concedida num cenário de supervisão apertada, após incidentes recentes de segurança no sistema financeiro, incluindo casos de lavagem de dinheiro em sociedades de crédito directo. O Banco Central avaliou sobretudo três aspectos: capacidade económica do controlador, consistência do projecto de cinco anos e historial de conduta dos responsáveis.

Eying sublinha que o facto de a licença ter sido emitida neste contexto reforça a solidez do plano da empresa. Com a obtenção do estatuto de financeira, a Multiplike junta-se a Magalu Pay e Kanastra como uma das poucas organizações a conquistar a categoria SCFI no último ano.

Próximos passos

Concluído o processo de implementação, a companhia espera oferecer condições de crédito mais competitivas, apoio consultivo especializado e uma plataforma digital alinhada às exigências de grandes clientes. A redução do custo de funding, combinada com tecnologia avançada, deverá reforçar a margem de manobra para praticar taxas inferiores às dos bancos tradicionais e, assim, conquistar maior quota de mercado no segmento empresarial.

Ao manter as operações de securitização e fundos ao lado da nova financeira, a Multiplike aposta num modelo integrado que visa aproveitar sinergias e preservar a base de clientes actual, enquanto expande a presença como prestadora de crédito directo.

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