Mortes maternas no Afeganistão sobem após corte de ajuda EUA
Mortes maternas no Afeganistão crescem desde que os Estados Unidos interromperam quase toda a ajuda humanitária ao país, provocando o fechamento de mais de 400 clínicas sustentadas pela USAID, segundo apuração da BBC.
Em Badakhshan, província montanhosa ao nordeste, a interrupção dos serviços deixou comunidades inteiras sem atendimento básico. O caso de Shahnaz, que morreu após dar à luz no banco traseiro de um carro a caminho de um posto de saúde fechado, tornou-se símbolo da crise.
Mortes maternas no Afeganistão sobem após corte de ajuda EUA
Antes do corte, o pequeno posto de Shesh Pol realizava até 30 partos mensais. Sem alternativa, famílias como a de Shahnaz arcam com viagens longas e caras ou recorrem ao parto em casa, aumentando o risco de hemorragias fatais. A BBC identificou ao menos seis episódios semelhantes desde a suspensão dos repasses.
Impacto imediato dos cortes
Em 2024, o financiamento norte-americano representava 43% de toda a ajuda destinada ao Afeganistão. O governo Trump justificou a suspensão ao apontar suspeitas de que até US$ 10,9 milhões teriam sido desviados para autoridades talibãs, conforme relatório do Special Inspector General for Afghanistan Reconstruction. A administração talibã nega o repasse de recursos.
Hospitais superlotados e sem recursos
Com o fechamento das unidades rurais, a maternidade do hospital regional de Faizabad opera acima do triplo da capacidade: são cerca de 300 pacientes para 120 leitos. O orçamento anual caiu de US$ 80 mil para US$ 25 mil, relataram gestores. No ritmo atual, as mortes maternas podem aumentar até 50% em relação a 2023, enquanto óbitos neonatais já subiram um terço nos últimos quatro meses.
Restrição à formação de profissionais
A crise agrava-se com a proibição do Talibã à educação superior feminina desde 2022. Em dezembro de 2024, a formação de parteiras e enfermeiras também foi vetada, eliminando reforços vitais para a rede de saúde. Estudantes que estavam na metade do curso relataram depressão e medo de retaliação.

Imagem: Internet
Histórias de perda e indignação
Pais como Abdul, Khan Mohammad e Ahmad Khan enterraram esposas e filhos recém-nascidos nos últimos meses. Para eles, a ausência de clínicas é a causa direta das mortes. “A América fez isso conosco”, lamenta Ahmad, enquanto aponta o quarto onde sua filha Maidamo morreu.
Sem perspectivas de ajuda internacional e com restrições internas rigorosas, especialistas alertam que o direito à saúde das afegãs está em risco iminente.
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Crédito da imagem: Aakriti Thapar / BBC