México ultrapassa Brasil e lidera investimentos em startups na América Latina no 1º semestre de 2025

México ultrapassa Brasil e lidera investimentos em startups na América Latina no 1º semestre de 2025

São Paulo – O fluxo de capital de risco na América Latina mudou de direção no primeiro semestre de 2025. Dados consolidados pela gestora Volpe Capital, a partir de informações da Latin American Private Equity and Venture Capital Association (Lavca), indicam que o México recebeu a maior parcela dos recursos destinados a startups na região, superando o Brasil, historicamente líder nesse mercado.

Entre janeiro e junho, o volume total investido em startups latino-americanas somou US$ 1,7 bilhão. Desse montante, 46% tiveram como destino o México, enquanto o Brasil concentrou 23%. A Colômbia foi responsável por 11% e os 20% restantes se distribuíram entre os demais países, incluindo Chile, Argentina e Peru.

O resultado representa uma inflexão relevante. Em 2014, quando o ecossistema regional ainda era incipiente, o Brasil respondia por 85% dos aportes. Esse percentual caiu para 59% em 2020 e 48% em 2021, anos de alta liquidez global, e recuou a 44% em 2024. A nova marca de 23% coloca o país no menor patamar da série histórica analisada pela Volpe Capital.

Do lado mexicano, a participação vinha girando em torno de 20% desde 2021, mas avançou para acima de 40% nos seis primeiros meses de 2025. A gestora atribui o movimento, em grande parte, à maior integração econômica do país com os Estados Unidos e ao amadurecimento de empresas locais que atingiram estágios de captação mais avançados, como séries C e D, atraindo fundos norte-americanos.

As dez maiores rodadas de captação na região ilustram a mudança. Quatro ocorreram no México, duas no Chile, uma na Argentina, uma na Colômbia e apenas uma no Brasil. A principal operação foi a da fintech Klar, que levantou US$ 170 milhões em série C. Em seguida, a também mexicana Plata arrecadou US$ 160 milhões. A plataforma de veículos seminovos Kavak recebeu US$ 127 milhões, enquanto a empresa de remessas Félix Pago obteve US$ 75 milhões. No mercado brasileiro, a maior rodada foi a da agtech Solinftec, com US$ 52 milhões, sexto maior cheque do semestre.

Segundo a Volpe Capital, três fatores explicam a perda de relevância do Brasil. O primeiro é o patamar elevado das taxas de juros internas, que tem direcionado o capital doméstico para aplicações de renda fixa. O segundo envolve instituições de fomento ao desenvolvimento que, nos últimos anos, passaram a incentivar recursos em outros mercados latino-americanos. O terceiro é o ambiente político, considerado ruidoso por investidores internacionais, o que eleva a percepção de risco.

Gestores consultados pela Volpe Capital e por outras casas de venture capital apontam ainda questões conjunturais. Uma delas é a eventual distorção estatística provocada pelo recorte semestral do levantamento, já que operações de estágio avançado podem alterar significativamente a fotografia de curto prazo. Outra diz respeito à abrangência da base de dados da Lavca, vista como incompleta por parte do mercado.

Apesar dessas ressalvas, profissionais do setor admitem que a escassez de cheques de alto valor no Brasil indica restrição de capital para startups em estágio growth. Fundos internacionais, como General Atlantic, Warburg Pincus, Riverwood, Advent e Softbank, permanecem ativos, mas gestores locais com esse perfil são poucos. Em paralelo, mais de 40 fundos brasileiros encontram-se em processo de captação, cenário desafiado pelo ambiente global e pela competição com ativos de renda fixa, que oferecem retornos de dois dígitos sem exposição a risco de mercado.

Parte dessas gestoras — entre elas Canary, Valor Capital, Big Bets e OneVC — concluiu recentes rodadas de fundraising e deve retomar o ritmo de investimentos nos próximos trimestres. Entretanto, executivos do setor observam que a recuperação depende do fechamento das captações em andamento e de uma queda consistente das taxas de juros, condição considerada essencial para restaurar a atratividade do capital de risco no país.

Ainda assim, a Volpe Capital mantém expectativa positiva para o Brasil no médio prazo. A gestora sustenta que o mercado interno segue maior e mais diversificado que o de seus vizinhos, o que cria oportunidades para empreendedores e investidores. Para que o fluxo volte a crescer, contudo, o ambiente econômico precisará oferecer maior previsibilidade e custo de capital mais baixo.

Enquanto esse ajuste não ocorre, o México desponta como principal destino regional para fundos de venture capital, beneficiado por seu posicionamento geográfico e pelo avanço de um conjunto de empresas que entrou na mira de gestores globais. A evolução dos números ao longo do segundo semestre será decisiva para indicar se a mudança de liderança é um ponto fora da curva ou o início de um novo ciclo nos investimentos em startups na América Latina.

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