Kraft Heinz divide operações e cria duas empresas independentes para ganhar agilidade

Kraft Heinz divide operações e cria duas empresas independentes para ganhar agilidade

A Kraft Heinz prepara uma reestruturação profunda que colocará fim à configuração adoptada em 2015, quando o grupo surgiu da fusão entre a Kraft Foods e a Heinz, orquestrada por Warren Buffett e pela 3G Capital. O Conselho de Administração aprovou a cisão da actividade em duas sociedades cotadas e autónomas, medida que deverá ficar concluída no segundo semestre de 2026.

Estrutura das novas empresas

A primeira entidade reunirá os negócios globais de molhos, refeições preparadas e condimentos. Entre as marcas transferidas estarão Heinz, Philadelphia e Kraft Mac & Cheese. Em 2024, este conjunto de produtos gerou receitas líquidas de 15,4 mil milhões de dólares e um EBITDA ajustado de 4 mil milhões.

A segunda sociedade ficará centrada em mercearia e charcutaria para o mercado norte-americano, acolhendo insígnias como Oscar Mayer, Kraft Singles e Lunchables. O segmento registou no ano passado receitas de 10,4 mil milhões de dólares e um EBITDA ajustado de 2,3 mil milhões.

Segundo o plano aprovado, Carlos Abrams-Rivera continuará como presidente-executivo do grupo durante o processo e, após a separação, assumirá a liderança da empresa de mercearia. O Conselho procura agora um CEO para a companhia dedicada a molhos e condimentos. Miguel Patricio, actual chairman, passará a presidente-executivo do Conselho, colaborando na transição.

Motivos da cisão

A administração defende que a divisão permitirá reduzir complexidade, aumentar a eficiência operacional e dar maior autonomia à alocação de capital. Cada empresa passará a definir a própria estratégia, adequando investimento, inovação e marketing ao seu portefólio específico. A multinacional prevê manter o nível actual de dividendos e antecipa dissinergias de cerca de 300 milhões de dólares, valor que espera mitigar em parte a curto prazo.

O processo segue cinco princípios estabelecidos em Maio, quando o board iniciou a revisão estratégica: criar valor sustentável de longo prazo, preservar disciplina financeira, manter escala relevante, maximizar o valor do portefólio e assegurar retornos atractivos aos accionistas.

Contexto financeiro

A reestruturação surge num período de pressão sobre o negócio. A empresa contabilizou um prejuízo líquido de 7,8 mil milhões de dólares no segundo trimestre de 2025, reflexo de imparidades de 9,3 mil milhões que anularam o lucro de 100 milhões obtido um ano antes. A facturação trimestral recuou 1,9 %, para 6,3 mil milhões.

Em 2024, a Kraft Heinz apurou vendas de 25,8 mil milhões de dólares, menos 3 % face a 2023, num mercado em que a procura por alguns produtos tradicionais, como Lunchables ou Capri Sun, tem vindo a abrandar. O portefólio inclui perto de 200 marcas distribuídas por 55 categorias e presença em 150 países, dimensão que dificulta respostas rápidas às novas preferências dos consumidores por propostas mais saudáveis e sustentáveis.

Reacção do mercado

O anúncio não foi imediatamente bem-recebido na bolsa. As acções desvalorizavam 6,04 % na Nasdaq às 11h05 de Nova Iorque, colocando a capitalização bolsista em 31,1 mil milhões de dólares. Desde o início do ano, os títulos acumulam uma queda de 14,4 %.

Apesar da reacção inicial, o director-chefe do Conselho, Jack Pope, sustenta que o “maior foco” deverá traduzir-se em melhor desempenho e criação de valor a médio prazo. A administração sublinha ainda que as duas novas sociedades terão fluxo de caixa suficiente para financiar crescimento orgânico, recompra de acções ou eventuais aquisições.

Próximas etapas

Até à conclusão da operação, o grupo continuará a funcionar como uma única entidade, mantendo processos, contratos e compromissos. A cisão exigirá a nomeação de equipas executivas, a reorganização de activos e a aprovação dos reguladores. Quando o processo for finalizado, a Kraft Heinz deixará de existir no formato actual, dando lugar a duas companhias independentes, cada uma mais direccionada para o seu segmento-chave.

Com esta decisão, Warren Buffett e a 3G Capital encerram um capítulo iniciado há uma década. A estratégia inicial privilegiava escala e sinergias; a nova aposta, porém, passa por empresas mais leves, focadas e com capacidade de adaptação rápida às mudanças no consumo global.

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