Kim Jong-un promete apoiar exército russo e apresenta filha como sucessora em encontro com Putin e Xi
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, declarou que Pyongyang cumprirá “um dever fraterno” de apoio total às forças armadas russas, durante uma reunião com Vladimir Putin e Xi Jinping em Pequim, realizada na quarta-feira, 3 de abril. Foi a primeira ocasião em que Kim se sentou simultaneamente com os presidentes da China e da Rússia, dois aliados centrais do regime.
Encontro trilateral em celebração militar chinesa
A reunião decorreu à margem de um desfile militar organizado por Pequim para assinalar o 80.º aniversário da rendição formal do Japão na Segunda Guerra Mundial. Num momento que reforça a cooperação entre Moscovo, Pequim e Pyongyang, Kim garantiu “apoio firme” à Rússia num momento em que Moscovo continua envolvida na guerra na Ucrânia. Putin descreveu a ligação entre os dois países como “especial”, enquanto Xi saudou a presença de ambas as delegações na capital chinesa.
De acordo com a imprensa estatal norte-coreana, a deslocação de Kim teve como objectivo aprofundar “laços de solidariedade” entre nações que se consideram sujeitas a pressões externas. Durante o desfile, o líder norte-coreano foi visto a conversar com vários chefes de Estado, exibindo visibilidade diplomática rara para a liderança de Pyongyang.
Filha de 12 anos surge como possível herdeira
Ao lado de Kim viajou Ju-ae, de 12 anos, que apareceu em todas as etapas da visita: da chegada ao aeroporto de Pequim à tribuna principal do desfile. É a primeira vez que a criança participa num encontro internacional ao mais alto nível, facto destacado pela agência estatal KCNA como “histórico”.
Segundo o Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul, Ju-ae é agora vista como a candidata mais provável à sucessão, repetindo o padrão hereditário instaurado por Kim Il-sung, fundador do regime. O organismo confirmou perante o parlamento sul-coreano que a presença constante da filha pretende consolidar a continuidade da dinastia. Os restantes filhos de Kim permanecem longe dos holofotes.
Desde o final de 2022, Ju-ae passou a integrar eventos com forte simbologia interna, entre eles lançamentos de mísseis balísticos, revistas militares e visitas a instalações estratégicas. As publicações oficiais referem-se a ela como “filha querida”, expressão que ganhou maior projecção com esta deslocação internacional.
Objectivos políticos e militares
No plano geopolítico, Pyongyang procura reforçar o chamado eixo Moscovo-Pequim-Pyongyang perante o aumento da cooperação de defesa entre Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. Ao prometer “apoio total” aos militares russos, Kim sinaliza disponibilidade para ampliar a assistência, que analistas ocidentais acreditam incluir fornecimento de munições e projécteis. Moscovo, por sua vez, tem sido apontada como fonte de tecnologias aeroespaciais e satelitárias usadas pelos norte-coreanos.

Imagem: Internet
Além da componente militar, a reunião serviu para destacar convergências políticas. Putin e Xi reiteraram oposição a sanções internacionais adicionais contra a Coreia do Norte, defendendo abordagens diplomáticas para as questões nucleares da península. Kim, por seu lado, qualificou as alianças lideradas por Washington como ameaças à soberania de cada país representado no encontro.
Imagens de prestígio e mensagem interna
Fotografias divulgadas na imprensa oficial mostraram Kim, Putin e Xi lado a lado, reforçando a imagem de aceitação internacional do líder norte-coreano. Para o regime, essas imagens funcionam como prova de legitimidade externa num contexto de isolamento económico e político prolongado.
Internamente, a presença de Ju-ae consolida a narrativa dinástica, sugerindo continuidade de liderança para além da atual geração. Analistas observam que a exposição controlada da filha prepara a população e a elite militar para uma eventual transição, ao mesmo tempo que projecta estabilidade perante adversários externos.
Próximos passos na cooperação
Durante os encontros paralelos, delegações dos três países discutiram passos concretos para aprofundar intercâmbio militar, incluindo exercícios conjuntos e partilha de inteligência, segundo relatos de meios estatais. Nenhum dos governos revelou detalhes de calendário ou âmbito dos futuros acordos.
A deslocação de Kim Jong-un a Pequim, com destaque para o compromisso de apoio à Rússia e a introdução pública da filha como sucessora, evidencia a consolidação de um bloco político-militar que desafia a ordem de segurança promovida pelos EUA e seus aliados. Resta perceber até que ponto as intenções declaradas se traduzirão em acordos formais e em que medida o envolvimento norte-coreano poderá alterar o curso do conflito na Ucrânia.