Israel mobiliza milhares de reservistas para ofensiva decisiva em Gaza City

Israel mobiliza milhares de reservistas para ofensiva decisiva em Gaza City

Milhares de militares da reserva começaram a apresentar-se esta terça-feira às Forças de Defesa de Israel (IDF), no âmbito da preparação de uma nova fase da operação terrestre que procura conquistar Gaza City, o maior centro urbano do enclave palestiniano.

Reforço de tropas e objectivos militares

Segundo fontes militares citadas pela comunicação social israelita, o exército convocou cerca de 60 000 reservistas para a chamada “Operação Gideon’s Chariots II”, iniciada em Maio e responsável pela tomada de, pelo menos, 75 % do território da Faixa de Gaza. Além da nova mobilização, foi prolongado o serviço de outros 20 000 efectivos já destacados.

Muitos destes reservistas serão enviados para a Cisjordânia ocupada e para o norte de Israel, libertando unidades no activo para avançar sobre Gaza City. No entanto, alguns batalhões registam menor adesão do que em chamadas anteriores: há soldados a pedir dispensa por motivos pessoais ou financeiros, depois de quase dois anos de conflito.

O chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, dirigiu-se aos mobilizados na base de Nachshonim, no centro do país, afirmando que o exército se prepara para nada menos do que uma “vitória decisiva”. “Vamos intensificar os ataques e não pararemos até derrotar o inimigo”, declarou.

Pressão sobre Gaza City e impacto humanitário

No terreno, tropas israelitas avançam já pelos arredores da cidade, descrita pelas IDF como bastião do Hamas. A ofensiva é acompanhada por intenso bombardeamento aéreo e de artilharia: hospitais locais relataram mais de 50 mortos desde a meia-noite, número que subiu para 95 ao longo do dia, de acordo com responsáveis hospitalares.

O exército ordenou a evacuação imediata dos civis para o sul da Faixa. A ONU calcula que cerca de 20 000 pessoas tenham conseguido partir nas últimas duas semanas; contudo, perto de um milhão permanece na zona de combate. Funcionários humanitários das Nações Unidas alertam que uma ofensiva em grande escala teria efeitos “além de catastróficos” em toda a região.

A situação nos hospitais do sul é igualmente crítica. Em Khan Younis, o hospital Nasser recebeu 31 corpos apenas esta terça-feira, incluindo vítimas de ataques em al-Mawasi e no campo da cidade. Profissionais de saúde relatam falta de equipamento, ruptura de fornecimentos e sobrelotação das urgências, onde a maioria dos feridos são crianças e idosos.

Fome, deslocação forçada e controvérsia internacional

Especialistas internacionais em segurança alimentar confirmaram que Gaza City enfrenta já uma situação de fome e preveem que esta se estenda a Deir al-Balah e Khan Younis até ao fim de Setembro. A ONU classifica o cenário como um “desastre de origem humana” e lembra que Israel, como potência ocupante, tem a obrigação de garantir o acesso a alimentos e cuidados médicos. Telavive rejeita restringir a entrada de ajuda e contesta os números do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, que aponta 13 mortes por subnutrição nas últimas 24 horas e um total de 361 desde o início da guerra.

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Imagem: Internet

Ao mesmo tempo, as Nações Unidas consideram que deslocar centenas de milhares de pessoas ainda mais para o sul poderia constituir transferência forçada, potencialmente qualificada como crime de guerra.

Reféns e tensão política interna

A presença de 48 reféns israelitas em Gaza, 20 dos quais se acredita estarem vivos, aumenta a pressão sobre o governo. Famílias dos sequestrados temem que o assalto a Gaza City ponha em risco os cativos e exigem um acordo imediato para a sua libertação. O chefe do Estado-Maior defendeu junto do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a aceitação de uma proposta mediada regionalmente que prevê uma trégua de 60 dias e a libertação de cerca de metade dos reféns. Netanyahu insiste num entendimento abrangente que inclua todos os sequestrados e o desarmamento completo do Hamas.

Reuniões recentes do gabinete de segurança registaram trocas de acusações. Segundo a imprensa israelita, Zamir advertiu que a estratégia actual pode levar à formação de um governo militar em Gaza e aumentar o risco para os reféns, mas garantiu que executaria as ordens aprovadas.

Balanço do conflito

A guerra começou em 7 de Outubro de 2023, quando um ataque liderado pelo Hamas matou cerca de 1 200 pessoas no sul de Israel e fez 251 reféns. Desde então, o Ministério da Saúde em Gaza contabiliza pelo menos 63 633 mortos no enclave.

Com a mobilização adicional de reservistas, Israel reforça a aposta numa ofensiva terrestre destinada a tomar Gaza City, derrotar o Hamas e libertar os cidadãos sequestrados. Contudo, a escalada militar ocorre num contexto de agravamento humanitário que suscita crescente preocupação internacional.

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