Investidores reforçam apostas em IA chinesa e elevam alavancagem recorde

Investidores reforçam apostas em IA chinesa e elevam alavancagem recorde

O mercado acionista chinês volta a atrair capitais internacionais, sustentado pelo avanço da inteligência artificial (IA) e pela expansão das empresas locais de semicondutores e software. O movimento tem-se refletido num aumento inédito do volume negociado com recurso a financiamento, sinal de confiança renovada entre investidores estrangeiros e gestores brasileiros.

Regresso do capital estrangeiro

Depois de três anos de foco quase exclusivo nos Estados Unidos, fundos globais redirecionam parte do portefólio para a China. Na terça-feira, 2 de setembro, o montante de ações compradas através de empréstimos atingiu 2,28 biliões de yuans (cerca de 319,2 mil milhões de dólares), novo máximo histórico, segundo dados compilados pela China Securities Finance e pela Bloomberg.

O Hang Seng, principal índice de Hong Kong, soma 26 % de valorização desde janeiro, superando largamente os 8 % registados pelo Nasdaq. Entre os investidores que aderiram a este rali estão as gestoras brasileiras SPX, Kapitalo e Legacy. Bruno Cordeiro, sócio da Kapitalo, justificou a aposta com “perspetivas favoráveis para o sector privado, sobretudo tecnologia”, apesar do elevado endividamento e do menor potencial de crescimento geral da economia chinesa.

Bancos internacionais alinham com essa visão. Num relatório recente, o UBS antecipa ganhos de lucros entre 25 % e 30 % no sector tecnológico chinês em 2025, impulsionados pela inovação em IA, serviços na nuvem e pelo alívio das restrições impostas aos chips avançados.

Big techs locais em aceleração

O Alibaba surge como exemplo dessa dinâmica. No último trimestre, a receita da sua unidade de computação em nuvem avançou 26&nbsp%, sustentada pela procura por serviços de IA. A empresa, incluída pelo Goldman Sachs na lista das “10 Proeminentes” da China, desenvolve ainda um chip próprio para atender a essa frente tecnológica. As ações acumularam subida de 52&nbsp% no ano, com um pico de 18,5&nbsp% no início da semana.

O lançamento de modelos de linguagem avançados reforça a competitividade do software chinês. O DeepSeek, apresentado em fevereiro, obteve resultados próximos dos pares norte-americanos, mesmo com menor infraestrutura. O Qwen, do Alibaba, e o Ernie, da Baidu, também têm superado benchmarks internacionais em várias métricas. Já a startup MiniMax, dedicada a modelos generativos de texto, áudio e vídeo, alcançou valorização de 2,5 mil milhões de dólares em 2024 e prepara uma oferta pública inicial em Hong Kong que poderá fixar o valor de mercado acima de 4 mil milhões.

Corrida local aos semicondutores

Desde 2022, as restrições dos Estados Unidos à exportação de chips de ponta aceleraram o esforço chinês para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros. A quota da Nvidia na China desceu de 95&nbsp% para 50&nbsp% nesse período, enquanto fabricantes domésticos ganharam terreno. A consultora Bernstein estima que, já em 2026, a maioria dos chips usados em aplicações de IA no país seja produzida localmente.

A Cambricon destaca-se como principal alternativa interna à Nvidia. A empresa encerrou o primeiro semestre de 2025 com aumento de 4.000&nbsp% na receita, atingindo 2,88 mil milhões de yuans (402,7 milhões de dólares), e lucro líquido recorde de 1,04 mil milhões de yuans. As ações sobem 157&nbsp% no ano.

No segmento de fabrico, a SMIC assume o papel de concorrente chinesa da taiwanesa TSMC. A fabricante reportou lucro de 449 milhões de dólares no último trimestre, 70&nbsp% superior ao período homólogo, e acumula valorização bolsista de 60&nbsp% em 2025.

Oportunidades em software

Apesar da valorização expressiva de hardware e semicondutores, o J.P. Morgan argumenta que as maiores oportunidades futuras residem no chamado soft tech — empresas de software e serviços digitais capazes de capturar diretamente os benefícios da IA generativa. A avaliação baseia-se na escalabilidade dessas soluções e na menor necessidade de capital intensivo quando comparadas à produção de chips.

Para sustentar o ritmo de crescimento, as autoridades chinesas sinalizam abertura a investimentos estrangeiros e flexibilização de regras. Analistas observam que a combinação de capital global, procura interna e políticas de inovação poderá reforçar a posição da China na corrida internacional pela inteligência artificial.

O cenário, contudo, mantém fatores de incerteza, como o endividamento estrutural e o contexto geopolítico que envolve semicondutores. Ainda assim, a trajetória recente de lucros, receitas e entrada de fundos sugere que o mercado tecnológico chinês consolidou-se como um dos focos mais atrativos para investidores que procuram exposição a IA fora dos Estados Unidos.

Posts Similares

Deixe uma resposta