Investidores dos EUA e Índia criam aliança de mil milhões para impulsionar deep tech

Investidores dos EUA e Índia criam aliança de mil milhões para impulsionar deep tech

Oito sociedades de capital de risco e private equity dos Estados Unidos e da Índia juntaram-se numa coligação inédita para canalizar mais de mil milhões de dólares para startups indianas de tecnologias de base durante a próxima década.

Aliança inédita reúne pesos-pesados do investimento

Denominada India Deep Tech Investment Alliance, a plataforma integra Celesta Capital, Accel, Blume Ventures, Gaja Capital, Ideaspring Capital, Premji Invest, Tenacity Ventures e Venture Catalysts. O acordo foi anunciado esta terça-feira e prevê compromissos financeiros válidos entre cinco e dez anos, concentrados em empresas com sede na Índia.

A aposta foca-se em fases iniciais de financiamento — do seed à Série B — evitando rondas tardias. Segundo os signatários, a verba de mil milhões de dólares representa apenas o ponto de partida, sendo esperado que outros fundos e grupos corporativos se juntem nos próximos meses.

Falta de capital motiva iniciativa

O movimento surge após críticas públicas do ministro indiano do Comércio, Piyush Goyal, que acusou o ecossistema local de privilegiar serviços de entregas em detrimento da inovação profunda. Investidores e fundadores responderam que o verdadeiro obstáculo é a escassez de capital paciente para projetos de alta intensidade tecnológica. A nova aliança pretende colmatar essa lacuna, oferecendo recursos de longo prazo, mentoria e rede de contactos.

Sinergia com programa governamental

Em janeiro, o governo aprovou o esquema de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (RDI), de cerca de 11 mil milhões de dólares, que exige que as empresas beneficiárias estejam domiciliadas no país. Ao alinharem-se com este requisito, os membros da aliança procuram tirar partido dos incentivos públicos dirigidos a sectores emergentes como inteligência artificial, semicondutores, espaço, quântica, robótica, biotecnologia, energia e tecnologias para o clima.

Para garantir coordenação, foi criado um comité consultivo com representantes da Accel, Premji Invest e Venture Catalysts. A presidência inicial fica a cargo de Arun Kumar, sócio-gerente da Celesta Capital, sendo prevista rotação periódica do cargo.

Coordenação num contexto competitivo

No mercado de venture capital, é comum os fundos competirem por negócios pontuais, mas raro formarem blocos formais com metas financeiras vinculativas. A aliança pretende harmonizar processos de seleção, partilhar diligência prévia e facilitar co-investimentos, mantendo a autonomia de cada fundo.

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Imagem: Internet

Além do financiamento, os investidores planeiam cooperar com Nova Deli na definição de políticas que estimulem a indústria privada, atuando como voz unificada junto do executivo. Experiências anteriores mostraram que alterações regulatórias sem consulta prévia geraram instabilidade; a coligação vê, por isso, valor em dialogar antecipadamente com os decisores.

Relações EUA-Índia influenciam estratégia

A aposta coincide com o lançamento da iniciativa bilateral TRUST, destinada a reforçar laços tecnológicos entre Washington e Nova Deli. Contudo, tensões recentes, como tarifas de 50 % impostas pelos EUA sobre produtos indianos devido à manutenção de compras de petróleo russo, criam um pano de fundo complexo. Mesmo assim, os fundos envolvidos defendem que o potencial da Índia como polo de inovação justifica o investimento.

Impacto esperado no ecossistema

Com talento qualificado, ambição crescente e apoio governamental, a Índia procura posicionar-se como fornecedora global de soluções disruptivas. Anand Daniel, parceiro da Accel, destaca que “as condições para construir e exportar tecnologia de ponta estão todas reunidas”. A união de capital privado e incentivos públicos pode acelerar o surgimento de empresas capazes de competir em áreas críticas, desde chips a energias limpas.

Nos próximos anos, a India Deep Tech Investment Alliance funcionará como plataforma aberta a novos participantes que cumpram os critérios do RDI. Caso o modelo se revele eficaz, poderá servir de referência para outras geografias onde o acesso a financiamento de longo prazo condiciona a inovação.

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