Imigrantes e descendentes criaram quase metade das companhias da Fortune 500, mas clima adverso põe em risco esse motor econômico

Imigrantes e descendentes criaram quase metade das companhias da Fortune 500, mas clima adverso põe em risco esse motor econômico

Quase metade das empresas listadas atualmente na Fortune 500 foi fundada por imigrantes ou por seus filhos, de acordo com dados de entidades que monitoram a participação de estrangeiros no empreendedorismo norte-americano. Esse desempenho reflete uma tendência mais ampla: entre 2018 e 2023, o número de negócios de propriedade de latinos cresceu 44%, resultado que adicionou mais de US$ 650 bilhões em receitas anuais à economia dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, empresários latinos e outros imigrantes abriram empresas em ritmo duas vezes superior ao observado no conjunto da população. A expansão concentra-se sobretudo em setores de alta demanda, como construção civil e manufatura, contribuindo para a geração de empregos formais, arrecadação de tributos e fortalecimento das economias locais.

Organizações dedicadas ao desenvolvimento econômico latino, porém, alertam que políticas federais e estaduais de viés anti-imigração ameaçam interromper esse ciclo de crescimento. Operações policiais migratórias, cortes em programas de apoio a pequenas empresas e o avanço de tarifas comerciais afetam o planejamento financeiro dos empreendedores. Até imigrantes com situação regular têm reduzido o consumo em restaurantes e lojas para poupar recursos destinados a eventuais custos jurídicos ou de tutela, caso sejam separados de familiares.

Além do ambiente político adverso, cortes orçamentários propostos para a Administração de Pequenas Empresas dos EUA (SBA) e para iniciativas rurais do Departamento de Agricultura dificultam o acesso a serviços de orientação empresarial. Esses programas oferecem consultoria sobre fluxo de caixa, elaboração de planos de negócios e participação em licitações governamentais — ferramentas consideradas decisivas para a sobrevivência de micro e pequenas empresas em momentos de choque econômico, como tarifas adicionais ou desastres naturais.

Outro ponto de preocupação é o recente desmantelamento da Agência de Desenvolvimento de Negócios de Minorias, que resultará no fechamento de diversos centros de apoio em comunidades de maioria latina, asiática e afro-americana. Sem essas estruturas, o alcance de serviços essenciais, sobretudo em regiões afastadas dos grandes centros, pode ser significativamente reduzido.

Acesso restrito a crédito

Dados do Federal Reserve indicam que empresários latinos recebem negativas de financiamento em uma proporção duas vezes maior que empreendedores brancos. Mesmo quando o crédito é aprovado, a quantia liberada costuma ser inferior ao solicitado: empresas de propriedade de latinos têm cerca de metade da probabilidade de obter o valor integral requerido.

Para contornar essas barreiras, especialistas recomendam ampliar investimentos em Instituições Financeiras de Desenvolvimento Comunitário (IFDCs), organizações que se concentram em empréstimos de baixo valor, como aqueles demandados por carrinhos de comida ou barbearias. IFDCs lideradas por latinos demonstram maior capacidade de atender proprietários latino-americanos, mas representam apenas 15% das entidades desse tipo na Califórnia.

Exemplos de iniciativas recentes incluem o Latino Capital Accelerator, criado pela Latino Community Foundation, e o trabalho conjunto da CAMEO Network, que presta suporte anual a mais de 300 empresas latinas por meio de capacitação de IFDCs. Apesar desses esforços, a escala ainda é considerada insuficiente diante do universo de empreendedores que buscam crédito.

A fim de mitigar a discriminação no acesso a recursos financeiros, o Escritório de Proteção Financeira do Consumidor (CFPB) finalizou uma regra que exige a coleta de dados demográficos em operações de crédito para pequenas empresas. A medida permitiria identificar padrões de rejeição associados à origem étnica ou ao gênero dos solicitantes, mas a aplicação da norma foi suspensa pela administração federal em vigor.

Potencial de crescimento

Estudos apontam que, caso tivessem a mesma receita média de negócios controlados por brancos, empresas de propriedade de latinos poderiam acrescentar US$ 1,1 trilhão à economia dos EUA. Líderes de entidades de apoio argumentam que ampliar o suporte técnico, garantir linhas de financiamento adequadas e combater práticas discriminatórias beneficiaria não apenas as comunidades imigrantes, mas toda a estrutura econômica do país.

A posse de pequenos negócios continua sendo um dos principais caminhos para a construção de riqueza nos Estados Unidos. Para imigrantes e seus descendentes, o empreendedorismo representa a chance de transformar trabalho árduo e criatividade em estabilidade financeira. Organizações do setor destacam que o país enfrenta, neste momento, uma escolha entre promover um ambiente aberto à diversidade empresarial ou adotar uma abordagem cada vez mais restrita sobre quem pode participar do mercado. O desfecho dessa decisão terá impacto direto na vitalidade econômica de cidades, estados e, em última instância, da nação.

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