Hospital aponta mais de 50 mortos e 400 feridos em fila por ajuda alimentar em Gaza durante visita de emissário dos EUA

Hospital aponta mais de 50 mortos e 400 feridos em fila por ajuda alimentar em Gaza durante visita de emissário dos EUA

Jerusalém, 15 min atrás — O diretor do hospital al-Shifa, Mohammed Abu Salmiya, informou que 54 corpos e 412 feridos deram entrada na unidade depois de um episódio ocorrido na quarta-feira, 10 de julho, na região da passagem de Zikim, ao norte da Cidade de Gaza. Segundo a autoridade de Defesa Civil administrada pelo Hamas, militares israelenses dispararam contra milhares de palestinos que aguardavam a chegada de caminhões de alimentos. O Exército de Israel confirma tiros de advertência, mas afirma não ter conhecimento de vítimas provocadas por suas forças.

Discrepância nos relatos sobre a ação militar

A Defesa Civil controlada pelo Hamas declarou que os disparos atingiram diretamente a multidão que cercava os veículos de ajuda humanitária. Já as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) sustentaram, por meio de comunicado, que os soldados “identificaram dezenas de palestinos reunidos perto de caminhões e em proximidade perigosa às tropas”, reagindo com tiros para o alto, a certa distância, “em resposta à ameaça percebida”. Ainda de acordo com o Exército, uma investigação preliminar não encontrou indícios de mortos ou feridos causados pelo fogo israelense.

Repórteres internacionais permanecem impedidos de entrar de forma independente na Faixa de Gaza, o que dificulta a confirmação autônoma dos fatos. Relatos colhidos por jornalistas locais indicam que, entre as vítimas, há adolescentes e trabalhadores desempregados que buscavam apenas sacos de farinha.

Novo incidente em Rafah

Horas antes, fontes médicas no sul de Gaza comunicaram a morte de seis pessoas nas imediações de um centro de distribuição mantido pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF), organização apoiada por Israel e pelos Estados Unidos. A IDF declarou que um “grupo suspeito” foi advertido a se afastar e que tiros de advertência foram efetuados a “centenas de metros” do local. A GHF negou registros de vítimas próximas a seus pontos de entrega.

Mortes recorrentes em busca de mantimentos

Dados do Escritório de Direitos Humanos da ONU indicam que mais de 1.050 palestinos morreram desde o fim de maio enquanto tentavam obter alimentos. Desses, pelo menos 766 teriam perdido a vida perto de um dos quatro centros da GHF, operados por contratados privados norte-americanos dentro de zonas militares israelenses, e 288 próximos a comboios da ONU ou de outras agências.

A GHF afirma ter distribuído 98 milhões de refeições em dois meses e contesta as estatísticas da ONU, classificando-as como “falsas”. As Nações Unidas não cooperam com o modelo da fundação, alegando falta de neutralidade, imparcialidade e independência, além de riscos à segurança dos civis.

Risco de fome generalizada

Na mesma quarta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, relatou sete novas mortes relacionadas à desnutrição, elevando o total para 154 desde o início do conflito. Um dia antes, especialistas de segurança alimentar apoiados pela ONU advertiram que o “pior cenário de fome” já se manifestava entre os 2,1 milhões de habitantes do território.

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Imagem: bbc.com

Israel, responsável por autorizar a entrada de suprimentos, nega impor restrições e declara que “não há fome” em Gaza. Ainda assim, há quatro dias, as forças israelenses anunciaram “pausas táticas” diárias em três áreas e a criação de “corredores humanitários” destinados a facilitar a coleta e distribuição de ajuda. O Escritório Humanitário da ONU avalia que essas interrupções são insuficientes para atender às necessidades massivas, citando multidões famintas que descarregam os caminhões assim que eles cruzam as passagens.

Diplomacia sob pressão

O episódio em Zikim ocorreu enquanto o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, desembarcava em Israel para tentar destravar negociações de cessar-fogo e liberar reféns ainda mantidos pelo Hamas. Autoridades israelenses alertaram que, se não houver avanços nos próximos dias, poderão adotar medidas punitivas adicionais contra o grupo, incluindo, segundo a imprensa local, a anexação de partes da Faixa de Gaza.

Witkoff também deve visitar pontos de distribuição administrados pela GHF. Pouco depois de sua chegada, o presidente norte-americano Donald Trump escreveu em rede social que “a forma mais rápida de encerrar a crise humanitária em Gaza é Hamas se render e libertar os reféns”.

Números do conflito

A campanha militar israelense começou após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos em Israel e resultou no sequestro de 251 pessoas. Desde então, o Ministério da Saúde de Gaza reporta 60.249 mortos, incluindo 111 nas últimas 24 horas.

Enquanto diplomatas discutem uma trégua, civis continuam a enfrentar escassez crítica de alimentos, combates e bombardeios. As divergências sobre a responsabilidade pelos ataques a pessoas em busca de ajuda, somadas às acusações de bloqueio de suprimentos, alimentam a crise humanitária que se aprofunda a cada novo episódio de violência.

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