Hamas condiciona desarmamento à criação de Estado palestino soberano
O movimento palestino Hamas reafirmou que não abrirá mão de suas armas antes da criação de um Estado palestino plenamente soberano, com Jerusalém como capital. A posição foi divulgada neste sábado (29) em resposta a declarações atribuídas ao enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, segundo as quais o grupo teria manifestado “disposição” para se desmilitarizar.
A exigência de desarmamento do Hamas é um dos elementos centrais apresentados por Israel para qualquer acordo que encerre a guerra iniciada em outubro de 2023. As negociações indiretas entre israelenses e a facção, mediadas por interlocutores internacionais, travaram na semana passada sem consenso sobre cessar-fogo nem libertação de reféns.
Pressão regional e internacional
Nos últimos dias, governos árabes pressionaram o Hamas a entregar o controle da Faixa de Gaza, depois que França e Canadá anunciaram planos para reconhecer formalmente um Estado palestino. O Reino Unido afirmou que poderá adotar o mesmo caminho se Israel não atender a determinadas condições até setembro.
Mesmo assim, o comunicado do Hamas manteve a linha de que o grupo “não renuncia ao direito de resistência nem às suas armas” enquanto não houver um Estado palestino “independente e totalmente soberano”.
Manutenção das operações militares
O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), tenente-general Eyal Zamir, advertiu na sexta-feira (28) que os combates em Gaza prosseguirão sem pausa se as negociações não resultarem rapidamente na libertação dos reféns detidos pelo Hamas. Pelo menos 251 pessoas foram sequestradas durante o ataque de 7 de outubro de 2023 ao sul de Israel, que deixou cerca de 1.200 mortos.
No sábado, a família do refém Evyatar David divulgou nota após a publicação de um vídeo em que ele aparece desnutrido e sem camisa em um túnel escuro. Parentes acusaram o Hamas de privar o israelense de alimentação como parte de uma campanha de propaganda e pediram aos governos de Israel e dos Estados Unidos que intensifiquem esforços para salvá-lo.
Agenda do enviado norte-americano
Steve Witkoff cumpre agenda em Israel em meio à crescente pressão sobre o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diante do agravamento da crise humanitária em Gaza. Agências da ONU alertam para o risco de fome em larga escala, provocado por fatores humanos. Elas responsabilizam as restrições impostas por Israel, que controla todas as entradas de suprimentos no território. As autoridades israelenses negam haver impedimentos à ajuda e sustentam que “não há fome” na região.

Imagem: bbc.com
Em Tel Aviv, Witkoff encontrou-se neste sábado com famílias de reféns. Imagens publicadas nas redes sociais mostram o enviado sendo aplaudido e abordado por apoiadores do grupo, que lhe pediram empenho para a libertação de todos os sequestrados. Na ocasião, ele declarou que os esforços de paz devem priorizar o fim dos combates e o retorno de todos os reféns, rejeitando o que descreveu como “acordos parciais”.
A viagem de Witkoff incluiu reunião com Netanyahu na quinta-feira (27) e inspeção, na sexta-feira, de um ponto de distribuição de ajuda no sul de Gaza que vem sendo alvo de críticas internacionais.
Mortes em busca de alimentos
Dados das Nações Unidas indicam que pelo menos 1.373 palestinos morreram tentando obter comida desde o fim de maio. A maior parte dos óbitos ocorreu nas proximidades de centros de distribuição vinculados à Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e Estados Unidos. O Exército israelense alega que o Hamas provoca tumultos nesses locais e afirma que seus soldados não disparam intencionalmente contra civis.
Balanço do conflito
De acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, mais de 60 mil pessoas foram mortas em Gaza desde o início da ofensiva israelense. Entre as vítimas, 169 — incluindo 93 crianças — teriam sucumbido à desnutrição. Do lado israelense, as operações começaram após o ataque de 7 de outubro, quando militantes do Hamas invadiram comunidades no sul de Israel, causando 1.200 mortes e levando 251 reféns para o enclave.
Enquanto autoridades internacionais tentam reanimar as negociações, Israel mantém a condição de desarmamento do Hamas como pré-requisito para qualquer cessar-fogo de longo prazo, e o movimento islâmico insiste que só deporá as armas após o reconhecimento de um Estado palestino soberano. Com a estagnação dos contatos diplomáticos e a situação humanitária se deteriorando, o conflito se prolonga sem perspectiva imediata de interrupção.