Governo reafirma realização da COP30 em Belém mesmo sob pressão internacional
O governo brasileiro descartou qualquer possibilidade de transferir a 30ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP30) para outra cidade, apesar de questionamentos feitos por delegações estrangeiras a respeito de preços de hospedagem e infraestrutura em Belém, capital paraense que receberá o encontro em menos de cem dias.
Em videoconferência com jornalistas, o embaixador André Corrêa do Lago, que preside a organização da conferência, assegurou que tanto as sessões de negociação quanto a cúpula de chefes de Estado ocorrerão em Belém e afirmou não existir “plano B”. A posição foi reiterada pelo Palácio do Planalto, que informou não haver discussão interna sobre mudança de sede e reforçou o compromisso de oferecer um evento “amplo, inclusivo e acessível”.
Pressões e reunião de emergência
A manutenção da localização foi contestada na semana passada, durante encontro extraordinário no secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Delegados de vários países, sobretudo em desenvolvimento, alegaram que não conseguem arcar com as tarifas atuais de hospedagem praticadas pela rede hoteleira de Belém. Segundo relatos apresentados na reunião, diárias estão entre dez e quinze vezes superiores aos valores regulares, percentual bem acima do observado em edições anteriores da COP, quando o aumento máximo chegou a triplicar os preços usuais.
No encontro, a UNFCCC chegou a sugerir que a parte da conferência em que líderes discursam fosse deslocada para outra localidade, como forma de aliviar a demanda por quartos. O governo brasileiro, contudo, rejeitou a proposta e se comprometeu a apresentar medidas alternativas na próxima rodada de conversas com o secretariado, prevista para a semana seguinte.
Capacidade hoteleira limitada
Belém possui cerca de 1,5 milhão de habitantes e oferta restrita de hotéis. Embora o governo federal tenha anunciado investimento aproximado de R$ 4 bilhões em obras de mobilidade, saneamento e melhorias na rede hoteleira, a escassez de leitos permanece. Corrêa do Lago apontou que alguns estabelecimentos cobram diárias muito superiores ao teto de US$ 146 estipulado pela ONU para custear hospedagem, alimentação e transporte de representantes dos países menos desenvolvidos. Para esses governos, o Brasil reservou de 10 a 15 quartos por delegação, com diária de até US$ 220, valor ainda acima do subsídio internacional.
Além do custo, as delegações manifestaram preocupação com a distância entre as acomodações disponíveis e o centro de convenções que sediará as negociações, a oferta de alimentação para participantes alojados em casas alugadas e a capacidade dos aeroportos de Belém e municípios vizinhos para absorver o fluxo de visitantes.
Objetivos políticos e econômicos
A escolha de Belém atende ao propósito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de apresentar a floresta amazônica à comunidade global durante a COP30. O governador do Pará, Helder Barbalho, aliado de Lula nas eleições de 2022 e provável parceiro em 2026, também vê o evento como oportunidade de atrair investimentos públicos e privados para o estado. Os recursos federais previstos se somam a aportes do governo estadual em obras de infraestrutura e serviços.

Imagem: REUTERS via infomoney.com.br
Plataforma de reservas e busca por soluções
Na última sexta-feira, o comitê organizador liberou uma plataforma oficial de hospedagem. Na segunda-feira seguinte, o sistema indicava fila de espera com quase 2 mil pessoas; jornalistas da agência Reuters aguardaram cerca de uma hora para acessar o site. As diárias listadas variavam de US$ 360 a US$ 4.400.
Corrêa do Lago demonstrou insatisfação com o fato de o debate sobre logística ter ganhado prioridade em detrimento das discussões climáticas. Para ele, a atenção destinada a hospedagem e transporte compromete o tempo reservado às negociações de metas de redução de emissões e financiamento para adaptação.
Próximos passos
O governo brasileiro deve apresentar na próxima semana propostas voltadas a conter os custos de hospedagem, aumentar a oferta de quartos e garantir transporte adequado às delegações. Até o momento, contudo, autoridades mantêm o posicionamento de que todas as etapas da COP30 permanecerão em Belém, sem divisão de sessões ou deslocamento para outras cidades.
Delegados estrangeiros aguardam as medidas prometidas antes de tomar decisões sobre o tamanho e a composição de suas comitivas. Enquanto isso, hotéis continuam ajustando tarifas e residentes locais investem em reformas para oferecer imóveis em plataformas de aluguel temporário, na expectativa de atender à demanda gerada pelo encontro, previsto para ocorrer no segundo semestre.
Com a proximidade do evento, o governo federal busca equilibrar a necessidade de mostrar a Amazônia como símbolo da agenda climática brasileira com a pressão internacional por condições logísticas compatíveis com o porte da conferência. Até o momento, a sede permanece confirmada: Belém continuará a ser o palco da COP30.