Ford adota montagem em “árvore” para reduzir custos de veículos elétricos

A Ford anunciou nesta segunda-feira, 11, a criação de uma nova arquitetura industrial destinada a baratear a fabricação de veículos elétricos. A estratégia prevê uma linha de montagem inédita, descrita como “árvore de montagem”, que substituirá o modelo linear tradicional popularizado pela própria empresa. A operação será implantada inicialmente na fábrica de Louisville, no estado norte-americano do Kentucky, como parte de um investimento total de US$ 5 bilhões que prevê a geração de 4 mil empregos, dos quais US$ 2 bilhões ficarão na unidade local.

Plataforma única e configurável

O centro da mudança é uma plataforma universal, escalável e adaptável a diversos tipos de carroceria. Segundo a montadora, a base estruturará desde picapes e SUVs até vans e caminhões em uma mesma instalação, permitindo que diferentes produtos sejam montados de forma simultânea. O conceito elimina a necessidade de projetos independentes para cada segmento e reduz a quantidade de componentes compartilhados.

Essa plataforma foi concebida para operar com sistemas eletrônicos definidos por software. Dessa forma, funcionalidades e parâmetros de desempenho poderão ser atualizados remotamente ao longo do ciclo de vida do veículo, sem intervenções físicas na oficina. A companhia afirma que tal abordagem facilita correções de bugs, introdução de novos recursos e otimização de eficiência energética.

Estrutura em três subconjuntos

A principal inovação está no arranjo das linhas. Em vez de uma única esteira contínua, a fábrica passará a trabalhar com três linhas independentes que convergem ao final do processo. Cada segmento cuidará de um subconjunto específico: dianteira, centro (onde fica o conjunto de baterias) e traseira. Após a produção separada, as partes serão integradas para formar o veículo completo.

De acordo com a Ford, o formato em árvore emprega 20 % menos peças, 25 % menos fixadores e exige 40 % menos estações de trabalho em comparação com a metodologia atual. O tempo total de montagem é projetado para ser 15 % mais rápido, fator que impacta diretamente no custo de produção.

Meta de custo inferior ao do Tesla Model Y

Com a redução de componentes, simplificação da rede de cabos e otimização de fluxo de trabalho, a companhia prevê que os automóveis fabricados nessa linha poderão ter custo total de propriedade, em um horizonte de cinco anos, inferior ao de um Tesla Model Y usado de três anos. O cálculo considera despesas de aquisição, manutenção e operação.

Outro elemento que contribui para a economia é a adoção de baterias de fosfato de ferro e lítio (LFP). Esse tipo de célula, segundo a fabricante, apresenta maior durabilidade, preço mais baixo e recargas mais rápidas que as soluções químicas atualmente adotadas na maioria dos modelos elétricos. Como a bateria é o componente mais oneroso do conjunto, o uso de LFP tende a assegurar impacto direto no preço final ao consumidor.

Ford adota montagem em “árvore” para reduzir custos de veículos elétricos - Imagem do artigo original

Imagem: Ford via olhardigital.com.br

Primeira picape sai em 2027

Embora não tenha detalhado a gama completa, a Ford informou que o primeiro veículo a sair da nova linha será uma picape de médio porte com quatro portas, estimada em US$ 30 mil, equivalente a pouco mais de R$ 160 mil pela cotação atual. A produção está prevista para 2027. Informações sobre autonomia não foram divulgadas, mas a montadora adianta que o modelo deverá acelerar de 0 a 100 km/h em aproximadamente 4,5 segundos, desempenho comparável ao de alguns esportivos Mustang.

Racionalização industrial e impacto regional

O valor de US$ 5 bilhões anunciado cobre modernização de instalações, aquisição de equipamentos e desenvolvimento de engenharia. Além dos 4 mil postos diretos estimados, a expectativa da montadora é estimular toda a cadeia de fornecedores do estado do Kentucky, tradicional polo automotivo norte-americano.

Por ora, a fábrica de Louisville será a única a operar o sistema em árvore, mas a empresa indica que o conceito poderá ser replicado em outras unidades no futuro, caso os resultados de produtividade se confirmem. A transição também sinaliza o encerramento gradual do método de linha única que marcou o Fordismo ao longo do século XX.

Com plataforma flexível, evolução via software e reorganização fabril, a Ford busca posicionar-se no segmento de elétricos de entrada, mercado que vem se expandindo diante de pressões regulatórias por emissões reduzidas e da necessidade de competir com fabricantes especializados em veículos a bateria.

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