Ameaçado pelo Talibã, ex-soldado afegão incluído em vazamento britânico é detido no Paquistão para deportação
Um ex-integrante das forças especiais afegãs que trabalhou com tropas britânicas teve prisão decretada pelas autoridades do Paquistão e pode ser deportado “a qualquer momento” para o Afeganistão, segundo relato do filho à BBC. O homem, cuja identidade não foi revelada por motivos de segurança, integra o grupo conhecido como Triples, que atuou ao lado do Reino Unido durante a guerra.
O Ministério da Defesa britânico (MoD) confirmou, em documento visto pela BBC, ter endossado em 2023 a candidatura do militar e de seus familiares ao programa Afghan Relocations and Assistance Policy (ARAP). O processo, porém, ainda não foi concluído. A família aguardava em Islamabad desde outubro de 2024 quando agentes paquistaneses os levaram para um centro de detenção na capital.
Dados vazados aumentam o risco
O caso é agravado porque os nomes do ex-soldado e de quase 19 mil afegãos que solicitaram reassentamento no Reino Unido foram expostos em um vazamento de dados ocorrido em fevereiro de 2022. Familiares afirmam temer represálias do Talibã caso sejam devolvidos ao Afeganistão.
Segundo o filho — identificado pela reportagem como Rayan —, crianças, incluindo um bebê de oito meses, também foram detidas. Ele escapou após se esconder com a esposa e o filho em um banheiro de hotel. “Estou com medo de que a polícia volte e nos leve”, disse. Rayan tenta agora ser transferido para outro local pelo Alto Comissariado Britânico.
Paquistão intensifica expulsões
Desde setembro de 2023, quando lançou o Illegal Foreigners’ Repatriation Plan, o Paquistão repatriou 1.159.812 pessoas para o Afeganistão, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM). O governo paquistanês afirma que a medida vale para todos os estrangeiros em situação irregular.
O ministro do Interior, Talal Chaudry, criticou a demora britânica em reassentar colaboradores: “Já se passaram anos. Perguntem às autoridades do Reino Unido por que estão atrasando esses processos”.
Risco humanitário
Apesar da promessa do Talibã de que “todos os afegãos podem viver sem medo”, um relatório da ONU intitulado “No safe haven” divulgado em junho questiona a segurança de ex-militares e funcionários do antigo governo. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) pede que retornos sejam “voluntários, seguros e dignos”.
Para o ex-comandante da RAF e hoje deputado trabalhista Calvin Bailey, que serviu com a unidade Triples, a detenção é “extremamente preocupante”. Ele cobrou “proteção mínima garantida” a quem auxiliou as forças britânicas.

Imagem: bbc.com
De acordo com a ONU, cerca de três milhões de afegãos vivem no Paquistão — metade sem documentação. Pouco mais de 600 mil chegaram após a retomada de Cabul pelo Talibã, em agosto de 2021.
O MoD declarou que não comenta casos individuais, mas que “mantém o compromisso” de realocar todos os elegíveis que concluírem as verificações.
O desenrolar deste episódio expõe as consequências do vazamento de dados e a urgência das decisões pendentes do Reino Unido, enquanto o Paquistão acelera o retorno de estrangeiros sem visto.
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Com informações de BBC News