EUA elevam tarifa sobre produtos indianos a 50% por compras de petróleo russo
O governo dos Estados Unidos anunciou um acréscimo de 25 pontos percentuais às tarifas aplicadas sobre importações originárias da Índia, medida que eleva a alíquota total para 50%. O motivo declarado para a decisão é a continuidade das aquisições indianas de petróleo da Rússia em meio ao conflito na Ucrânia. A determinação consta de ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump e deverá entrar em vigor em 27 de agosto, 21 dias após a publicação.
Em comunicado divulgado na quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Índia classificou a medida como “injusta, desproporcional e irracional”. Nova Délhi reiterou que já havia deixado claro seu posicionamento sobre o comércio de energia com Moscou e afirmou que adotará “todas as providências necessárias” para resguardar seus interesses nacionais.
A Casa Branca justificou o aumento das tarifas ao afirmar que as ações da Federação Russa na Ucrânia representam ameaça constante à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos. Segundo o texto, as compras indianas de petróleo russo enfraquecem os esforços de Washington para conter a atuação de Moscou no conflito. O governo norte-americano informou ainda que revisará práticas de outros importadores de petróleo russo e poderá recomendar novas medidas ao presidente.
Setores mais afetados
Com a nova alíquota, produtos indianos como têxteis, gemas e joias, autopeças e frutos do mar passarão a enfrentar taxa de 50% para entrar no mercado norte-americano. Esses segmentos concentram elevado contingente de empregos na economia indiana. Eletrônicos – incluídos aparelhos como iPhones montados no país – e produtos farmacêuticos permanecem isentos no momento.
O aumento tarifário foi anunciado poucas horas após o principal enviado de Trump para assuntos internacionais, Steve Witkoff, concluir reuniões em Moscou voltadas a uma possível negociação de paz entre Rússia e Ucrânia. A ação amplia a estratégia da Casa Branca de impor sanções secundárias a nações que continuem negociando recursos energéticos com a Rússia. Medidas semelhantes já foram direcionadas a compradores de petróleo venezuelano.
Reações em Nova Délhi
Entidades indianas do setor privado preveem impacto expressivo nas exportações para os Estados Unidos. A Federação das Organizações Indianas de Exportação avaliou a decisão como “extremamente surpreendente” e estima que 55% do volume exportado ao mercado norte-americano será diretamente afetado. O think tank Global Trade Research Initiative (GTRI), sediado em Nova Délhi, calcula que as mercadorias indianas ficarão substancialmente mais caras para o consumidor dos EUA, o que poderia reduzir as vendas entre 40% e 50%.
O ex-funcionário de comércio externo da Índia e atual diretor do GTRI, Ajay Srivastava, recomendou que o governo evite retaliações imediatas e aguarde pelo menos seis meses antes de adotar contramedidas. Para ele, negociações comerciais significativas não podem avançar sob clima de ameaças ou desconfiança.
Contexto do comércio de energia
Petróleo e gás natural respondem pela maior fatia das exportações russas. Entre os principais compradores figuram China, Índia e Turquia. Autoridades indianas recordam que, no início do conflito, Washington teria sugerido a diversificação de fornecedores para estabilizar o mercado global de energia. De acordo com Nova Délhi, a compra de petróleo russo intensificou-se quando fornecimentos tradicionais foram redirecionados à Europa após o início das hostilidades.

Imagem: bbc.com
Embora pressione parceiros a restringir negócios com Moscou, os Estados Unidos mantiveram fluxo de comércio avaliado em cerca de US$ 3,5 bilhões em bens com a Rússia no ano passado, mesmo sob sanções já vigentes. Esse volume tem sido apontado por representantes indianos como evidência de critérios considerados assimétricos.
Consequências para a relação bilateral
Trump e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, trocaram demonstrações públicas de cordialidade em anos anteriores e chegaram a participar de grandes eventos nos respectivos países. Entretanto, o aumento tarifário indica divergência de interesses entre as duas capitais. A Índia é hoje o maior parceiro comercial individual dos Estados Unidos, posição que torna o confronto tarifário potencialmente sensível para ambos os lados.
Além da elevação de tarifas sobre produtos indianos, o presidente norte-americano ameaça anunciar na sexta-feira um pacote mais amplo de sanções contra a Rússia, incluindo a possibilidade de tarifas de 100% sobre países que continuem adquirindo petróleo de origem russa. Caso aplicada, essa política poderá atingir outras economias que mantêm laços energéticos com Moscou.
Esta não é a primeira ocasião em que a administração Trump recorre a tarifas secundárias para pressionar governos estrangeiros. Medidas comparáveis foram adotadas contra nações que importam petróleo da Venezuela, com repercussões negativas sobre cadeias globais de abastecimento. Analistas de comércio observam que a imposição de barreiras a países considerados aliados sinaliza disposição de Washington em priorizar a estratégia de contenção a Moscou sobre acordos econômicos tradicionais.
Autoridades indianas destacaram que continuarão monitorando os desdobramentos e reforçaram a intenção de proteger a competitividade dos exportadores locais. Até o momento, não houve anúncio de contramedidas tarifárias por parte de Nova Délhi. O governo também não indicou alterações imediatas na política de importação de petróleo da Rússia, uma das principais fontes de energia para a economia do país.