Estudo revisto reforça tese de sepultamentos praticados pelo Homo naledi

Estudo revisto reforça tese de sepultamentos praticados pelo Homo naledi

Uma versão revista de um estudo sobre o Homo naledi volta a colocar esta espécie pré-histórica no centro do debate científico. A equipa liderada por Lee Berger, responsável pela descoberta dos fósseis no sistema de cavernas Rising Star, África do Sul, submeteu novas análises que apontam para a possibilidade de enterros intencionais realizados por indivíduos com cérebro reduzido.

Revisão científica altera posição de avaliador

Quando o artigo foi inicialmente avaliado, os quatro revisores consideraram insuficientes as evidências de deposição funerária deliberada. As dúvidas concentravam-se na forma como os ossos chegaram às galerias profundas da gruta e se poderiam ter sido transportados por água, sedimentos ou quedas acidentais.

Na versão agora apresentada na revista eLife, dois dos revisores voltaram a analisar o material. Um deles mantém reservas, alegando incerteza sobre o modo como os corpos teriam atravessado passagens tão estreitas. O outro, porém, declara ter mudado de opinião após a incorporação de dados adicionais e melhorias metodológicas realizadas pela equipa de Berger.

Novos dados tafonómicos sustentam hipóteses de cova

A investigação revista introduz reconstruções tafonómicas detalhadas, incluindo a posição anatómica dos restos, padrões de deslocamento e articulações preservadas. Estes elementos são apresentados como compatíveis com a colocação em covas escavadas de propósito, em vez de deposição natural.

Os autores acrescentam ainda uma linha temporal que descreve as etapas de morte, deposição, cobertura e preservação. Para o revisor que adoptou agora uma posição favorável, este quadro cronológico distingue claramente processos naturais, como inundações, de actividades realizadas pelo próprio grupo de hominídeos.

Cérebro pequeno, comportamento complexo?

O Homo naledi viveu há cerca de 335 a 236 mil anos e possuía um volume cerebral comparável ao de um chimpanzé. Esse facto tem sido usado como argumento para rejeitar comportamentos simbólicos considerados avançados, como rituais funerários. Contudo, os novos resultados sugerem que a capacidade de enterrar mortos pode não depender exclusivamente do tamanho do cérebro, o que teria implicações na compreensão da evolução cognitiva humana.

Persistem críticas e desafios

Ainda que um dos avaliadores tenha cedido, a comunidade académica mantém reservas. O principal ponto de discórdia reside na logística envolvida: transportar corpos até câmaras de acesso difícil exigiria planeamento e colaboração, aspectos que parte dos especialistas considera improváveis para um hominídeo com características cranianas tão modestas.

Além disso, a ausência de ferramentas de escavação ou objectos associados aos sepultamentos continua a alimentar o ceticismo. Para os críticos, essas lacunas impedem a confirmação definitiva de um comportamento funerário.

Impacto no estudo da origem dos rituais funerários

Se a tese for validada, os enterros atribuídos ao Homo naledi colocariam a prática de sepultar mortos fora do Homo sapiens e dos neandertais, recuando a emergência desse comportamento na árvore evolutiva. Isto obrigaria a rever modelos que associam rituais simbólicos exclusivamente a espécies com cérebros maiores.

O debate deverá prosseguir à medida que novas campanhas de escavação, análises geológicas e estudos comparativos procurem comprovar — ou refutar — a intencionalidade das deposições descritas. Por agora, a versão revista do trabalho torna a hipótese mais robusta, mas não encerra a discussão.

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